“Onda republicana” não varreu os EUA e o controlo do Congresso vai ser disputado voto a voto

Partido Republicano deve conquistar maioria da Câmara dos Representantes nas eleições intercalares, mas os democratas ainda sonham em mantê-la, assim como o Senado. Resultados finais vão demorar.

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Ainda há milhões de votos por contabilizar Reuters/MARY F. CALVERT
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A senadora republicana Lisa Murkowski com apoiantes em Anchorage, Alasca REUTERS/Kerry Tasker
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John Fetterman venceu o famoso médico Dr. Oz (Mehmet Oz) e deu aos democratas um lugar na Pensilvânia que pertencia aos republicanos REUTERS/Quinn Glabicki

Nem o Partido Republicano está a ter um desempenho tão avassalador como se previa nem o Partido Democrata está a ter uma noite eleitoral tão desastrosa como se esperava. São estas as principais conclusões a retirar, por esta altura, dos resultados declarados e das previsões dos media sobre as eleições intercalares nos Estados Unidos de terça-feira, onde se luta pelo controlo do Senado e da Câmara dos Representantes e onde também se disputam cargos de governadores e de outros dirigentes estaduais e locais.

Numa altura em que ainda há milhões de votos por contabilizar — no Alasca, por exemplo, as urnas só fecharam às 6h desta quarta-feira em Portugal continental — e tendo em conta as diferentes leis e métodos de contagem entre os 50 estados norte-americanos e o facto de as principais corridas nas duas câmaras do Congresso ainda estarem demasiado renhidas para serem declarados os vencedores, parece ser cada vez mais certo que os resultados finais ainda vão demorar algumas horas (ou até dias) a ser confirmados.

“Não é definitivamente uma onda republicana, isso é certo”, assumiu, no entanto, o senador republicano Lindsey Graham, em declarações à MSNBC.

“Ainda que haja muitas corridas demasiado próximas para se declarar [o resultado], é evidente que os membros da câmara e os candidatos democratas estão a superar firmemente as expectativas em todo o país”, reagiu, por sua vez, Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, num comunicado.

Ainda assim, a expectativa continua a ser a de que o Partido Republicano seja capaz de reconquistar a Câmara dos Representantes, que é actualmente de maioria democrata. A contagem do New York Times atribui, neste momento, 197 congressistas ao GOP (Grand Old Party) e 172 aos democratas. A maioria atinge-se com pelo menos 218 membros.

Quanto ao Senado, onde apenas um terço dos lugares foi a votos nesta eleição, ainda é cedo para tirar grandes conclusões, uma vez que as corridas em estados como a Georgia, o Arizona ou o Nevada estão muito equilibradas. Ainda assim, é possível que os democratas consigam mesmo manter a maioria.

O jornal nova-iorquino atribui, por esta hora, 48 senadores aos democratas e 47 aos republicanos — a câmara alta tem cem membros. O principal destaque vai para a vitória de John Fetterman, que venceu o famoso médico e apresentador de televisão Dr. Oz (Mehmet Oz), e que deu aos democratas um lugar na Pensilvânia que pertencia aos republicanos.

Actualmente, tanto o Partido Democrata como o Partido Republicano têm 50 senadores. Mas os democratas têm vantagem, uma vez que o voto da vice-presidente, Kamala Harris, serve de desempate.

Ron DeSantis reeleito na Florida

No que toca às eleições para os cargos de governadores, destaca-se a reeleição de Ron DeSantis — visto com um potencial candidato republicano nas presidenciais de 2024 —, na Florida, a vitória de Brian Kemp, também republicano, contra a democrata Stacy Abrams, na Georgia, ou os triunfos dos democratas Josh Shapiro (Pensilvânia), Gretchen Whitmer (Michigan) e Tony Evers (Wisconsin).

A jornada eleitoral norte-americana inclui ainda referendos em 37 estados, que versam sobre temas tão díspares como a legalização do uso recreativo da cannabis ou leis relacionadas com a interrupção voluntária da gravidez.

Estas eleições são o primeiro grande teste eleitoral desde a vitória de Joe Biden nas presidenciais de 2020 e da invasão do Capitólio, por apoiantes de Donald Trump, em 2021, dias antes da tomada de posse de Biden.

Tradicionalmente, as midterms são um barómetro de avaliação dos primeiros dois anos de mandato do Presidente e da capacidade de mobilização do partido na oposição para a eleição presidencial seguinte. No caso concreto destas eleições, existe uma enorme expectativa para se perceber se, à luz dos resultados finais, Trump vai mesmo avançar para uma recandidatura.

Os norte-americanos deslocaram-se às urnas num dos períodos mais polarizados e divisivos de que há memória nos Estados Unidos, com episódios cada vez mais comuns de violência política.

Prova dessa divisão é o facto de mais de metade dos candidatos republicanos nestas eleições questionar publicamente a vitória de Biden em 2020 ou até defender que a presidência foi “roubada” — apesar de os mais de 50 processos judiciais movidos pela equipa de Trump terem sido todos chumbados em tribunal.

Durante a campanha, Joe Biden defendeu mesmo que é a democracia norte-americana que está em causa nestas eleições.

A conquista republicana do Congresso poderá ter como consequência o desmantelamento da comissão de inquérito que está a investigar o ataque ao Capitólio ou a criação de outras comissões potencialmente embaraçosas para os democratas, nomeadamente sobre a retirada do Afeganistão ou os negócios de Hunter Biden (filho do Presidente).

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