Centrista Francisco Sagasti eleito Presidente interino pelo Congresso do Peru

Candidato centrista conseguiu uma vasta maioria no Congresso e garantiu a eleição. Peru esteve um dia sem Presidente, depois de Manuel Merino apresentar a demissão, tendo ficado apenas cinco dias no cargo que ocupou em substituição do chefe de Estado destituído Martín Vizcarra.

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Peruanos prestaram homenagem aos dois manifestantes que morreram devido à violência policial EPA/Paolo Aguilar

O Congresso peruano escolheu, esta segunda-feira, Francisco Sagasti para Presidente interino, pondo fim a um impasse que durava desde domingo, quando o chefe de Estado interino Manuel Merino apresentou a sua demissão.

Sagasti, um engenheiro industrial de 76 anos e antigo responsável do Banco Mundial, foi o escolhido pelo Partido Roxo, liberal e de centro. O novo Presidente de transição conseguiu 97 votos a favor e 26 contra.  

Antes de Sagasti ir a votos, o Congresso rejeitou a candidatura de Rocío Silva Santisteban, poetisa, deputada de esquerda e defensora dos direitos humanos.

A rejeição de Santisteban acabou por ser uma surpresa, uma vez que era apontada como uma candidata que conseguiria angariar um apoio alargado no Congresso peruano. No entanto, as 25 abstenções, aliadas aos 52 votos contra, impediram a nomeação da poetisa, que apenas consegui 42 votos a seu favor.

“O Dom Quixote Sagasti é o novo Presidente do Peru! Agora é trabalhar contra a corrupção e a crise política”, reagiu Santisteban, assim que Sagasti foi eleito. 

Antes da votação desta segunda-feira, o deputado Alberto de Belaunde, do Partido Roxo, denunciou a “imaturidade política e falta de consciência” de alguns deputados, que empurraram o país para uma crise política, e sublinhou a importância de o Peru voltar à normalidade.

“O mais importante para o Peru é recuperar a estabilidade e acabar com este pesadelo”, afirmou de Belaunde, citado pela Reuters.

A crise política no Peru adensou-se com a destituição de Martín Vizcarra na semana passada, tendo o Congresso peruano afastado o chefe de Estado devido a “incapacidade moral permanente” baseada em acusações de corrupção que envolvem a construtora brasileira Odebrecht.

Vizcarra já tinha sido alvo de um primeiro processo de impeachment em Setembro, acusado de pedir a testemunhas para mentirem num caso de corrupção e de uso indevido de dinheiros públicos, mas a destituição foi chumbada no Congresso. Dois meses depois, no entanto, Vizcarra, que nega as acusações, viria a ser afastado.

Manuel Merino, que enquanto presidente do Congresso dirigiu os dois processos de destituição, assumiu a presidência de forma interina, mas acabou por demitir-se no domingo, depois da morte de dois manifestantes que exigiam nas ruas a sua demissão; foram vítimas da violência policial. 

Além da contestação popular imediata desde que assumiu o cargo de Presidente interino, Merino enfrentou também várias demissões no Governo e o próprio Congresso fez um ultimato para que saísse.

Perante um afastamento anunciado, Merino cedeu e acabou por apresentar a demissão, o que gerou satisfação nas ruas, com milhares de peruanos a celebrarem a sua saída da presidência.

No entanto, as manifestações continuaram, embora num clima menos tenso, com os peruanos a exigirem que a restante classe política também seja responsabilizada pela crise no país. 

Esta segunda-feira, o Tribunal Constitucional do Peru começou a debater a constitucionalidade da destituição de Vizcarra, o que, no limite, poderá levar ao seu regresso ao cargo. Contudo, escreve a Reuters, não é habitual o Constitucional anular as decisões do Congresso.

A crise política causada pela destituição de Vizcarra e o impasse quanto à nomeação do seu substituto deixou o Peru na incerteza, numa altura em que o país enfrenta uma profunda recessão económica, agravada pelo impacto da pandemia – o Peru regista mais de 937 mil infecções por SARS-CoV-2 e mais de 35 mil pessoas morreram devido à covid-19.

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