Gestor do EuroBic que autorizou transferência suspeita de 38 milhões encontrado morto

Tudo indica que se terá tratado de um suicídio. Director do private banking do EuroBic, um banco em que Isabel dos Santos detém uma quota de 42,5%, tinha sido constituído arguido na investigação em Angola, onde filha do ex-Presidente angolano é suspeita de má gestão e desvio de fundos da Sonangol.

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Fontes da Polícia Judiciária afirmam ao PÚBLICO que será um caso de suicídio daniel rocha

O director do private banking do EuroBic, Nuno Ribeiro da Cunha, foi encontrado morto esta quarta-feira à noite no Restelo, em Lisboa. A notícia foi avançada esta manhã pelo Correio da Manhã e confirmada pelo PÚBLICO junto de fontes da Polícia Judiciária, que adiantam que tudo indica ter-se tratado de um suicídio.

O gestor do banco em que Isabel dos Santos ainda detém uma quota de 42,5% tinha sido constituído arguido numa investigação em Angola, onde Isabel dos Santos é suspeita de má gestão e desvio de fundos da petrolífera estatal Sonangol, que liderou.  

O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP informou, entretanto, que, esta quarta-feira à noite, teve conhecimento de uma situação de um cadáver no Restelo, em Lisboa. “Na sequência da chamada do apoio médico ao local, os polícias da PSP encontraram o cidadão Nuno Ribeiro da Cunha, de 45 anos, que alegadamente terá cometido suicídio na garagem, pelo método de enforcamento, confirmando-se o óbito após manobras de reanimação por parte dos meios de socorro”, lê-se na nota.

“Foi possível apurar que o homem teria historial de tentativa de suicídio durante o presente mês”, acrescenta. Trata-se de um incidente que ocorreu no início de Janeiro numa casa de férias do gestor no Alentejo e que obrigou à hospitalização do responsável, um caso que está a ser averiguado pela PJ de Portimão. Por precaução, a polícia recolheu o telemóvel da vítima, mas também neste incidente tudo indica que se tratou de uma tentativa de suicídio, no quadro de uma depressão.

Isso mesmo admitiu o director nacional da PJ, Luís Neves, esta quinta-feira aos jornalistas, à margem da assinatura de um protocolo em Lisboa. O responsável máximo da PJ afirmou que os elementos recolhidos após a morte do director do EuroBic e num outro episódio ocorrido no início do mês no Alentejo “apontam para que não haja intervenção de terceiros” nos dois casos.

O Instituto Nacional de Emergência Médica precisa que o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) recebeu, às 22h12, uma chamada do Regimento Sapadores de Bombeiros (RSB) de Lisboa, na qual estes informam a suspeita da existência de um homem trancado no interior de uma garagem. Após se ter arrombado a porta, a informação foi actualizada. “Posteriormente, às 22h27m, o CODU recebeu uma nova chamada do RSB, na qual comunicaram a existência de uma vítima em paragem cardiorrespiratória, motivo pelo qual foi, no imediato, accionada a Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Hospital São José”, especifica o INEM numa resposta enviada ao PÚBLICO. E acrescenta: “Às 23h09, a tripulação da VMER do Hospital São José informou o CODU que, infelizmente, os esforços e as manobras de reanimação postas em prática não surtiram efeito, não tendo sido possível reverter a paragem cardiorrespiratória”. O óbito foi declarado e o corpo foi transportado para o Instituto Nacional de Medicina Legal, onde será autopsiado.

Nuno Ribeiro da Cunha foi o gestor que autorizou pelo menos uma das transferências, no valor de mais de 38 milhões de dólares, realizada no dia 16 de Novembro de 2017, o dia seguinte ao anúncio da exoneração de Isabel dos Santos da liderança da Sonangol e o dia da tomada de posse do seu sucessor, de uma conta da petrolífera angolana no EuroBic, em Lisboa. O dinheiro teve como destino a conta bancária de uma sociedade offshore gerida pelo braço-direito da filha do ex-Presidente angolano, Mário Leite da Silva, e detida por uma amiga daquela que é considerada a mulher mais rica de África.

Isso mesmo é possível confirmar no pedido de pagamento da transferência, divulgados pelo Expresso/SIC, e datado de 15 de Novembro, o dia em que foi anunciada a exoneração de Isabel dos Santos. Era da responsabilidade deste gestor reportar as transferências ao departamento de compliance do EuroBic para que este, se entendesse que as operações eram de risco — como consideram fontes ouvidas pelo PÚBLICO especializadas no combate ao branqueamento de capitais — dessem origem a uma ou a várias comunicações de operações suspeitas ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e, simultaneamente, à Unidade de Informação Financeira (UIF) da Polícia Judiciária.

Não se sabe se Nuno Ribeiro da Cunha reportou as transferências internamente ou se o compliance do banco as comunicou às autoridades competentes, uma infracção que, a ter ocorrido, pode custar uma multa de até cinco milhões de euros ao EuroBic. 

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