Greves e um ambiente de revolução com flores e bastões de polícia na Bielorrússia

A Filarmónica Estatal e fábricas de automóveis pesados juntaram-se aos protestos pela democracia. Lukashenko resiste.

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Vartan Grigoryan foi libertado, mas foi tão espancado que foi levado ao hospital Reuters/VASILY FEDOSENKO
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Músicos da Filarmónica estatal exibem um cartaz de protesto LUSA/YAUHEN YERCHAK
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Médicos da Bielorrúsia solidarizam-se com o protsto LUSA/YAUHEN YERCHAK

Trabalhadores de fábricas estatais bielorrussas entraram em greve e juntaram-se a dezenas de milhares de pessoas que saíram para a rua para protestar contra o regime de Aleksander Lukashenko, pelo quinto dia consecutivo, apesar da repressão violenta, que está a fazer a União Europeia ponderar aplicar novas sanções.

Manifestantes foram cadeiras humanas, juntando as mãos para marchar em Minsk, a capital, aos quais se juntaram pelo menos dois apresentadores que se demitiram da televisão pública, altamente controlada, em protesto contra o resultado anunciado das eleições de domingo – 80% para Lukashenko, com enormes suspeições de fraude, e longas filas de pessoas que não puderam expressar o seu voto até à hora de encerramento das urnas.

Lukashenko, um ex-gestor de uma quinta colectiva soviética, está a usar a força para reprimir o maior desafio de sempre à sua manutenção à frente do país, que controla há 26 anos. Os manifestantes pró-democracia acusam-no de ter falseado as eleições, para obter um sexto mandato. O Presidente alega uma conspiração manobrada a partir do estrangeiro, para desestabilizar o país, e diz que os manifestantes são criminosos e desempregados.

Alguns dos mais de 6000 manifestantes detidos esta semana começaram a ser libertados – com ferimentos e nódoas negras, relatam terem ficado em celas cheias, em tempos de covid-19, e queixaram-se de várias formas de maus-tratos, incluindo espancamentos. Uma porta-voz do Ministério do Interior recusou comentar.

Sergei, um dos detidos libertado nesta quinta-feira, contou que estavam 28 pessoas numa cela onde só deviam estar cinco. Era preciso dormir por turnos, relatou à Reuters. Só lhes deram um único pão grande, para partilharem, ao longo de dois dias. “Não me bateram na cela, tiraram-me de lá para me baterem”, contou Sergei, que não quis dar o último nome.

Vartan Grigoryan, outro detido que foi libertado, tinha os sinais da agressão no rosto – um olho negro e fechado. “Fui agarrado, espancado, levado para a prisão e espancado outra vez. Depois disso, senti-me mal e fui levado para o hospital de ambulância”, relatou.

Esta quinta-feira, os trabalhadores de algumas das fábricas que são o orgulho do modelo económico de estilo soviético de Lukashenko, incluindo a Fábrica de Automóveis de Minsk, conhecida pela sigla MAS, que produz autocarros e camiões, entraram em greve. Alguns membros da Orquestra Filarmónica Estatal também se juntaram ao movimento, e vieram cantar para a rua.

Na capital, embaixadores de vários países da União Europeia foram depositar flores no local onde um manifestante morreu, rodeados por uma multidão que aplaudia e gritava. Mas jornalistas estrangeiros, dos países vizinhos, como a Ucrânia ou a Polónia, foram presos nos próprios quartos de hotel, relatam jornalistas bielorrussos no Twitter.

No Twitter há também vídeos de ex-militares que deitam fora os seus velhos uniformes, dizendo fazê-lo porque se solidarizam com os protestos populares. Noutros vídeos, nas redes sociais, militares fardados surgem a distribuir flores, ou a solidarizarem-se de outra forma com os populares.

A candidata da oposição às presidenciais, Svetlana Tikhanouskaia, foi obrigada a fugir do país. Está na Lituânia, onde os seus filhos já estavam, antes das eleições. O seu marido está detido.

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