O samba da Mangueira fez ouvir Marielle e venceu o Carnaval do Rio

Responsável pelo desfile da Mangueira garante que, além de uma homenagem a Marielle Franco, a vereadora brasileira assassinada no ano passado, esta foi também uma forma de deixar um "recado político".

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As bandeiras com o rosto de Marielle Franco no desfile da escola Mangueira no sambódromo do Rio de Janeiro PILAR OLIVARES/Reuters
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Membros da escola de samba Magueira, vencedora do Carnaval do Rio de 2019, levantam o troféu RICARDO MORAES/Reuters
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A escola Mangueira faz-se representar pelas cores verde e rosa António Lacerda/LUSA
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A referência aos heróis da resistência, negros e índios SERGIO MORAES/Reuters
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O desfile da escola de samba Mangueira no carnaval do Rio de Janeiro Marcelo Chello/LUSA
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Samba da Mangueira fez referência ao sistema de educação brasileiro António Lacerda/LUSA

"Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês". É um dos versos que compõe o samba da escola Mangueira que venceu, nesta quarta-feira, o Carnaval do Rio de Janeiro.

Apesar do pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro para que o famoso sambódromo da Marquês de Sapucaí fosse interdito por falta de segurança, o Carnaval do Rio acabou por se realizar e foram 14 as escolas de samba a concurso.

Entre carros alegóricos, penas e vários adereços que lembraram os heróis da resistência, negros e índios, foi com uma epopeia cantada e dançada sobre a história do Brasil que a escola de samba brasileira Mangueira se sagrou a campeã do Carnaval de 2019 do Rio. Mas esta foi também uma oportunidade para homenagear as tribos, os escravos e as mulheres que desbravaram caminho naquele país. 

No desfile desta terça-feira, a Mangueira prestou ainda tributo a Marielle Franco, a vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) de 38 anos, crítica da actuação da Polícia Militar e activista dos direitos humanos, que foi assassinada em Março de 2018.

Desde então, foram várias as homenagens a Marielle Franco, não só no Brasil como em Portugal, que mobilizaram milhares de pessoas. Em Janeiro deste ano, foram detidos cinco suspeitos de envolvimento na morte da vereadora brasileira, no âmbito da operação Os Intocáveis, levada a cabo pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público brasileiro, com suspeitas de que Marielle tenha sido assassinada por milícias com ligações a negócios de apropriação ilegal de terras.

Agora, foi a vez de o Carnaval do Rio de Janeiro lembrar Marielle Franco, cujo rosto vem estampado em várias bandeiras, de cor verde e rosa (as cores da escola Mangueira), que desfilaram no sambódromo da Marquês de Sapucaí.

A arquitecta brasileira Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, também fez parte do desfile que homenageou a vereadora, assim como o deputado federal pelo Rio de Janeiro Marcelo Freixo e o vereador Tarcísio Motta, ambos do PSOL.

"Um recado político"

Além de contar a história do Brasil e representar a comunidade brasileira, o objectivo deste samba foi também deixar um recado aos políticos do país e, mais especificamente, ao Presidente Jair Bolsonaro, que publicou recentemente um vídeo com conteúdo sexual explícito no Twitter a denunciar o que considera ser os excessos do Carnaval.

"Esses homens e essas mulheres aqui são os heróis do meu enredo, que merecem sempre ser exaltados. Aqui mora o que tem de melhor nesse país", disse aos jornalistas no local Leandro Vieira, carnavalesco que liderou o desfile da escola, após a vitória. 

"É um recado político para o país todo, que tem que entender que isso aqui é importante. É um recado político também para o Presidente mostrar que o Carnaval é isso aqui. O Carnaval é a festa do povo. O Carnaval é cultura popular. O Carnaval não é o que ele acha que é", sublinhou Leandro Vieira.

O objectivo foi cumprido, segundo Evelyn Bastos, responsável pela bateria da escola de samba Mangueira: "A gente passou a mensagem que queria, não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro, a valorização da nossa raça, os verdadeiros desbravadores deste país", acrescentou a baterista citada pela publicação G1 do grupo Globo.

Carlos Bolsonaro, vereador no Rio pelo Partido Social Cristão (PSC) e filho do Presidente Jair Bolsonaro, recorreu também ao Twitter para criticar a vitória da Mangueira no carnaval do Rio, sugerindo o envolvimento da escola de samba em actividades ilegais depois de Chiquinho, ex-presidente da Mangueira e deputado estadual reeleito pelo PSC, ter sido detido por corrupção no ano passado, avança o jornal Folha de S. Paulo. O deputado federal Marcelo Freixo respondeu-lhe recordando a militância de Chiquinho no partido do vereador filho do Presidente.

"A história que a história não conta"

Durante a sua actuação, a Mangueira prestou ainda tributo a outras figuras femininas brasileiras, activistas dos direitos humanos que lutaram contra a escravidão, como "Adelina, a charuteira" e Acotirene. Segundo o G1, um dos carros alegóricos foi também empurrado apenas por mulheres.

Já o quinto carro, coberto de livros gigantes, teria como objectivo aludir à "história que a história não conta", questionando os programas de educação nas escolas do país.

Este é o 20.º título da escola de samba Mangueira, que também se sagrou campeã do Carnaval do Rio em 2016, com uma homenagem à cantora baiana Maria Bethânia.

No sábado, a escola verde e rosa vai voltar ao sambódromo do Rio de Janeiro para o Desfile das Campeãs, juntamente com a escola Unidos do Viradouro e a escola Vila Isabel que ficaram em segundo e terceiro lugares no pódio.

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