Congresso dos EUA quer “cair como uma tonelada de tijolos” em cima da Turquia

Senador Lindsey Graham, do Partido Republicano, acusa o Presidente turco de cometer “um erro de avaliação”. Sanções para punir ofensiva contra os curdos vão ser “semelhantes às que foram aplicadas ao Irão”.

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Lindsey Graham, um forte apoiante de Trump, tem criticado a decisão do Presidente norte-americano LUSA/SHAWN THEW

O senador norte-americano Lindsey Graham, do Partido Republicano, disse esta terça-feira que o Congresso dos EUA e a Casa Branca vão “cair em cima” da Turquia com “sanções semelhantes às do Irão” em resposta à ofensiva turca contra os curdos no Norte da Síria.

Entrevistado no programa Fox & Friends, no canal Fox News – que o Presidente Donald Trump costuma ver, mas que tem criticado nos últimos dias –, Lindsey Graham foi questionado sobre a aparente contradição entre a decisão do Presidente Trump de retirar os soldados norte-americanos da fronteira entre a Síria e a Turquia, na semana passada, e o anúncio de sanções pela Casa Branca, na segunda-feira.

Pouco depois de os soldados norte-americanos terem sido retirados da fronteira, na quarta-feira da semana passada, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou o início da ofensiva contra os curdos no Norte da Síria. Esta semana, os curdos anunciaram uma aliança com o regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, para se defenderem da ofensiva turca, o que pode resultar num confronto directo entre a Turquia e a Síria.

“O que explica esta falta de ligação, senador? Não só Erdogan pensava que iria safar-se, como tem planos para vir a Washington visitar o Presidente [Donald Trump] num par de semanas. Quem é que não está a comunicar com quem?”, questionou um dos apresentadores do programa, Brian Kilmeade, que foi criticado por Trump depois de ter dito que a retirada da Síria “está a ser pior do que alguém imaginava”.

Em resposta, o senador do Partido Republicano acusou o Presidente turco de cometer “o maior erro da sua vida política” e aligeirou as críticas que fez nos últimos dias a Donald Trump por causa da retirada dos soldados norte-americanos da Síria.

“O Presidente [Trump] tentou manter a situação equilibrada”, disse Graham, recordando que a milícia curda do YPG é considerada uma organização terrorista na Turquia e combatia ao lado dos EUA contra os extremistas islâmicos do Daesh no Norte da Síria, tendo sido decisiva para a derrota do Estado Islâmico.

Ao fim de quatro anos de combates no terreno, uma coligação internacional liderada pelos EUA com a participação decisiva das milícias curdas conseguiu derrotar o Daesh no Norte da Síria. Para impedir que a Turquia fizesse o que acabou por fazer na semana passada, os EUA negociaram uma zona de segurança entre a Turquia e o território controlado pelos curdos – um plano que acabou por fracassar quando o Presidente Erdogan anunciou a ofensiva, na passada quarta-feira.

Sem criticar directamente o Presidente Trump por ter ordenado a retirada dos soldados norte-americanos da fronteira entre a Síria e a Turquia, Lindsey Graham elencou três prioridades para impedir as consequências dessa decisão: travar o ressurgimento do Daesh (cerca de 800 ex-combatentes terão escapado dos campos onde estavam detidos sob controlo dos curdos); manter uma presença militar no Sul da Síria para controlar o tráfico de armas do Irão para o Líbano; e impedir o Irão de assumir o controlo dos poços de petróleo na Síria – o que, a acontecer, “deitaria por terra tudo o que o Presidente Trump tem feito para combater o Irão”, disse o senador.

Para além dos receios de políticos e especialistas militares em relação ao Daesh, o movimento evangélico norte-americano também criticou a decisão do Presidente Trump – uma rara crítica num apoio que dura desde a campanha eleitoral de 2016 e que resistiu a muitas polémicas, desde casos amorosos extraconjugais à política de separação de famílias na fronteira entre os EUA e o México. Para alguns líderes evangélicos, a ofensiva da Turquia vai resultar num “massacre” de curdos e cristãos no Norte da Síria, e a culpa é da decisão de Donald Trump de “trair” os seus aliados curdos.

“A boa notícia é que o Presidente [Trump] vai intervir com o Congresso para punir Erdogan como nunca na história da Turquia”, disse Lindsey Graham na Fox News.

“Nunca vi um apoio bipartidário tão forte. A nossa paciência para Erdogan chegou ao fim. Ele comprou o [sistema de mísseis] S-400 à Rússia, pondo toda a NATO em risco. Tentámos acomodar as suas legítimas preocupações com a ameaça curda, e o Presidente [Trump] negociou uma zona de segurança que estava a funcionar. Mas o Presidente Erdogan cometeu um erro de avaliação em relação ao Presidente e em relação a mim”, afirmou o senador do Partido Republicano.

“Ele vai enfrentar uma frente unida que eu já não via há muito tempo, com republicanos e democratas a trabalharem em conjunto com a Administração para cair em cima dele como uma tonelada de tijolos. Vamos aplicar sanções semelhantes às que foram aplicadas ao Irão, e ele merece-as.”

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