Ayuso vai entregar à Justiça espanhola toda a documentação sobre o contrato público que envolve o irmão

Presidente da Comunidade de Madrid diz que lhe “roubaram a presunção de inocência” e não desarma no braço-de-ferro com Casado: “A situação no PP é insustentável”.

Foto
Isabel Díaz Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid Javier Lizon/EPA

Isabel Díaz Ayuso anunciou nesta segunda-feira que vai entregar ao Ministério Público toda a documentação que tem sobre o contrato público celebrado durante a pandemia entre a Comunidade de Madrid, a que preside, e uma empresa que tem relações com o seu irmão. O caso está no centro da “guerra civil” do Partido Popular (PP) e Ayuso garante que está disposta a ir até às últimas consequências no braço-de-ferro com Pablo Casado, líder do partido conservador espanhol.

“Se tem de haver demissões ou não no PP, isso ver-se-á nos próximos dias. Mas causar este prejuízo não pode sair grátis; terem-me roubado a presunção de inocência ao fim de 18 anos de casa, e que a minha família receba este tratamento, que os persigam com câmaras, que até tenham envolvido a minha mãe… Isto é gravíssimo”, criticou a presidente da Comunidade de Madrid, durante a inauguração de uma biblioteca em Boadilla del Monte.

“Não posso olhar para o lado e pretender que está tudo na mesma. Alguém terá de assumir responsabilidades”, atirou, citada pelo El País.

Em causa está uma investigação interna, lançada pela direcção de Casado, ao contrato atribuído pelo governo da capital espanhola a uma empresa de fornecimento de máscaras protectoras, durante a primeira vaga da pandemia de covid-19, e pelo qual Tomás Díaz Ayuso recebeu perto de 56 mil euros.

As informações sobre o contrato terão sido obtidas pela direcção do PP no âmbito de uma operação que a imprensa espanhola compara a “espionagem”, dirigida a Isabel Díaz Ayuso, e lançada poucos dias depois de a dirigente política regional ter obtido uma vitória arrebatadora nas eleições autonómicas de Maio do ano passado – que a puseram na pole position para uma corrida à sucessão de Casado.

Acusando a direcção do partido de “fabricar corrupções” contra si, Ayuso garante, porém, que tudo foi feito dentro da legalidade e mostra-se agora disposta a colaborar com a Justiça para esclarecer todas as dúvidas.

O braço-de-ferro entre Ayuso e Casado surge em plena crise política no maior partido de oposição em Espanha e que o transformou, por estes dias, num autêntico barril de pólvora.

Depois de ter forçado a antecipação das eleições regionais em Castela e Leão para o passado dia 13, confiante de que o efeito mobilizador pós-eleições autonómicas iria conduzir o PP a uma vitória expressiva, Pablo Casado viu o partido vencer pela margem mínima e ficar refém da extrema-direita, representada pelo Vox, para governar a região.

O pior é que o fracasso eleitoral em Castela e Leão, somado ao enfrentamento público muito duro entre o líder e Ayuso – Casado chegou a questionar se, mesmo que legal, seria “compreensível” fazer um contrato com um irmão, “com um ganho de 300 mil euros”, “quando morriam 700 pessoas” por dia em Espanha, por causa da pandemia –, já estão a ter efeitos devastadores para o PP nas sondagens.

O painel eleitoral da Electomania, publicado no domingo, coloca o Vox na segunda posição das intenções de voto a nível nacional. A sondagem é liderada pelo Partido Socialista (PSOE, 25,7%), que lidera a coligação de Governo com o Unidas Podemos, seguido do partido de Santiago Abascal (21,8%) e, só depois, do PP (19,9%).

Uma outra sondagem, divulgada no mesmo dia pelo Ok Diario, também dá o segundo posto ao Vox (22,1%) e o terceiro aos populares (21,7%) – é, na mesma, o PSOE, de Pedro Sánchez, que lidera o estudo (25,4%).

Na sua declaração aos jornalistas nesta segunda-feira, Ayuso referiu estas sondagens para argumentar que a situação actual do PP é crítica. Garantiu, no entanto, que não é candidata ao lugar de Casado.

“A situação é insustentável. Cada dia que passa, ficamos pior. Faz falta uma enorme mudança, para bem de Espanha. Agora abre-se um cenário incerto, que vai ter de se dirimir nos próximos dias e espero que rapidamente. Estamos a sangrar, estamos a afundar-nos nas sondagens”, lamentou a presidente da Comunidade de Madrid.

“[Mas] o meu compromisso está e estará em Madrid. Nunca quis substituí-lo [Casado], nem quero estar no seu lugar. O meu lugar é Madrid e não vou fugir às minhas responsabilidades”, assegurou.

Na véspera, Isabel Díaz Ayuso contou com milhares de apoiantes, que se manifestaram em frente à sede do PP em Madrid, exigindo a demissão de Casado e a convocação de um congresso extraordinário para eleger nova liderança.

Para além de Ayuso, Alberto Núñez Feijóo, presidente da Xunta da Galiza, é tido como um forte candidato à sucessão de Casado.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários