G7 quer acabar com o carvão (mas não diz quando) e proteger áreas marinhas

Após três dias de reuniões em Berlim e em tempo de guerra, o G7 tentou encontrar soluções para a crise energética. Afirma também que quer conservar ou proteger 30% das suas áreas marinhas e ter um sector rodoviário altamente descarbonizado até 2030.

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EPA/FRIEDEMANN VOGEL

Os países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) concordaram, esta sexta-feira, em acabar, gradualmente, com o recurso ao carvão, embora não tenham definido uma data para esse objectivo ser cumprido. Sublinharam, também, que a crise energética motivada pela guerra na Ucrânia não deve inviabilizar esforços para combater as mudanças climáticas.

Eis o que se pode ler num comunicado emitido após três dias de reuniões do G7 em Berlim. É um comunicado com objectivos menos ambiciosos do que aqueles que integravam uma versão anterior do texto, a que a Reuters teve acesso e que incluía a meta de acabar com a produção “ininterrupta” de energia a carvão até 2030. Fontes revelaram à agência de notícias que tanto o Japão como os Estados Unidos afirmaram que não eram capazes de apoiar essa data.

De qualquer forma, este continua a ser o primeiro compromisso por parte dos países do G7 para acabar com o recurso ao carvão, que é o combustível fóssil que mais dióxido de carbono (CO2) emite — e que tem de ser substituído por alternativas energéticas mais ecológicas se o mundo quiser evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

O G7 reuniu-se numa altura em que, devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, os custos da energia estão a disparar e estão também a crescer as preocupações relacionadas com o fornecimento de combustível. Alguns países estão a queimar carvão de modo a reduzir a sua dependência de suprimentos russos.

“Substituir os combustíveis fósseis provenientes da Rússia tem dominado o debate público ao longo dos últimos meses, mas também tem de ser claro para todos nós que os desafios da nossa geração política, como o aquecimento global, não desaparecerão se nos concentramos unicamente no presente”, salientou, numa conferência de imprensa organizada após as reuniões do G7, Robert Habeck, ministro alemão da Economia e da Protecção Climática (e, também, vice-chanceler).

Proteger 30% das áreas marinhas até 2030

Os países do G7 concordaram em descarbonizar amplamente os seus sectores energéticos até 2035. E, excepto em “circunstâncias limitadas”, comprometem-se, até ao final deste ano, a cortar com o financiamento público para projectos de combustíveis fósseis “ininterruptos” no estrangeiro. Ininterruptos” refere-se a unidades que não usam tecnologia para sequestrar ou conter as suas emissões.

O G7 assume um compromisso com um sector rodoviário altamente descarbonizado até 2030, querendo aumentar significativamente a venda de veículos com emissões zero. Pretende também, a partir do próximo ano, começar a relatar publicamente sobre como os países estão a cumprir um compromisso anterior de acabar com os subsídios “ineficientes” aos combustíveis fósseis até 2025.

No comunicado, refere-se ainda que cada país do G7 deseja aumentar os esforços nacionais para conservar ou proteger 30% das suas áreas costeiras e marinhas até 2030. É, igualmente, destacada, a necessidade de se apoiar o plano da Organização das Nações Unidas para proteger a vida marinha com um financiamento mais robusto.

Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido também se comprometem a tomar acções ambiciosas contra a poluição plástica. E dizem estar prontos para cooperar com a Ucrânia numa reconstrução verde da economia desse país.

Envolvimento do Japão nas metas do carvão é importante

Na COP26, que decorreu em Glasgow em Novembro do ano passado, vários países comprometeram-se a colocar um fim ao uso do carvão até 2030 (os mais ricos) ou 2040 (os mais pobres). Nações como a China, o Japão e a Coreia do Sul não assinaram esse acordo, contudo.

O facto de agora o Japão, um dos principais investidores mundiais em carvão, se comprometer a acabar com o recurso ao carvão é, portanto, relevante. Se o Japão implementar este compromisso com integridade, transferirá dos combustíveis fósseis para as energias limpas mais de 10 mil milhões de euros por ano. Isso terá um impacto tremendo, referiu, uma vez conhecido o compromisso assumido pelo G7, Susanne Wong, da Oil Change International, organização que, pode ler-se no seu site, visa “expor os verdadeiros custos dos combustíveis fósseis e facilitar a transição energética”.

Ao abranger todos os combustíveis fósseis, incluindo o petróleo e o gás natural, o acordo do G7 para cortar com o financiamento a projectos internacionais de combustíveis fósseis vai além da promessa feita no ano passado pelos países do G20 de interromper o financiamento externo apenas para carvão.

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