Contra “conspirações”, Ventura lança Pacheco de Amorim para “vice” da AR

Presidente do Chega avisa que “seria um mau começo de legislatura e daria uma imagem de boicote, tirania e desrespeito” os partidos unirem-se na AR para chumbarem a eleição do deputado. Ao contrário da IL, partido não terá lugar de secretário na mesa.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

André Ventura escolheu o deputado Diogo Pacheco de Amorim, eleito no domingo pelo círculo do Porto, para ser o vice-presidente da Assembleia da República pelo Chega. Em conferência de imprensa, o líder do partido descreveu longamente o percurso político de Pacheco de Amorim, que foi longos anos assessor do CDS-PP, nomeadamente de Freitas do Amaral, José Ribeiro e Castro e Manuel Monteiro.

Tendo em conta que alguns partidos já admitiram que votarão contra qualquer nome apresentado pelo Chega, nomeadamente o PCP, André Ventura considera que “seria um mau começo de legislatura, daria uma imagem de boicote, tirania e desrespeito pelos eleitores”.

O PS ignorou entretanto o facto de o Chega ser o terceiro partido mais votado e disponibilizou um dos seus lugares de secretário da mesa à Iniciativa Liberal, tal como em legislaturas anteriores fez com o BE e o PCP — só os partidos com mais de um décimo dos deputados têm direito a indicar nomes para tais funções.

O líder do Chega defendeu o currículo de Pacheco de Amorim, licenciado em Filosofia, “dirigente de vários movimentos e partidos [politicamente] conservadores e liberais na economia”. Acrescentou que “tem provas dadas na sua vida, no seu percurso profissional e político, de presença democrática, de presença no Portugal democrático, e em vários partidos de natureza absolutamente democrática”, e defendeu que a sua eleição “prestigiará a democracia e o Parlamento”. “Não me passa pela cabeça, nem aos dirigentes do Chega, que possa haver qualquer conspiração ou organização da AR para não ser aprovado”, vincou André Ventura.

Aos 72 anos, Pacheco de Amorim será um dos mais velhos deputados da Assembleia da República. Já ocupou o lugar de André Ventura durante um mês quando este pediu a suspensão de mandato para se candidatar à Presidência da República, em Janeiro do ano passado. “O percurso do Diogo Pacheco de Amorim, quer no Parlamento, quer fora dele, tem sido uma presença construtiva, dialogante e muitas vezes de ser capaz de estabelecer pontes entre os opostos”, insistiu ainda Ventura.

André Ventura admitiu ao PÚBLICO que o primeiro deputado que indicar para a vice-presidência da Assembleia da República possa falhar a eleição, mas acredita que deverá conseguir eleger pelo menos o segundo ou o terceiro. “Acho que vai imperar algum bom senso e que não nos irão dar argumentos para nos queixarmos”, afirmou o líder do Chega.

Se para os partidos mais à esquerda já é difícil admitir que um deputado do Chega ocupe um cargo institucional como o de vice-presidente do Parlamento, mais ainda será se se tratar de alguém com um passado associado ao Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP) que promoveu dezenas de atentados bombistas e assaltos a organizações e partidos de esquerda nos anos do PREC – de que as vítimas mais famosas foram o padre Max e a estudante Maria de Lurdes, em Vila Real.

O segundo nome alternativo, que deverá ser proposto depois do previsível chumbo de Pacheco do Amorim, é o de Gabriel Mithá Ribeiro, que foi eleito como cabeça de lista por Leiria. É o coordenador do gabinete de estudos e vice-presidente do Chega e foi também quem refez o programa do partido.

O Regimento da Assembleia da República prevê que os quatro maiores grupos parlamentares – que nesta nova configuração são o PS, PSD, Chega e IL – proponham um nome para ocupar os lugares de vice-presidentes do Parlamento, mas têm depois que ser sujeitos a escrutínio e que obter maioria absoluta dos votos dos deputados em funções. Embora não tenha o apoio do PCP e do Bloco, basta a Diogo Pacheco de Amorim conseguir esses 116 votos nas bancadas socialista e social-democrata para poder ser eleito terceiro vice-presidente da AR.

O voto é em urna e, por isso, mesmo que haja indicação de sentido de voto das direcções das bancadas, não é possível perceber quem o segue. Pelo que o PÚBLICO apurou, na bancada socialista há duas correntes: uma que considera que se deve votar contra, e outra que defende que barrar o caminho a um lugar institucional que o Regimento da Assembleia da República claramente concede ao Chega é dar argumentos a André Ventura para se vitimizar na praça pública.

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