Chips Moman, produtor de Elvis Presley, morre aos 79 anos

Autor de clássicos do soul e vencedor de um Grammy pelo seu trabalho na música country morreu segunda-feira na Georgia.

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O álbum From Elvis in Memphis, lançado em 1969

Lincoln “Chips” Moman, produtor de um dos mais aclamados álbuns de Elvis Presley no final dos anos 60, morreu esta segunda-feira, num hospício, em La Grange, Georgia, aos 79 anos, depois de uma longa batalha com enfisema pulmonar, disse Donny Turner, uma amiga de família à agência britânica Press Association.

Chips Moman desenvolveu uma frutífera colaboração com Elvis Presley que o tornou um dos produtores mais lendários do seu tempo. O rei do rock, que já não tinha um álbum de sucesso desde 1965, incumbiu a Moman a tarefa de revitalizar a sua carreira através de um novo som. O objectivo foi cumprido e o produtor ajudou Elvis a resgatar as suas raízes de country e blues e a compor um álbum que reflectiu, por um lado, a sua identidade musical de sempre e, por outro, mostrou que estava a par do seu tempo.

O álbum From Elvis in Memphis, lançado em 1969, recebeu algumas das melhores críticas da sua carreira e incluiu os singles Kentucky RainIn the Ghetto Suspicious Minds, este último uma referência da sua discografia. O The Daily Telegraph, em 2009, classificou-o como "o pináculo da glória de um regresso de Elvis Presley a meio de carreira". Chips Moman produziu, também, From Memphis to Vegas/From Vegas to Memphis, um conjunto de sessões ao vivo e em estúdio. Numa conferência de imprensa após as sessões, Elvis disse: "Temos alguns hits, não temos, Chips?", ao que Chips respondeu, "Talvez alguns dos teus maiores hits de sempre".

A canção In the Ghetto, produzida em 1969 e composta por Mac Davis, revelou-se um êxito devido à letra que tocava questões sociais e ao momentum criado pelo concerto de regresso de Elvis, dando-lhe a primeira canção no Top 10 em 4 anos. 

Chips Moman foi, também, autor de alguns dos mais importantes clássicos do soul e escreveu, com Dan Penn, Dark End Of The Street, de James Carr, e Do Right Woman, Do Right Man, de Aretha Franklin. Além disso, tocou guitarra na primeira faixa de sucesso de Franklin, I Never Loved A Man (The Way I Love You).

O produtor começou a desenhar o seu percurso ainda adolescente, viajando à boleia da Georgia para Memphis, onde foi ouvido a tocar guitarra por Warren Smith, artista da Sun Records. Rapidamente se integrou nas bandas de digressão de Johnny Burnett e Gene Vincent e mudou-se, depois, para Los Angeles, onde trabalhou como guitarrista de estúdio e ganhou interesse por produção musical.

Chips Moman regressou a Memphis para trabalhar como engenheiro de som na Satellite Records, editora que se transformaria na mais bem-sucedida Stax Records durante os anos 50. Produziu aí o primeiro hit da editora, Gee Whiz (Look At His Eyes), de Carla Thomas.

Moman deixou a Stax em 1962 para fundar a sua própria editora, American Sound Studio, e criou a banda de estúdio Memphis Boys. A sua editora ajudou a produzir sucessos de artistas como Gentrys, BJ Thomas e Neil Diamond. Entre 1967 e 1971, o American Sound Studio colocou mais de 120 hits nas tabelas e, durante uma semana, chegou a deter um quarto dos hits da tabela da Billboard Hot 100.

Chips Moman deixou Memphis em 1972 e continuou o seu percurso em Nashville como compositor e produtor de artistas country como Willie Nelson e Merle Haggard. Moman convenceu Nelson a gravar uma cover de You Were Always On My Mind, que lhe valeu um Grammy por Melhor Actuação Vocal.

Em 1976, Moman ganhou um Grammy pela música (Hey Won’t You Play) Another Somebody Done Somebody Wrong Song, de BJ Thomas, e escreveu Luckenbach, Texas, o segundo single platina da música country, gravado por Waylon Jennings.

Tido como o “quinto Highway man”, produziu, em 1985, a primeira gravação do colectivo de estrelas country The Highway Men, composto por Jennings, Nelson, Kris Kristofferson e Johnny Cash. Nesse ano, voltou brevemente para Memphis com um incentivo do mayor, que pretendia recuperar a reputação de Memphis como cidade da música, o que resultou nas sessões Class of’55, com Jerry Lee Lewis, Johnny Cash, Carl Perkins e Roy Orbison. Contudo, um desafortunado álbum de Ringo Starr que nunca chegou a ser lançado levou a que regressasse a Nashville, onde se estabeleceu durante mais uma década antes de voltar à sua cidade natal, La Grange, na década de 90.

Mickey Raphael, membro da banda de Willie Nelson, recorda à Rolling Stone Country que o produtor “sabia gerir todos os aspectos do processo de gravação, mas deixava as canções e os músicos ditar o que as sessões iriam produzir”. Chips Moman foi convidado para o Georgia Hall Music Fame em 1990 e para o Memphis Music Hall of Fame em 2014.

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