Morreu Jim Stewart, o co-fundador da mítica Stax Records

O responsável pela editora de Otis Redding, The Staple Singers e Carla Thomas tinha 92 anos.

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Jim Stewart com a irmã e co-fundadora da Stax, Estelle Axton Charlie Gillett Collection/Redferns/getty images

Entre o final da década de 1950 e o início da década de 1970, Jim Stewart esteve à frente da Stax Records, a mítica editora norte-americana que primeiro se chamou Satellite Records. Ao longo desses frutíferos anos, o selo de Memphis, no Tennessee, que Stewart detinha em parceria com a irmã, Estelle Axton (Stewart deu à Stax o “St” do seu apelido; Axton o “ax”, vindo do marido), ofereceu ao mundo uma enorme quantidade de música intemporal. E muita dela se deveu ao produtor, engenheiro de som e executivo que morreu esta segunda-feira, aos 92 anos. Fazia, desde 2002, parte do Rock & Roll Hall of Fame.

Do catálogo da Stax (ou da Volt, o seu selo-irmão), uma editora integrada que nasceu num Sul dos Estados Unidos ainda a transbordar segregação racial, fizeram parte nomes como The Staple Singers, Rufus Thomas e a sua filha Carla, Sam & Dave, Booker T. and the M.G.’s, Wendy Rene, Eddie Floyd, William Bell, The Bar-Kays, Isaac Hayes, The Emotions, Wilson Pickett. E o vulto que foi Otis Redding.

Ao longo da sua história, a editora de Stewart (primeiro gerida a meias com Estelle e, após a morte de Redding e o afastamento dela, com Al Bell, que tomou as rédeas do selo na viragem dos anos 1960 e 70) lançou inúmeras canções e instrumentais. Em 1975, declarou insolvência e fechou portas, passando só a gerir o catálogo acumulado, e já sem Stewart, que saiu de cena nessa altura. Sob a chancela da Concord, a Stax retomou a edição de música nova em 2006.

Som próprio e ultradançável

Natural de Middleton, também no Tennessee, Stewart cresceu numa quinta e mudou-se para Memphis após acabar o liceu. Tocava violino em bandas country e foi para editar esse género musical, mas também rockabilly, pop e outros sons, que a Satellite Records foi fundada. Entretanto, porém, o produtor Chips Moman, famoso pelo seu trabalho com Elvis Presley, apresentou-lhe o r&b, e, mesmo mantendo a toada country, a editora encontrou então um novo rumo.

Foi essa viragem que transformou a Stax, especialmente na segunda metade da década de 1960, num dos mais importantes e entusiasmantes selos do r&b e da soul, com um som próprio e ultradançável, cortesia da banda da casa, os Booker T. and the M.G.’s, que gravavam canções escritas pelos compositores residentes para vários artistas.

A Stax (ou a Volt) editou clássicos como Knock on wood, Respect yourself, Green onions, (Sittin’ on) The dock of the bay, entre outros temas que ainda hoje incendiam pistas, geram samples e fazem as pessoas felizes, quando deparam com eles na rádio ou lhes surgem por sugestão de um algoritmo.

O edifício onde em tempos funcionaram os estúdios e escritórios da editora, um antigo cinema numa zona chamada Soulsville, USA, que também era casa da Hi Records, é desde 2003 um museu chamado Stax Museum of American Soul Music. Homem discreto, Stewart não foi sequer à cerimónia do Rock & Roll Hall of Fame em que foi homenageado.

A notícia da sua morte foi dada no Facebook pelo músico, compositor e produtor David Porter, co-autor, com Isaac Hayes, de Hold on, Im coming, que viria a ser um êxito de Sam & Dave. No post, em que se vê um autocarro do Stax Museum estampado com uma fotografia sua, David Porter sublinha que deve a Jim Stewart a pessoa em que se tornou: “Nunca a fotografia de um miúdo pobre de um bairro social de Memphis figuraria num autocarro a circular pelas ruas de Memphis, se não fosse este homem.”

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