Erdogan rejeita cessar-fogo e diz que não teme sanções dos EUA

Presidente turco garantiu que a ofensiva contra os curdos só terminará quando for criada uma zona de segurança no Norte da Síria. Vice-presidente dos EUA chega à Turquia na quinta-feira.

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O Presidente turco discursou numa reunião do seu partido Reuters

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, desvalorizou as sanções económicas aplicadas pelos EUA em resposta à ofensiva turca no Norte da Síria, e garantiu que não vai decretar um cessar-fogo até que sejam cumpridos os seus objectivos: a expulsão das milícias curdas para longe da fronteira e o regresso de dois milhões de refugiados sírios ao seu país de origem.

As declarações de Erdogan surgem em resposta ao pedido do Presidente norte-americano, Donald Trump, para que a Turquia ponha fim à sua operação militar, que já provocou dezenas de mortes entre a população civil e levou à fuga de 160 mil pessoas para o interior da Síria. E um dia antes da chegada à Turquia do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, que tem como missão tentar convencer Erdogan a recuar.

A ofensiva turca foi lançada há uma semana, dois dias depois de Trump ter anunciado a retirada das tropas norte-americanas do Norte da Síria, onde apoiaram as milícias curdas nos combates contra os extremistas islâmicos nos últimos quatro anos.

As mesmas milícias curdas, em particular as Unidades de Defesa do Povo (ou YPG, na sigla original), são consideradas organizações terroristas pela Turquia devido à sua ligação ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – a organização armada que luta desde 1984 pela criação de um Estado autónomo no sudeste da Turquia, zona maioritariamente curda.

A ofensiva turca tem como objectivo expulsar os curdos para uma linha a mais de 30 quilómetros da sua fronteira, e ao longo de 400 quilómetros, do rio Eufrates até à fronteira com o Iraque. Para além de querer manter essa região livre das milícias curdas, o Presidente Erdogan diz que quer usá-la para encaminhar para a Síria cerca de dois milhões de refugiados sírios que estão na Turquia.

Os críticos da ofensiva, incluindo os dois maiores partidos políticos norte-americanos e a União Europeia, dizem que os combates iniciados pela Turquia podem levar à fuga ou libertação forçada de milhares de ex-combatentes do Daesh que estão detidos em campos controlados pelos curdos, e ao massacre da população civil no Norte da Síria.

Os líderes curdos da Síria acusam o Presidente Trump de os ter traído, uma acusação que também é feita nos EUA, incluindo por figuras do Partido Republicano. Na terça-feira, o senador Lindsey Graham (forte apoiante de Trump noutros assuntos sensíveis, como na ameaça de impugnação na Câmara dos Representantes) disse que há um forte apoio no Partido Republicano e no Partido Democrata na condenação da Turquia, e já tinha criticado o Presidente norte-americano pela decisão de retirar as tropas da fronteira Norte da Síria.

Na terça-feira, a Rússia anunciou que está a patrulhar as imediações da importante cidade de Manbij, que está agora sob controlo das forças do Presidente sírio, Bashar al-Assad, um aliado de Moscovo. Muito perto estão os soldados do exército turco e as milícias árabes sírias que o apoiam – uma oportunidade para Moscovo se apresentar como uma barreira entre os dois lados, e de se substituir aos EUA no papel de grande influenciador do futuro da região.

Ainda que as forças de Assad estejam agora a apoiar os curdos – que se viram forçados a pedir ajuda ao regime perante o poder do exército turco –, o Presidente Erdogan não parece ter ficado incomodado com a entrada do regime sírio em Manbij.

Em declarações aos jornalistas, na terça-feira à noite, o Presidente turco disse que essa presença “não é negativa” porque isso significa que a cidade “ficou sob a soberania síria” – a restituição do Norte da Síria ao controlo do regime de Assad, por troca com os curdos, é um dos objectivos da ofensiva, segundo Erdogan.

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