Governo da Bolívia acusa Evo Morales de abusar sexualmente de jovem de 14 anos

Em causa, uma relação do ex-Presidente com uma adolescente de 14 anos que terá começado em 2015. É a última de uma série de acusações contra o líder do Movimento ao Socialismo iniciadas pelo executivo interino de Jeanine Áñez.

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Evo Morales está exilado na Argentina desde Dezembro de 2019 UESLEI MARCELINO/Reuters

O Governo interino da Bolívia apresentou uma queixa contra o ex-Presidente Evo Morales, exilado na Argentina, acusando-o dos crimes de tráfico humano e abuso sexual de menores. O anúncio foi feito pelo vice-ministro da Transparência, Guido Melgar, que, em conferência de imprensa, disse que o Ministério da Justiça recebeu imagens e documentação sobre o suposto caso de abuso sexual e que, por isso, o Governo decidiu apresentar queixa ao Ministério Público.

Em causa, relata a agência EFE, está uma mulher identificada apenas com as iniciais N.M., hoje com 19 anos, que aparece em várias fotografias com Evo Morales, quando este ainda era Presidente e a jovem tinha apenas 14 anos.

Guido Melgar revelou que uma irmã da jovem foi detida recentemente por posse ilegal de um veículo do Estado, tendo então sido encontradas fotografias, áudios e publicações de WhatsApp em que N.M. aparece ao lado de Evo Morales em várias viagens de Estado.

“Enquanto Ministério da Justiça, seremos fiéis observadores e coadjuvantes deste processo para que o assunto seja esclarecido. Se todas as informações documentadas em vídeos, áudios e mensagens forem verdadeiros, vamos pedir a pena máxima para Evo Morales”, disse Melgar. Na Bolívia, o crime de tráfico de menores é punido com uma pena de prisão até 20 anos e o de violação até seis anos.

O paradeiro de N.M. é desconhecido, no entanto, o Governo interino da Bolívia diz que os seus familiares têm “entrado e saído” regularmente da Argentina, onde Morales está exilado desde o final do ano passado. Os pais da jovem também estão a ser investigados. “É curioso que, naquela altura, ela era menor de idade. Como todos sabemos, para que uma menor viaje, é necessária a autorização dos pais”, sublinhou Melgar.

Esta não é a primeira acusação do Governo interno, liderado por Jeanine Áñez, contra Morales. O ex-Presidente já foi acusado de genocídio, terrorismo e sedição, e as autoridades têm tentado conseguir a sua extradição da Argentina para ser julgado.

Evo Morales foi Presidente da Bolívia entre 2006 e 2019. Depois de umas eleições contestadas em Outubro do ano passado, em que o líder do Movimento ao Socialismo reivindicou a vitória, a oposição denunciou fraude eleitoral, o que levou a protestos e a confrontos nas ruas da Bolívia, acabando por levar o chefe de Estado a demitir-se, após uma aliança entre os militares e a oposição.

Morales foi substituído de forma interina pela senadora da oposição, Jeanine Añez, num processo em que houve denúncias de perseguição a membros do MAS e acusações de golpe de Estado.

Depois de uma curta passagem pelo México, Evo Morales chegou à Argentina em Dezembro de 2019, onde acompanha o desenrolar na situação política na Bolívia.

As eleições presidenciais foram inicialmente marcadas para Maio, mas depois adiadas para Setembro pelo Governo interino, devido ao coronavírus. Apesar de a autoproclamada Presidente ter prometido, desde que chegou ao poder, eleições num curto espaço de tempo, no final de Julho as presidenciais foram novamente adiadas, desta vez para 18 de Outubro, com o mesmo argumento: a pandemia e a necessidade de o Governo se concentrar na recuperação económica.

Evo Morales e o MAS acusam Jeanine Añez e o seu executivo provisório de aproveitarem a pandemia para “ganhar mais tempo para continuar a perseguição aos líderes sociais e candidatos do MAS”.

A Human Rights Watch reiterou que está “preocupada com a situação dos direitos humanos na Bolívia”. “Desde que assumiu o poder em Novembro do último ano, o Governo interino tem feito acusações de terrorismo, sedição e outros crimes contra apoiantes de Evo Morales baseados em alegações genéricas, sem provas reais e tangíveis”, disse à Al-jazeera Jose Miguel Vivanco, director daquela ONG na América.

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