Mais um dirigente da oposição levado por homens mascarados na Bielorrússia

Maxim Znak era o último membro activo dos sete dirigentes da oposição bielorrussa a viver no país, os restantes foram expulsos ou detidos. A Nobel da Literatura Svetlana Alexievich, figura mais simbólica, chamou jornalistas a casa com medo de ser detida.

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Maxim Znak era considerado o último membro activo da direcção do Conselho de Coordenação na Bielorrússia Reuters/TUT.BY

O advogado Maxim Znak, um dos membros do Conselho de Coordenação na Bielorrússia, formado pela oposição, foi levado na manhã desta quarta-feira por homens de cara tapada e vestidos à paisana. A detenção de Znak surge dois dias depois de Maria Kolesnikova, a líder da oposição a viver na Bielorrússia, ter sido raptada por homens mascarados. Na terça-feira de manhã foi detida pelas autoridades bielorrussas ao resistir à deportação forçada para a Ucrânia, tendo rasgado o passaporte no último instante.

Desde que foi formado, os principais membros do Conselho de Coordenação — um órgão criado pela oposição que pretende uma transição pacífica de poder — têm sido interrogados e detidos pela polícia bielorrussa, acusados de tentarem tomar o poder ilegalmente.

Maxim Znak é considerado o último membro activo do conselho a viver na Bielorrússia. Svetlana Tikhanouskaia está exilada na Lituânia, e outros membros como a advogada Olga Kovalvoka e o ex-ministro da Cultura Pavel Latushko fugiram do país, depois de terem sido ameaçados. O líder grevista Syarhei Dyleuski foi detido pelas autoridades no final de Agosto, tal como a advogada Lilia Vlasova. Maria Kolesnikova continua detida, acusada de tentar tomar o poder ilegalmente, disse o seu advogado à agência RIA.

O advogado de Maxim Znak disse que, depois de ter sido levado por homens mascarados, o apartamento do seu cliente foi revistado pelas autoridades, que também fizeram buscas na sede de campanha de Viktor Babariko, um banqueiro que tentou concorrer contra Lukashenko, mas que foi preso em Junho e impedido de concorrer. Kolesnikova foi a sua gestora de campanha e Znak o seu advogado.

A única figura dos sete membros da direcção que continua em liberdade é Svetlana Alexievich, laureada com o Prémio Nobel da Literatura em 2015, que é vista como uma figura mais simbólica do movimento de resistência ao regime de Aleksander Lukashenko. No entanto, foi interrogada há algumas semanas pelas autoridades e esta quarta-feira pediu aos jornalistas para se deslocarem à sua casa em Minsk, depois de ter recebido várias chamadas de números anónimos e de ter visto pessoas suspeitas a tentarem entrar no seu apartamento. 

Mais tarde, autora de Vozes de Chernobyl — História de Um Desastre Nuclear (ed. Elsinore) recebeu a visita de vários diplomatas europeus, que demonstraram a sua solidariedade, e fez declarações aos jornalistas, reiterando que o Conselho de Coordenação “não está a preparar um golpe” e que “quer o diálogo". “O que está a acontecer é um terror contra o povo. Temos de nos unir e não podemos desistir das nossas intenções. Existe o perigo de perdermos o país”, disse Alexievich aos jornalistas. 

Lukashenko vai à Rússia na segunda-feira

A enfrentar a maior contestação de sempre ao seu regime que dura há 26 anos, Aleksander Lukashenko aumentou a repressão contra os milhares de manifestantes que exigem a sua saída da presidência e a realização de novas eleições, uma reivindicação que o chefe de Estado só admite após uma revisão constitucional

Depois de no domingo as autoridades terem detido mais de 600 manifestantes, o Ministério do Interior anunciou nesta quarta-feira que na véspera foram detidas mais 121 pessoas. Nas redes sociais, circularam imagens da repressão policial, com detenções violentas, inclusive de mulheres.

Na terça-feira, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, juntou-se à União Europeia para exigir a libertação dos manifestantes e membros do Conselho de Coordenação detidos, manifestando “enorme preocupação” com o “rapto” e “tentativa de expulsão forçada” de Maria Kolesnikova para a Ucrânia.

Em comunicado, Mike Pompeo referiu ainda que os Estados Unidos, “em coordenação com os seus parceiros e aliados, estão a considerar sanções adicionais direccionadas aos envolvidos na violação dos direitos humanos e pela repressão na Bielorrússia”.

Por seu lado, Manfred Weber, o líder do grupo do Partido Popular Europeu (PPE) no Parlamento Europeu, reiterou em entrevista à emissora alemã ZDF que a Europa deve acordar rapidamente uma lista de figuras do regime a sancionar, e, ao contrário do que tem sido veiculado por fontes diplomáticas europeias, defendeu que a lista deve incluir Lukashenko. 

Pressionado interna e externamente, o Presidente bielorrusso vai à Rússia no dia 14 de Setembro, disse fonte diplomática à agência de notícias RIA. Na segunda-feira, Moscovo tinha anunciado uma visita de Lukashenko “nos próximos dias”. De acordo com o Kremlin, a cooperação entre os dois países e os conflitos em Minsk estarão em discussão no encontro entre Lukashenko e o seu homólogo russo, Vladimir Putin. 

O chefe de Estado da Bielorrússia tem falado várias vezes com o Presidente russo ao telefone, e, apesar dos apelos para uma intervenção de Moscovo, o Kremlin tem resistido a enviar ajuda militar, contudo, Putin garantiu que tem uma força policial de reserva para ajudar Minsk, caso seja necessário.

A líder da oposição, Svetlana Tikhanouskaia, defendeu que a Bielorrússia deve manter boas relações com a Rússia, no entanto, o Kremlin tem fechado a porta à negociação com o Conselho de Coordenação. 

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