Comissão da Transparência vai dizer que não lhe cabe avaliar casos de incompatibilidade no Conselho Superior do Ministério Público

Parecer da PGR que fala em incompatibilidades de dois membros do Conselho Superior do Ministério Público analisado oito meses depois na Comissão da Transparência.

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JOSÉ SENA GOULÃO

A Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados vai remeter para a Procuradoria-geral da República (PGR) a competência para avaliar e decidir o que fazer nos casos de incompatibilidade que esta encontrou em dois membros do Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) nomeados através de eleição no Parlamento. A comissão exime-se assim de tomar qualquer atitude sobre o parecer enviado ao Parlamento pela procuradora-geral da República que informava que o conselho consultivo tinha detectado dois casos de incompatibilidade no CSMP: um por acumular com o cargo de vice-presidente do conselho geral da Ordem dos Advogados e outro por exercer funções de consultadoria numa sociedade de advogados e fazer parte do CSMP em regime de tempo integral.

Numa carta com conteúdo proposto pelo PS e consensualizada nesta terça-feira à tarde, depois de discutido o caso do parecer que andou oito meses perdido nos serviços da Assembleia, os deputados da Comissão de Transparência realçam que o envio do parecer pela PGR é visto como um “acto de cortesia institucional e não de solicitação de intervenção”. Acrescentam que a Assembleia da República exerceu a sua competência de eleger membros do CSMP e que “cessa aí a sua intervenção, não podendo nem devendo praticar actos relativos ao exercício do mandato de quem elegeu”.

E acrescenta que o procedimento a adoptar quando ocorra uma situação de incompatibilidade no seio do CSMP “é à PGR que competirá avaliar, não cabendo intervenção da AR, que só terá lugar em caso de morte ou renúncia do titular”.

Os deputados chegaram a um consenso depois de hora e meia de discussão sobre o caso e a proposta de texto que os socialistas levaram e em que praticamente aconselhavam a PGR a inscrever no seu regulamento interno as regras para agir em caso de incompatibilidades.

O PSD – que escolheu um dos membros agora alvo da incompatibilidade, o advogado Rui da Silva Leal, marido da deputada social-democrata Mónica Quintela -, começou por defender que a Comissão de Transparência “não deveria sequer pronunciar-se sobre isto”, porque, apesar de serem pessoas eleitas pela Assembleia, não são deputados e o parecer havia sido encaminhado para a primeira comissão por Ferro Rodrigues, onde os dois foram ouvidos antes da eleição.

O presidente da Comissão de Transparência, o socialista Jorge Lacão, recordou que Ferro Rodrigues tem, desde Novembro, um pedido de despacho para esclarecer que as matérias de impedimentos e incompatibilidades em todos os cargos públicos e políticos serão competência desta comissão, mas ainda não lhe deu provimento.

Para além do PS, também o BE e o PCP e o PAN consideraram que a Comissão da Transparência deveria dizer alguma coisa, defendendo que essa seria até uma forma de afirmar que a comissão “deve ser encarada como a que tem de facto competência para analisar incompatibilidades, impedimentos e conflitos de interesses e também a transparência nas instituições públicas”.

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