Começou o julgamento do banqueiro que desafiou Lukashenko e enfrenta 15 anos de prisão

Acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fiscal, Viktor Babariko foi preso em Junho do ano passado após anunciar candidatura contra o Presidente bielorrusso. Oposição considera que detenção foi politicamente motivada.

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Viktor Babariko faz um coração com as mãos durante o julgamento Reuters/HANDOUT

Viktor Babariko, um antigo banqueiro preso por tentar desafiar Aleksander Lukashenko nas presidenciais na Bielorrússia do ano passado, começou a ser julgado esta quarta-feira pelo Supremo Tribunal. O opositor bielorrusso está acusado de corrupção e pode enfrentar 15 anos de prisão caso seja condenado.

Em Junho do ano passado, depois de anunciar a sua candidatura contra Lukashenko, o autocrata que governa a Bielorrússia com mão de ferro há 26 anos e recusa sair do poder, Babariko, responsável pelo banco Belgazprombank (uma filial bielorrussa da empresa de gás russa Gazprom) foi detido pelas autoridades e acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fiscal, juntamente com vários funcionários do banco.

Nas redes sociais, foram publicadas imagens do banqueiro de 57 anos no interior do tribunal, a usar uma máscara e a fazer um coração com as mãos, enquanto dezenas de apoiantes se juntavam à porta, enfrentando temperaturas negativas, para apoiar Babariko.

“As trevas, o mal e as mentiras não podem durar para sempre. O amanhecer virá iluminar a vastidão de nossa Bielorrússia”, afirmou Babariko, num comunicado divulgado pelos seus advogados, na véspera do julgamento, cuja entrada a jornalistas independentes foi barrada.

“Para muitos de nós, este ano tornou-se um ano de vitória – vitória sobre a escravidão da nossa própria alma”, acrescentou o antigo banqueiro, elogiando os manifestantes que têm contestado o regime de Lukashenko, apesar da repressão das autoridades

Nos meses que antecederam as eleições presidenciais de 9 de Agosto, vencidas por Lukashenko com 80%, mas consideradas fraudulentas pela União Europeia, Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, os analistas consideravam que Viktor Babariko tinha possibilidades de derrotar o Presidente bielorrusso, sendo considerado o seu maior adversário. Por esse motivo, a oposição bielorrussa considera que a detenção de Babariko foi politicamente motivada.

Além do antigo banqueiro, também o ex-embaixador bielorrusso nos Estados Unidos Valeri Tsepkalo e o youtuber Serguei Tikhanosvki foram impedidos de concorrer contra Lukashenko – Tspekalo fugiu para a Rússia e Tikhanosvki foi preso, aguardando julgamento.

Com as suas principais figuras impedidas de concorrer, a oposição bielorrussa uniu-se em torno de Svetlana Tikhanouskaia, mulher de Tikhanosvki, que concorreu contra Aleksander Lukashenko, contando com o apoio de Maria Kolesnikova, directora de campanha de Viktor Babariko, e de Veronika Tsepkalo, mulher do ex-embaixador bielorrusso.

Svetlana Tikhanouskaia e Veronika Tsepkalo estão exiladas na Lituânia e na Polónia, respectivamente, enquanto Maria Kolesnikova está presa desde Setembro do ano passado, tal como Maxim Znak, advogado do ex-banqueiro.

Na semana passada, Maria Kolesnikova e Maxim Znak viram as suas acusações agravadas, com as autoridades bielorrussas a consideraram que tentaram tomar o poder (ambos fazem parte do Conselho de Coordenação, um órgão criado pela oposição para a transição de poder) e podem enfrentar 12 anos de prisão.

Desde as presidenciais de Agosto, mais de 33 mil pessoas foram detidas - e muitas delas torturadas em centros de detenção - por contestarem exigirem eleições livres e justas. Apesar da condenação interna e externa, o regime continua a reprimir as vozes críticas, e na terça-feira foram feitas buscas em casas de jornalistas e activistas pela sua cobertura e participação nos protestos dos últimos meses.

Entretanto, Katsyaryna Andreyeva e Darya Chultsova, duas jornalistas da Belstat, uma televisão polaca, detidas em Novembro enquanto faziam a cobertura de uma manifestação, estão a ser julgadas por “perturbação da ordem pública” e podem enfrentar dois anos de prisão.

A União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido, que têm imposto sanções a figuras do regime, inclusive a Lukashenko, exigiram o fim da perseguição a vozes críticas e a libertação imediata de todas as pessoas detidas arbitrariamente e o respeito pela democracia e pelo Estado de direito.

Lukashenko, contudo, não dá sinais de querer ceder e na semana passada, no final de uma assembleia popular com 2700 apoiantes e sem qualquer representante da oposição, prometeu a realização de um refendo sobre reformas constitucionais no início do próximo ano.

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