Acolher refugiados na escola

Somos capazes de resolver, com igual agilidade em tempo, recursos e concordância, muitos outros dos problemas da educação, se tivermos o mesmo sentido de urgência e convergência de meios para o fazermos.

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PAULO PIMENTA/Arquivo

A guerra na Ucrânia está longe de terminar e os refugiados que já chegaram a Portugal e outros que ainda possam vir, estão a ser integrados da melhor maneira que sabemos, podemos e conhecemos. É claro que há sempre quem pense em tirar vantagem da situação frágil em que o outro se encontra, mas essa não é a regra. São imensas as instituições que estão a prestar apoio e auxílio e igualmente grande é o número de particulares que o estão a fazer, acolhendo pessoas e até mesmo famílias em suas casas, fazendo a ponte com as juntas de freguesia e outros organismos oficiais.

É fantástica a capacidade de fazer a vida andar para a frente do povo ucraniano. Temos visto, na comunicação social, alguns exemplos desta capacidade de resiliência e resistência, em situações e áreas diversas. As aulas presenciais nas galerias subterrâneas do metro são uma mostra da vontade de prolongar a normalidade da vida às crianças que vivem nesses espaços. Para os que estão refugiados noutros países, como por exemplo em Portugal, as aulas online da rede de escolas ucranianas é uma realidade, tendo a escola receptora de articular horários e proporcionar a disciplina de Português Língua Não Materna. Esta medida tem pelo menos uma leitura logo imediata, e que é a previsão de permanência temporária nos países de acolhimento.

Ninguém sabe dizer se a estadia vai ser longa ou curta, mas temporária e não definitiva, é este o enquadramento, daí continuar o ensino ucraniano mesmo à distância. As aulas online, que se generalizaram em quase todo o mundo por altura da primeira fase da pandemia, continuam a funcionar quando assim é necessário, o que é o caso na situação que a Ucrânia vive. A pandemia parece continuar em força para os ucranianos. E que peste os assolou!

Se do ponto de vista económico, o acolhimento de refugiados e imigrantes pode ter vantagens, sob a perspectiva da educação contribui para a realidade multicultural da globalização que em fase de formação da personalidade é importante para a consciencialização, respeito e aceitação do que é diferente como um bem a preservar. As experiências do que é diferente de nós e do nosso meio ambiente levam-nos a tomar consciência de que existem outras maneiras válidas de ver a vida e que em circunstâncias adversas somos capazes de decisões e atitudes que habitualmente dizemos, ‘não, eu nunca farei…’.

Este tipo de experiências leva-nos a aceitar a diferença, a senti-la como mais um braço que nos ajuda a ser capaz de ir mais além, que contribui para nos ajudar a preservar a paz no agora e no futuro. É como se a nossa educação se tornasse um pouco mais internacional e global. Ajuda a tornar o sistema mais ágil na resposta e a contemplar situações de entrega, que longe de serem perfeitas, são eficazes para o problema actual. A capacidade de resposta rápida, ou pelo menos em tempo útil, mostra que estamos à altura de desafios impactantes e que conseguimos acomodar e incluir necessidades especiais de uma ordem diferente. Na realidade, necessidades especiais todos temos e a maior é mesmo sermos considerados na nossa especificidade e não como mais um entre todos. Este pensamento leva-me a expressar que somos capazes de resolver, com igual agilidade em tempo, recursos e concordância, muitos outros dos problemas da educação, se tivermos o mesmo sentido de urgência e convergência de meios para o fazermos.

Outro aspecto importante é o desenvolvimento da empatia e a capacidade de em alguma altura nos colocarmos no lugar do outro e tomar decisões que vão ao encontro da sua estabilidade e equilíbrio, continuidade de desenvolvimento e bem-estar. Cuidar de quem precisa, cria em nós o bom hábito de observação e escuta do outro e das suas necessidades Comunidades que se cuidam desenvolvem a humanidade.

A valorização do modo como vivemos e nos organizamos, e das relações que estabelecemos com os outros, ou seja, reconhecer como um bem o nosso Estado de Direito e a nossa democracia, a visão de paz e a capacidade de prevenir e resolver conflitos para a sua manutenção são uma outra perspectiva positiva a observar. Estas são conquistas que se constroem na educação, todos os dias, desde cedo.

Apesar de ainda termos tanto para fazer, resolver e mudar, vamos dar valor ao que temos e somos.

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