Um mês e meio depois das eleições, Castillo confirmado Presidente do Peru

Autoridade eleitoral põe fim à mais longa contagem no país dos últimos 40 anos. Keiko Fujimori diz que respeita decisão, mas continua a falar de fraude.

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Pedro Castillo comemora a declaração de que foi eleito Presidente do Peru Paolo Aguilar/EPA

A autoridade eleitoral do Peru declarou esta segunda-feira que Pedro Castillo, professor do ensino primário e sindicalista, foi o vencedor da segunda volta das eleições de 6 de Junho contra Keiko Fujimori, que não aceitou a derrota.

Castillo irá assim tomar posse a 28 de Julho para um mandato de cinco anos. “Peço esforço e sacrifício na luta para fazer deste um país justo e soberano”, declarou. O Presidente eleito garantiu não ter “rancor” e apelou à unidade do país. “Vamos trabalhar juntos e rejeitar qualquer coisa que vá contra a democracia, vamos rejeitar qualquer pretensão de um modelo de outro país, para garantir a estabilidade jurídica e económica”, afirmou Castillo, numa curta mensagem a partir da sede do seu partido.

O socialista de 51 anos derrotou a candidata de direita Keiko Fujimori por apenas 44 mil votos, na segunda volta das eleições presidenciais disputadas a 6 de Junho. As autoridades eleitorais puseram fim, mais de um mês depois, às dúvidas levantadas pela candidata derrotada.

“Proclamo Pedro Castillo Presidente da República e Dina Boluarte vice-presidente”, disse o responsável pela autoridade eleitoral, Jorge Salas, numa cerimónia na televisão na segunda-feira à noite. Apoiantes de Castillo comemoraram nas ruas, dizendo “sim, conseguimos!”.

Antes, Fujimori disse que reconheceria o resultado. “É o que a lei e a Constituição, que jurei defender, obrigam”, declarou, repetindo, no entanto, de seguida as acusações de fraude: “Roubaram-nos milhares de votos”, disse a filha do antigo ditador Alberto Fujimori (este está actualmente a cumprir uma pena de prisão de 25 anos por violações de direitos humanos durante o seu regime). Várias entidades, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), União Europeia, Departamento de Estado dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido declararam que as eleições no Peru foram transparentes, livres e justas.​

“Temos o direito de nos mobilizar”, disse Keiko Fujimori, “mas de um modo pacífico e no quadro da lei.” Para a candidata de direita, que tentou pela terceira vez chegar à Presidência, a derrota também pode significar um regresso à prisão. Fujimori é acusada de lavagem de dinheiro num esquema de corrupção que envolve a construtora brasileira Odebrecht e vai ser julgada em breve.

Castillo, por outro lado, pediu unidade: “Peço a Keiko Fujimori que não ponha obstáculos no caminho, para que possamos seguir em frente e fazer deste um governo para todos os peruanos”.

A origem humilde de Castillo, que ainda hoje anda a cavalo e cuja imagem de marca é o seu chapéu de aba larga, conquistou uma base de apoio no meio rural peruano, descontente com as desigualdades no país, sobretudo após a pandemia, nota a Euronews. Castillo prometeu uma reforma constitucional, mas no seu discurso desta segunda-feira prometeu respeitar a actual “enquanto o povo quiser”.

Académicos têm destacado que esta é a primeira vez que um camponês chega à Presidência do Peru. “Não há casos de alguém que não esteja ligado às elites profissionais, militares ou económicas chegar à presidência” do Peru, comentou ao Guardian a historiadora peruana Cecilia Méndez, que é professora na Universidade de Califórnia-Santa Bárbara.

Isso está a causar nervosismo nos mercados financeiros, que vêem o sindicalista como um radical de esquerda com um programa que põe em causa a iniciativa privada ou os investimentos estrangeiros no país.

Além disso, Castillo irá tomar posse num quadro de grande fragmentação parlamentar, em que os partidos de esquerda estão em minoria – o que poderá mesmo dificultar a manutenção do Presidente de esquerda no cargo. As eleições também mostraram um país profundamente dividido, com Castillo a vencer confortavelmente nos meios rurais e na selva, enquanto Fujimori foi a preferida do eleitorado de Lima.

Com os partidos de esquerda em minoria no Congresso, é possível que até a permanência de Castillo na presidência esteja em causa – os últimos três presidentes foram afastados pelo Congresso, dois dos quais em menos de uma semana, no ano passado.

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