Bolsonaro desce entre os evangélicos e diz que vai acabar com "coitadismos"

Sondagem Ibope dá 57% dos votos válidos ao candidato da extrema-direita e 43% ao petista na segunda volta de domingo.

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Entre as outras religiões, além dos evangélicos, as intenções de voto em Bolsonaro mantêm-se Ricardo Moraes/REUTERS

Pela primeira vez desde que Fernando Haddad e Jair Bolsonaro passaram à segunda volta das presidenciais no Brasil, aumentou a rejeição ao candidato de extrema-direita, que desceu ligeiramente nas intenções de voto, segundo a mais recente sondagem Ibope, embora continue a liderar, destacado, tudo indicando que vá ganhar as eleições de domingo.

A descida deve-se, sobretudo, a um movimento negativo num dos segmentos eleitorais em que Jair Bolsonaro mais apostou – o dos evangélicos. Segundo uma sondagem do instituto Datafolha da semana passada, 71% dos evangélicos brasileiros declaravam que iam votar em Bolsonaro na segunda volta. O candidato conseguiu o apoio das mais importantes igrejas evangélicas e dos seus líderes, incluindo de Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, e um dos proprietários da TV Record.

Os resultados da sondagem Ibope, divulgados pelo site G1 da Globo, apontam para uma queda de sete pontos nas intenções de voto neste segmento, em relação ao último inquérito – de 66% para 59%. Fernando Haddad teve um ligeiro crescimento, de 25% para 27%.

É verdade que o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) fez campanha esta semana junto de pastores evangélicos, mas esta mudança não deverá já ser um reflexo dessa acção. Houve um aumento de indecisos, ou de intenções de votar branco ou nulo entre os ex-eleitores de Bolsonaro que se definem como evangélicos – o que indica uma decepção com o candidato. Os eleitores de outras igrejas, incluindo a católica, mantêm-se estáveis, diz a revista Veja.

Bolsonaro ou Haddad? O que eles andaram para aqui chegar

Eleitores evangélicos ouvidos pela BBC Brasil dizem associar o candidato Bolsonaro à perspectiva de “resposta” a algumas mudanças de comportamento na sociedade nos últimos anos, como o crescimento do movimento LGBT, a visibilidade do feminismo, as discussões sobre a identidade de género e as novas famílias, como os casais homossexuais. Outro argumentos recorrente é a esperança de que o ex-capitão do Exército – e deputado há 27 anos – possa ser realmente um político diferente, pois não tem nenhum processo por corrupção. É “ficha limpa”, ao contrário de muitos eleitos do PT e de outros partidos.

Religião à parte, os valores absolutos das intenções de voto para a segunda volta das presidenciais brasileiras, que se realizam já no próximo domingo, dão 57% dos votos válidos (ou seja, a sondagem geral, descontando nulos e abstenção) para Bolsonaro, e 43% para Haddad. Na semana passada, a sondagem Ibope dava 59% a Bolsonaro e 41% a Haddad.

A campanha do PT fala muito numa “virada” – a ideia de que Fernando Haddad vai conseguir ainda dar a volta às eleições. O caminho a percorrer para que tal aconteça, no entanto, é muito longo.

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Manifestação anti-Bolsonaro em São Paulo Nacho Doce/REUTERS

Por outro lado, o estudo do Ibope aponta para um aumento na rejeição dos eleitores a Bolsonaro – pessoas que nunca votarão nele. Nesta semana, 40% dizem que jamais lhe darão o seu voto, quando 35% diziam o mesmo na semana anterior. E o número de eleitores determinados a votar em Bolsonaro diminuiu de 41% para 37%.

Declarações polémicas

A campanha tem estado acesa. Apesar de recusar participar em debates com Haddad, Bolsonaro foi posto em xeque na semana que passou por causa do uso de quantidades maciças de notícias falsas nas redes sociais. A Folha de S. Paulo indicou que empresários favoráveis a Bolsonaro pagariam a difusão maciça de mensagens no WhatsApp , o que motivou uma queixa na justiça eleitoral do PT, e o Facebook suspendeu contas de sites difusores de notícias falsas favoráveis a Bolsonaro detidos por uma grupo empresarial. Tanto ele como o filho Eduardo, que é deputado, fizeram declarações preocupantes.

O filho pôs em causa a continuação do Supremo Tribunal Federal, e Jair Bolsonaro ameaçou prender "marginais vermelhos", referindo-se ao PT, e na terça-feira, em entrevista a uma rádio, disse que, se for eleito, acabará com o que classificou como "coitadismos" de negros, gays, mulheres e nordestinos e que acabará com sistemas de quotas para a entrada na universidade.

“Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Tudo é coitadismo no Brasil, vamos acabar com isso”, disse Bolsonaro, citado pela Reuters Brasil. 

A perda de votos do candidato de extrema-direita foi mais sentida entre eleitores brancos (de 60% para 56%), na faixa etária dos 45-54 anos (de 52% para 46%), com formação até ao ensino médio (de 56% para 52%), com rendimentos entre dois e cinco salários mínimos (de 62% para 57%), no Norte e Centro-Oeste (de 59% para 55%) e no Sudeste (de 58% para 54%), sublinha a Veja.

Curiosamente, Fernando Haddad caiu no Nordeste – a única região em que ganhou na primeira volta (caiu de 57% para 53%) – e Bolsonaro teve uma subida mínima, de 33% para 34%. Isto reflecte o investimento da campanha do candidato de extrema-direita na região, mas não deixa descansado o petista.

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