Maria Kolesnikova, uma líder da oposição na Bielorrússia, detida por homens não identificados

Polícia diz estar a averiguar os relatos da detenção de aliada de Svetlana Tikhanouskaia. Fontes diplomáticas da UE disseram à Reuters que vão ser impostas sanções a 31 figuras do regime, mas Lukashenko fica fora da lista, por agora.

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Maria Kolesnikova foi a única das três mulheres que lideraram a campanha da oposição nas presidenciais a não deixar o país LUSA/TATYANA ZENKOVICH

Maria Kolesnikova, uma das principais figuras da oposição na Bielorrússia, foi detida no centro de Minsk na manhã desta segunda-feira e levada numa carrinha por homens não identificados, segundo o portal de notícias Tut.by.

A detenção foi confirmada pelo Conselho de Coordenação, um órgão político fundado pela oposição, do qual faz parte Svetlana Tikhanouskaia, que concorreu contra Aleksander Lukashenko no passado dia 9 de Agosto, segundo a RIA. A polícia bielorrussa disse estar a averiguar os relatos da detenção, mas, segundo a agência Interfax, garantiu que não deteve Kolesnikova.

Nas redes sociais, vários jornalistas bielorrussos falam em rapto da gestora da campanha de Viktor Babariko, um banqueiro que tentou concorrer às presidenciais, contra Aleksander Lukashenko, e foi detido, e impedido de se candidatar. O resultado oficial das eleições de 9 de Agosto é de uma vitória com 80% dos votos para o actual chefe de Estado, no cargo há 26 anos, considerado fraudulento pela oposição e pela União Europeia.

A líder da oposição, Svetlana Tikhanouskaia, disse que o possível rapto de Kolesnikova é uma tentativa de intimidar o Conselho de Coordenação, que enfrenta um processo criminal. O chefe da Diplomacia europeia, Josep Borrell, considerou o desaparecimento é “inaceitável” e instou as autoridades a cumprirem a lei e obrigações internacionais. 

“Detenções arbitrárias e sequestros por motivos políticos na Bielorrússia, incluindo as acções brutais desta manhã contra Andrei Yahorau, Irina Sikhiy e Maria Kolesnikova, são inaceitáveis. As autoridades estatais devem para de intimidar cidadãos e de violar as suas regras e obrigações internacionais”, escreveu no Twitter Borrelll.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Linas Linkevicius, exigiu a libertação imediata de Kolesnikova e acusou o regime bielorrusso de “métodos estalinistas”.

"Em vez de falar com o povo bielorrusso, a liderança cessante está a tentar eliminar cinicamente um a um. O rapto de Maria Kolesnikova na baixa de Minsk é uma desgraça. Os métodos estalinistas da NKVD [polícia secreta da União Soviética] estão a ser aplicados na Europa no século XXI. Ela [Kolesnikova] deve ser libertada imediatamente” escreveu Linkevicius no Twitter. 

Na semana passada, a equipa de Kolesnikova e de Viktor Babariko anunciou a criação de um novo partido político. Antes de ser detido em Julho, Babariko disse que o futuro partido teria como objectivo uma reforma constitucional no país.

Kolesnikova é a última das três mulheres que se juntaram numa candidatura presencial contra Lukashenko a viver na Bielorrússia. Após as eleições, Svetlana Tikhanouskaia exilou-se na Lituânia, enquanto Veronika Tsepkalo, mulher do ex-embaixador bielorrusso nos Estados Unidos, Valeri Tsepkalo, também ele impedido de concorrer às eleições, saiu da Bielorrússia e rumou à Polónia, para se juntar ao marido e aos dois filhos

No domingo, 100 mil pessoas voltaram a sair às ruas de Minsk pelo quarto fim-de-semana consecutivo para exigir eleições livres e a saída de Lukashenko do poder. O Governo anunciou que 633 pessoas foram detidas. 

UE não sanciona Lukashenko 

A União Europeia prepara-se para impor sanções a 31 figuras do regime bielorrusso, incluindo ao ministro do Interior, Yuri Karayev. Para já, Lukashenko fica fora da lista, segundo fontes diplomáticas disseram à Reuters.

A Alemanha, actualmente na presidência da UE, quer mais tempo para dialogar e prefere deixar em aberto a possibilidade de acrescentar mais nomes no futuro, inclusive o do Presidente bielorrusso - uma posição partilhada pela França e pela Itália, que preferem deixar uma via de comunicação aberta com o autocrata, dizia o jornal Le Monde durante o fim-de-semana.

Mas é uma decisão polémica. “Que sentido faz elaborar uma lista de pessoas alvo de sanções se o principal responsável não estiver lá?”, interrogou o deputado europeu belga dos Verdes Philippe Lamberts, em declarações ao Le Monde.

Já os países da UE geograficamente mais próximos da Bielorrússia, a Polónia, Lituânia, a Letónia e a Estónia defendem uma posição mais dura, incluindo declarar Lukashenko persona non grata na UE e congelar os seus bens no estrangeiro. Os países bálticos não esperaram pela UE e impuseram já as suas próprias sanções a Minsk.

Para que as sanções sejam aplicadas, é necessária a aprovação dos 27 Estados-membros. De acordo com os diplomatas ouvidos pela Reuters, a lista final só deverá ser conhecida e formalizada no dia 21 de Setembro, quando os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE voltarem a reunir-se. As sanções deverão entrar em vigor no dia seguinte.

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