Governo vê a saída de Isabel dos Santos das empresas como um “bom passo”

Decisão de Isabel dos Santos de colocar à venda as participações no Eurobic e Efacec é “útil” para evitar “dano reputacional”, afirma o ministro da Economia.

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Ministro da Economia afirma que a sociedade está mais intolerante com a falta de transparência Nelson Garrido

O número dois do Governo de António Costa, o ministro da Economia Pedro Siza Vieira, tomou posição sobre a decisão da empresária angolana Isabel dos Santos de alienar as suas participações em empresas portuguesas, considerando que esse é um passo útil para evitar que esses grupos sejam afectados do ponto de vista da sua reputação.

Depois das revelações do Luanda Leaks, que vieram expor a forma como construiu o seu império empresarial ao longo dos anos com epicentro em Angola, Isabel dos Santos decidiu pôr à venda as suas posições no banco Eurobic (do qual detém 42,5% do capital) e na empresa de engenharia Efacec (onde domina 67,2% do capital).

“Acho que esse é um bom passo, porque queremos evitar qualquer dano reputacional na actividade dessas empresas”, disse à Reuters o ministro da Economia, sublinhando que as investigações judiciais em torno de Isabel dos Santos terão de seguir o seu caminho.

Constituída arguida em Angola por suspeitas de má gestão e apropriação de fundos quando era presidente da petrolífera estatal Sonangol, a filha do ex-Presidente de Angola José Eduardo dos Santos — assim como o marido, Sindika Dokolo, e o braço-direito nos seus negócios, o empresário português Mário Leite da Silva – fora já, antes das revelações do Luanda Leaks, alvo de arresto de contas bancárias pessoais e participações em empresas angolanas relacionado com um processo de condenação para pagamento de mais de 1,1 mil milhões dólares (mil milhões de euros) ao Estado angolano, por prejuízos provocados nas empresas públicas de petróleo (Sonangol) e de diamantes (Sodiam).

“Se olhar para o impacto, que é adverso, sobre as origens do dinheiro de Isabel dos Santos — que ainda têm de ser provadas — os danos à reputação das empresas portuguesas podem ser significativos. Portanto, a vontade dela de alienar rapidamente é útil neste contexto. [Isto] Significa que o dano à reputação pode ser diminuído e, espero, totalmente evitado”, afirma Pedro Siza Vieira, citado pela Reuters.

“A sociedade tornou-se mais intolerante com a corrupção, com a falta de transparência, a evasão fiscal”, diz o ministro da Economia, sem desejar “supor ou concluir que algo disso tenha acontecido nestes casos particulares”.

Os interesses de Isabel dos Santos em Portugal

Além da Efacec e do Eurobic – banco onde a conta da Sonangol foi esvaziada quando Isabel dos Santos estava de saída da liderança, com transferências suspeitas para o Dubai —, a mulher mais rica de Angola tem outros interesses empresariais em Portugal.

Isabel dos Santos é accionista da Galp através da participação que a empresa Esperaza (onde detém 40% do capital, cabendo o controlo à Sonangol) detém na Amorim Energia, accionista directa de 33,3% da petrolífera portuguesa. Os seus negócios em Portugal estendem-se às telecomunicações, pela parceria feita com a Sonae (grupo dono do PÚBLICO) para controlar a Nos. O investimento na operadora é feito através da empresa Zopt (onde Isabel dos Santos e o grupo Sonae têm, cada um, 50%), que é dona de 52,5% das acções da Nos.

Segundo noticiou o Expresso este sábado, a empresária terá posto em marcha com o Ministério Público angolano relativamente ao arresto dos bens. Algo que a Procuradoria-Geral da República de Angola desmentiu no domingo: “Não há qualquer negociação em curso com a cidadã Isabel dos Santos ou seus representantes, referente aos processos (criminais e cíveis) que contra ela decorrem”, garantiu.

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