Projecto de literacia do mar “Todo O Peixe É Nobre” chegou ao fim

Durante 11 meses, o PÚBLICO, com o apoio do programa Crescimento Azul, levou a cabo uma série de trabalhos apostados em promover e valorizar os recursos piscícolas nacionais – e em promover um consumo mais sustentável de pescado.

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A tripulação do Mestre Manso faz a escolha do peixe apanhado (Sesimbra) Jose Fernandes
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Alexandre Silva, detentor de uma estrela Michelin, é um frequentador assíduo da lota de Peniche Daniel Rocha
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Na Nazaré, mantém-se a tradição de secar peixe ao sol Daniel Rocha
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Cláudia Martins retira do Sado um choco, diante da Comporta Daniel Rocha
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Pescador exibe um siluro apanhado no rio Pônsul, afluente do Tejo, no concelho de Castelo Branco Ana Brigida

“Sem actuarmos ao nível da educação dos consumidores e – acima de tudo – junto dos líderes de opinião na área da gastronomia, os chefes de cozinha, continuaremos a caminhar num processo de destruição galopante dos recursos piscícolas.” O alerta do jornalista Edgardo Pacheco, especialista em questões da alimentação, foi dado em Março de 2021, em jeito de tiro de partida para o projecto Todo O Peixe É Nobre.

Desde então, Edgardo Pacheco andou por lotas, cozinhas, mercados, traineiras e uma ou outra mesa de café, em vários pontos do país, para juntar os vários pontos da cadeia de valor do pescado – pescadores, peixeiros, chefs, académicos, nutricionistas e outros –, na tentativa de desenhar uma narrativa que permita compreender a riqueza do mar português – e a melhor forma de tirar dela proveito sem a destruir. Foi esse o propósito desta série editorial apoiada pelo programa Crescimento Azul, do mecanismo financeiro EEA Grants.

Apesar do estatuto de orgulho nacional que os portugueses conferem ao peixe – e das largas dezenas de espécies que todos os dias são descarregadas nos portos nacionais –, o consumo tende a focar-se maioritariamente sobre um cabaz muito limitado de variedades a que se convencionou chamar “peixes nobres”, e isto contribui para a sobrepesca das espécies mais valorizadas.

Abundam, contudo, as espécies com stocks em bom estado, espécies que importa conhecer melhor. O projecto Todo O Peixe É Nobre assumiu desde o início uma vertente didáctica, com a colaboração de mais de uma dezena de chefes de cozinha. Paulo Morais ajudou a descodificar o sarrajão, “o atum alternativo (e sustentável)”. Marlene Vieira, Rui Paula, Patrícia Borges e Bertílio Gomes ajudaram a demonstrar o potencial da cavala para a preparação pratos requintados – em adição aos hambúrgueres saudáveis de Tiago Bonito e Cláudio Pontes. Vieram também à conversa o xarroco, a pata-roxa, o peixe-agulha, com o chef Luís Barradas. E, de águas doces, a fataça, a carpa, o barbo e o polémico siluro, à mesa de Rodrigo Castelo.

Apesar do nome, nem só de peixe viveu este projecto. A atenção focou-se também noutras matérias-primas que importa trazer para o prato, como as algas e os bivalves, nomeadamente a amêijoa da ria Formosa e as ostras.

A par de todo este trabalho de promoção de um consumo mais sustentável, vieram também para primeiro plano as pessoas que trabalham em redor do peixe. Da tripulação do Mestre Manso, na pesca ao largo de Sesimbra, ao chef com estrela Michelin que tem “o vício de ir à lota”. Mas também os pescadores da ilha da Culatra, as peixeiras que mantêm a tradição do peixe seco na Nazaré, o “grande nómada da pesca de água doce” dos rios e barragens do interior, o mestre da grelha João Valente, timoneiro do restaurante Batareo, em Setúbal, a “embaixadora da cavala e do carapau”, que criou um selo de restauração sustentável em Peniche.

No seu todo, o projecto Todo O Peixe É Nobre – desdobrado nos formatos de reportagem, infografia, peças de informação prática, podcast e debate online – registou perto de 555 mil visitas no website do PÚBLICO, com uma média de 16 mil pageviews por artigo. Mais do que ajudar a conferir o referido estatuto de orgulho nacional, os números demonstram que há interesse em aumentar o conhecimento – e rever padrões de consumo, dando crédito à afirmação do jornalista Edgardo Pacheco no arranque do projecto: “Uma comunidade informada come melhor.”

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