Lukashenko avança com processo contra a oposição por tentar tomar o poder

Presidente bielorrusso acusa várias figuras que se opõem ao regime, incluindo a Nobel da Literatura Svetlana Alexievitch e a sua adversária nas presidenciais, Svetlana Tikhanouskaia, de tentarem tomar o poder ilegalmente.

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Mulheres protestam contra a violência em Minsk Reuters/VASILY FEDOSENKO

O Procurador-Geral da Bielorrússia abriu um processo criminal contra várias figuras da oposição, acusando-as de tentarem tomar o poder. O denominado Conselho de Coordenação, criado na passada terça-feira, reúne várias personalidades bielorrussas, incluindo a adversária do Presidente Aleksander Lukashenko nas presidenciais, Svetlana Tikhanouskaia, exilada na Lituânia.

“A 18 de Agosto, um grupo de cidadãos bielorrussos anunciou a criação de um conselho de coordenação com o propósito de organizar a transferência de poder. A constituição de tais órgãos não está prevista na lei, sendo a sua actividade inconstitucional”, afirmou o procurador Aleksandr Konyuk, citado pela agência Belta, acrescentando que “a criação e actividade do conselho tem como objectivo tomar o poder do Estado e prejudicar a segurança nacional”.

Assim que o novo conselho foi anunciado, Lukashenko, que enfrenta a maior contestação de sempre em 26 anos no governo, acusou a oposição de estar a tentar “tomar o poder” e prometeu tomar medidas contra os seus membros.

Do Conselho de Coordenação, além de Tikhanouskaia, fazem parte artistas, jornalistas, empresários e outras figuras da sociedade civil bielorrussa, entre elas a Prémio Nobel da Literatura Svetlana Alexievitch, Maria Kolesnikova, gestora da campanha de Viktor Babariko – um dos opositores de Lukashenko que foi impedido de concorrer às presidenciais – e aliada de Tikhanouskaia, Pavel Latushko, director do Teatro Kupalovski, que foi demitido após apoiar os protestos anti-regime, e Syarhei Dyleuski, líder de um comité de trabalhadores em greve numa fábrica de tractores em Minsk.

A oposição nega as acusações de que a sua actividade seja ilegal. “A acusação é totalmente infundada. O nosso objectivo é resolver a crise sem conflito. Não estamos a pedir uma tomada do poder”, garantiu Dyleuski à Reuters. O advogado Maxim Znak, outro dos membros, disse que várias pessoas abandonaram o Conselho de Coordenação após as acusações anunciadas pelo regime bielorrusso.

O anúncio do processo criminal contra a oposição surge um dia depois de Lukashenko ter dado ordens para que a polícia reprimisse quaisquer protestos nas ruas da Bielorrússia. Nos primeiros dias de manifestações após as eleições, foram detidas cerca de 7000 pessoas, com relatos de tortura nas prisões bielorrussas. Pelo menos três manifestantes morreram após a repressão da polícia aos protestos.

Na quarta-feira, a União Europeia disse que não reconhece os resultados das eleições, que deram 80% a Lukashenko e 10% a Tikhanouskaia, e apelou a uma transição pacífica de poder. Bruxelas anunciou ainda um pacote de ajuda financeira à sociedade civil bielorrussa no valor de 53 milhões de euros e confirmou que em breve será anunciada uma lista de personalidades do regime a quem serão impostas sanções.

A Rússia, por seu lado, denunciou a tentativa de ingerência estrangeira nos assuntos internos da Bielorrússia. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, falou num “combate pelo espaço pós-soviético” e em questões “geopolíticas”.Contudo, Lavrov reconheceu que as presidenciais bielorrussas “não decorreram de forma ideal”. 

Esta quinta-feira, segundo o Kremlin, Vladmir Putin falou ao telefone com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e ambos concordaram que a normalização da situação em Minsk é benéfica tanto para Moscovo como para Bruxelas. O Presidente russo, no entanto, sublinhou que qualquer pressão sobre Lukashenko é “contraproducente”. 

O Conselho de Coordenação da oposição bielorrussa manifestou a sua vontade de estabelecer contactos com a Rússia e garantiu que não tem qualquer intenção de cortar os laços com Moscovo. “Temos sido acusados de ter um programa com um objectivo de destruir as relações com a Rússia, o que não faz qualquer sentido”, disse o ex-director de teatro Pavel Latushko à agência TASS, sublinhando as “relações amigáveis e profundas” com Moscovo.

Contudo, Latuksho acrescentou que a oposição também pretende cooperar com a UE: “Historicamente, a Bielorrússia faz parte da civilização europeia. Estamos interessados em ter boas relações com a UE e em construir uma forte e estável ponte entre o Leste e o Ocidente.”

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