“Os países vão ter de escolher entre fazer negócios com os EUA ou com a Venezuela”

John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, radicalizou a posição norte-americana face ao regime de Maduro: “A Venezuela é um Estado pária, como o Irão ou a Coreia do Norte”.

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“O tempo do diálogo acabou", avisou Bolton Paolo Aguilar/EPA

A Venezuela é hoje um “Estado pária, tal como o Irão ou a Coreia do Norte”, afirmou John Bolton, o conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, numa reunião do grupo de Lima esta terça-feira. “Os países vão ter de escolher entre fazer negócios com os Estados Unidos ou com a Venezuela”, afirmou, ao apresentar os planos norte-americanos de congelar todos os activos venezuelanos nos EUA e sancionar empresas ou indivíduos estrangeiros que façam negócios com o regime de Nicolás Maduro.

Este grupo internacional de cerca de 60 países, onde Portugal também está representado, tem por objectivo procurar uma saída pacífica para a crise venezuelana. A solução apresentada por Bolton é a de radicalizar o mecanismo das sanções, transformando-as num bloqueio internacional, para garantir que Maduro fica sem meios de se financiar.

Nicolás Maduro, afirmou Bolton, apenas finge envolver-se em negociações com a oposição para ganhar tempo. “O tempo do diálogo acabou. Agora é a altura da acção”, disse o responsável norte-americano.

“Maduro já não tem mais corda”, declarou, avisando a Rússia e a China, os mais importantes parceiros económicos e políticos do regime venezuelano, que não devem continuar a apoiá-lo.

Na segunda-feira, o Presidente Donald Trump assinou um decreto que congelou todos os activos do Governo venezuelano nos Estados Unidos, uma decisão que traduz uma uma escalada da pressão diplomática e económica sobre o regime de Nicolás Maduro, num momento em que o desafio lançado pelo opositor Juan Guaidó em Janeiro caiu num impasse. Apesar do apoio de mais de 50 países, Guaidó não obteve o apoio dos militares venezuelanos e não conseguiu desalojar Maduro do poder.

Numa carta enviada ao Congresso, Donald Trump diz que o congelamento dos activos venezuelanos se torna necessário “devido à contínua usurpação do poder pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro, e aos abusos dos direitos humanos, prisões arbitrárias de cidadãos venezuelanos, restrição da liberdade de imprensa e tentativas de desautorizar o Presidente interino Juan Guaidó”.

Fernando Cutz, um ex-conselheiro de Trump para a América Latina, diz que este decreto pode ser aplicado a empresas e entidades que não sejam norte-americanas: se quiserem continuar a fazer negócios com empresas e bancos dos EUA, ficarão limitadas nas suas relações com a Venezuela.

O Governo de Caracas considerou esta ameaça de bloqueio como “terrorismo económico”, um “grotesto e descarado roubo das propriedades do Estado venezuelano”, segundo um comunicado citado pelo jornal El Universal.

Este agudizar da pressão económica por parte dos Estados Unidos poderá ainda ter o efeito de aumentar a tensão entre Washington e Pequim – cujas relações estão já bastante inflamadas por causa da guerra comercial, disse Cutz, agora da consultora Cohen Group.

Mas há frustração na Administração Trump porque as sanções usadas até agora não conseguiram fazer virar o exército contra Nicolás Maduro, nem parecem ter tido efeito para o afastar do poder, que seria o objectivo final. Foi a primeira vez nas últimas três décadas que os EUA decretaram um congelamento de bens e propriedades de um país ocidental, sublinha a Reuters.

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