Itália admite rever meta do défice para evitar castigo de Bruxelas

Liga e movimento 5 Estrelas dizem não estar agarrados aos 2,4% do PIB enviados a Bruxelas, desde que as medidas propostas se mantenham.

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Di Maio (esq.) e Salvini vão avaliar soluções nesta segunda-feira à noite REUTERS/Tony Gentile

A coligação que governa a Itália parece estar disposta a rever o limite do défice na proposta de Orçamento do Estado para 2019. Enredado num braço-de-ferro com a Comissão Europeia, que na semana passada recomendou a abertura de um procedimento por défice excessivo, o executivo composto pela Liga e pelo movimento 5 Estrelas estará na disposição de baixar a meta inscrita na proposta enviada a Bruxelas, que prevê um défice de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o que disse o vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, numa entrevista divulgada no domingo. 

A notícia deu ânimo às bolsas europeias, às obrigações italianas e ao euro no arranque de mais uma semana nas bolsas europeias. A banca italiana viu as acções subirem 5,3%, com o prémio da dívida italiana a baixar ligeiramente nesta segunda-feira de manhã.

O objectivo de 2,4% do PIB não caiu nas boas graças de Bruxelas e representa um forte agravamento de 0,6 pontos percentuais face ao défice de 1,8% estimado para 2018. "Ninguém está agarrrado" à meta de 2,4%, disse Salvini, nessa entrevista, que deverá debater este tema nesta segunda-feira à noite, numa reunião com o parceiro da coligação, o 5 Estrelas, cujo líder, Luigi di Maio, veio a público dizer que a meta do défice poderá ser revista desde que as medidas contidas na proposta se mantenham. "O que é importante é que o orçamento contenha as metas que nós estabelecemos. Se depois as negociações significarem que o défice (como objectivo) tem de descer ligeiramente, isso para nós não é relevante", afirmou Di Maio, citado pela Reuters.

A Comissão Junker exigiu a revisão das metas apontadas por Roma, argumentando que a proposta italiana era insustentável, baseando-se numa previsão de crescimento muito optimista e sem atacar o problema da dívida pública, que ascende a 131% do PIB – a segunda mais alta da zona euro, logo após a da Grécia e à frente da de Portugal. Segundo as regras europeias, o país deveria aproximar a dívida do limite dos 60% do PIB.

Na primeira reacção às críticas, Roma rejeitou fazer alterações substanciais às metas, propondo apenas aumentar as receitas com privatizações para reduzir mais rapidamente a dívida pública. A Comissão reagiu com a recomendação de um procedimento por défice excessivo, que deveria ser analisada numa reunião na próxima quarta-feira. "Numa situação de dívida já muito elevada, a Itália planeia adoptar mais dívida em vez de escolher a prudência orçamental", disse o comissário Valdis Dombrovskis, vice-presidente da comissão, na quarta-feira da semana passada, defendendo "não ver razões" para alterar a opinião negativa que já tinha sido tornada pública.

A abertura de um procedimento por défice excessivo implica a confirmação por parte dos outros governos da zona euro, o que demorará ainda algumas semanas. Na próxima quarta-feira, também Portugal irá conhecer qual a opinião da Comissão Europeia sobre a proposta orçamental. 

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