Billy Porter revela ser seropositivo há 14 anos: “Não há mais estigma, vamos acabar com isso”

Na TV, vive um personagem com VIH. No cinema, será a nova fada-madrinha de Cinderela. Agora, Billy Porter revela ser portador do vírus da sida para tornar-se, talvez, fado-padrinho de todos os que vivem com a síndrome.

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O actor espera ajudar a combater o estigma que resiste contra o VIH Reuters/Mike Blake

A premiada estrela da série Pose Billy Porter anunciou, na quarta-feira, ser seropositivo, acrescentando estar saudável e sem vergonha por ter uma doença há muito estigmatizada.

Billy Porter, que já ganhou um Emmy e um Globo de Ouro pelo seu papel de apresentador seropositivo na série Pose — sobre a cena LGBTQ de Nova Iorque e disponível em Portugal via HBO Portugal e​ Netflix —, disse ter contraído o vírus em 2007 e que se sentiu livre assim que, recentemente, contou à mãe.

Estou mais saudável do que em toda a minha vida. Por isso é tempo de deixar tudo isso [do preconceito] para trás e contar uma história diferente. Não há mais estigma — vamos acabar com isso”, disse Billy Porter, de 51 anos, ao The Hollywood Reporter.

O actor fez questão de frisar ser “muito mais do que esse diagnóstico”, deixando um aviso: “Se não queres trabalhar comigo por causa disso, não és digno de mim”. No entanto, Porter assume ter tido vergonha: “Eu pertenço à geração que deveria saber tudo, e mesmo assim aconteceu (...) Tenho vivido com esta vergonha em silêncio durante 14 anos”. Um sentimento, explicou, reforçado por ter crescido no seio de uma família muito religiosa, em que a sua condição seria vista como “castigo de Deus”.

Agora, poucos dias depois da estreia da 3.ª e última temporada de Pose (em Portugal, na HBO)​, Porter diz que “é tempo de crescer e seguir em frente porque a vergonha é destrutiva — e se não for tratada, pode destruir tudo no seu caminho”.

Do medo à razão

Apesar de se terem conseguido rastrear casos até à década de 1960, o vírus da imunodeficiência humana (VIH) foi identificado no início dos anos 80 do século passado e, na altura, foi motivo de um enorme medo: não só não havia cura como as formas de transmissão ainda não estavam identificadas com clareza.

O assunto acabaria por deixar de ser tabu depois de várias celebridades terem dado o passo de informar serem seropositivas, como o basquetebolista Magic Johnson, que se tornou um porta-voz do sexo seguro e da prevenção — revelou a sua condição em 1991 e, 30 anos depois, continua à frente dessa luta através da fundação que criou para o efeito. E os activistas consideram que, ainda hoje, este tipo de abordagem é essencial para acabar com o estigma que resta. Recentemente, o ex-jogador de râguebi galês Gareth Thomas e Jonathan van Ness, estrela do programa Queer Eye da Netflix, contaram conviver com o vírus.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, desde o início da epidemia, 76 milhões de pessoas foram infectadas com o vírus VIH e cerca de 33 milhões morreram com sida. No fim de 2019, em termos globais, o mesmo organismo estimava existirem 38 milhões de seropositivos. Segundo a Organização das Nações Unidas, daqueles 38 milhões, dois terços tomam medicamentos anti-retrovirais, que impedem o vírus de evoluir para a doença e previnem a transmissão.

Além disso, as taxas de infecção baixaram consideravelmente, após a introdução da profilaxia pré-exposição (PrEP, na sigla inglesa), tida como eficaz na prevenção em 99% dos casos e que está disponível nos hospitais portugueses, desde 2019, quando o Infarmed reconheceu existir “interesse público” em utilizar o medicamento em causa.

A PrEP consiste na toma diária de um comprimido que também é utilizado em pacientes que já estão infectados com VIH e que visa reduzir as hipóteses de alguém que não está infectado, mas que está sujeito a um alto risco de infecção, poder contrair o vírus em caso de exposição ao mesmo.

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