Pacheco de Amorim e Cotrim de Figueiredo falham eleição para a vice-presidência da AR

Ideólogo do Chega é substituído na segunda eleição pelo autor da remodelação do programa do partido, Gabriel Mithá Ribeiro. Mas a IL não apresenta novo candidato: “É a democracia a funcionar.”

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Diogo Pacheco de Amorim foi o nome apontado por André Ventura para candidato a vice-presidente da AR Nuno Ferreira Santos

Como esperado, o deputado do Chega Diogo Pacheco de Amorim foi chumbado para o cargo de vice-presidente da Assembleia da República. A surpresa da tarde foi a rejeição também do liberal João Cotrim de Figueiredo. Votaram 224 dos 230 deputados e Diogo Pacheco de Amorim teve apenas 35 votos a favor dos 116 votos necessários, teve 183 brancos e seis nulos. Já João Cotrim de Figueiredo obteve 108 votos a favor, 110 brancos e seis nulos.

Os restantes dois candidatos à segunda cadeira mais alta do Parlamento foram aprovados: Edite Estrela, indicada pelo PS, teve 159 votos a favor, 59 brancos e seis nulos; e Adão Silva, pelo PSD, o único que recebeu uma salva de palmas quando foi anunciado que obtivera 190 votos a favor, 28 brancos e seis nulos.

O líder do Chega, André Ventura lamentou a decisão da maioria dos deputados e disse ser “um dia menos bom para a democracia e para o espírito da Constituição e do regimento”. Argumentando que “a representatividade parlamentar deve ter o equivalente nas vice-presidências” da Mesa, Ventura apontou como candidato para uma nova votação o deputado Gabriel Mithá Ribeiro, coordenador do gabinete de estudos e vice-presidente do partido e autor da remodelação do programa aprovada no ano passado.

Este nome alternativo tinha sido indicado logo em meados de Fevereiro por André Ventura quando anunciou que o primeiro candidato seria Diogo Pacheco de Amorim e admitiu que poderia não ser eleito tendo em conta que vários partidos se manifestavam contra.

Poucos minutos antes de se conhecerem os resultados, o líder parlamentar do Bloco escrevia no Twitter: “Os votos do BE, como é óbvio, não servirão para eleger membros da extrema-direita para a Mesa da Assembleia da República.”

Pelo contrário, a Iniciativa Liberal decidiu não voltar a candidatar nem Cotrim nem qualquer outro deputado da bancada “É a democracia a funcionar, respeitamos”, afirmou o líder da bancada, lamentando que o plenário “não tenha reconhecido o trabalho” do deputado único na legislatura anterior, o facto de nunca ter faltado, e o mérito para assumir as funções de vice-presidente.

"Desistir seria deixar as nossas ideias pelo cargo”, diz Cotrim sobre não se recandidatar

Já durante a nova tentativa de eleição de um vice-presidente do Chega, João Cotrim de Figueiredo foi aos Passos Perdidos para desvalorizar a importância do cargo e dizer que nos últimos dias teve “sinais de que não seria eleito” – “sabemos ler o ambiente político”, justificou quando questionado sobre que sinais e de quem – mas deixou alguns recados ao PS e ao PSD.

“Se olharem para a Mesa vêem que os membros pertencem todos a dois partidos [PS e PSD]: isso reflecte a realidade do país? Estão a querer segurar-se a um mundo que já não existe e nós, IL, estamos a corporizar essa mudança.” Garantiu que não houve qualquer acordo prévio com outros partidos e respondeu não saber se foi o PSD que castigou a IL.

Cotrim recusou a ideia de que não se recandidatar possa ser visto como uma desistência. “Desistir era deixar de defender ideias liberais ou deixar de ter essas ideias para ocupar o cargo”, argumentou, mas admitiu que se tratou de uma “derrota pessoal” por ter feito, nos últimos dois anos, um “trabalho parlamentar positivo cuja qualidade parece não ter sido reconhecida”. Questionado sobre a possibilidade de voltar a candidatar-se dentro de algum tempo – a eleição pode acontecer em qualquer altura da legislatura –, Cotrim admitiu que sim, mas vincou que “um cargo institucional não contribui directamente para o sucesso do projecto liberal”.

O regimento estipula que os quatro partidos mais votados devem indicar um nome para a vice-presidência mas este tem que ser submetido a sufrágio e precisa da maioria absoluta dos votos para ser eleito – regra contra a qual Ventura se tem insurgido alegando que se se trata de uma indicação, então não deveria requerer um sufrágio. Em caso de não eleição, a Mesa poderia sempre funcionar com o quórum mínimo de metade dos seus membros. Em 1995, o centrista Nuno Kruz Abecasis falhou a eleição e só conseguiu ser eleito para o lugar três anos depois.​

Para secretários da Mesa foram eleitos Maria da Luz Rosinha e Palmira Maciel pelo PS, Duarte Pacheco e Lina Lopes pelo PSD. E os vice-secretários serão Diogo Leão, Joana Sá Pereira e Tiago Estevão Martins pelo PS, e Helga Correia pelo PSD.

Para o conselho de administração foram aprovadas as listas propostas com 203 votos a favor, 15 brancos e seis nulos: Eurídice Pereira (PS), José Silvano (PSD), André Ventura (Chega), Carla Castro (IL), João Dias (PCP) e Joana Mortágua (BE) como elementos efectivos. E os suplentes Pedro do Carmo (PS), Hugo Carneiro (PSD), Pedro Frazão (Chega), Joana Cordeiro (IL), Diana Ferreira (PCP) e Pedro Filipe Soares (BE).

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