Filho de Bolsonaro falou em fechar o Supremo. "Precisa de psiquiatria", diz o pai

O vídeo com o deputado federal a fazer as declarações foi gravado em Julho mas só neste domingo foi posto a circular. E deu polémica.

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Jair Bolsonaro Ueslei Marcelino/Reuters

O candidato de extrema-direita à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro, foi neste domingo obrigado a corrigir um dos filhos, Eduardo Bolsonaro, que ameaçou fechar o Supremo Tribunal Federal. “Se falou em fechar o ST, precisa de psiquiatria”, disse o candidato.

Eduardo Bolsonaro ameaçou os juízes do Supremo caso estes tomassem qualquer decisão contrária à candidatura do pai. “Se o STF arguir qualquer coisa... Sei lá, que recebeu uma doação ilegal de 100 reais do José da Silva... E impugna a candidatura dele... Para fechar o STF você não manda nem um jipe, manda um soldado e um cabo. Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular?”, perguntou o deputado durante um curso em Julho.

O vídeo feito numa aula em que Eduardo Bolsonaro foi orador começou a circular neste domingo e gerou polémica, num momento em que as sondagens indicam que o pai vai vencer as eleições de 28 de Outubro e tornar-se chefe de Estado.

Um dos alunos perguntou: “Sendo [Bolsonaro] eleito na primeira volta, há possibilidade de o STF criar uma previsibilidade para impedir que seu pai assuma? E, isso acontecendo, o Exército pode agir?”.

Eduardo Bolsonaro, que é polícia federal e foi reeleito deputado federal por São Paulo a 7 de Outubro com o maior resultado de sempre para um deputado federal, 1,8 milhão de votos, respondeu: “Aí está caminhando para um estado de excepção. O STF vai ter que pagar para ver. E aí quando ele pagar para ver, vai ser ele contra nós. Você está indo para um pensamento que muitas pessoas falam e muito pouco pode ser dito”.

Questionado pelo jornal brasileiro Folha de São Paulo, Jair Bolsonaro disse que não tinha visto o vídeo e duvidou que o filho tenha feito aquelas afirmações. “Alguém tirou de contexto”, disse o candidato à presidência.

O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que nas últimas semanas esteve envolvido numa polémica com Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores e adversário de Bolsonaro na segunda volta — por FHC não o ter apoiado e, com ele, arrastar para o seu lado alguma parte do eleitorado do centro — na segunda volta do próximo domingo, diz que a ameaça ao STF “cheira a fascismo”.

Já Haddad, citado pelo Globo, disse que “esse é pessoal é uma milícia”. Jair Bolsonaro “não é um candidato a Presidente, é um chefe de milícia, os filhos deles são milicianos, são capangas, é gente de quinta categoria”.

Segundo o Estadão, a edição online do jornal Estado de São Paulo, o presidente do Partido Social Liberal (que apoia Bolsonaro), Gustavo Bebianno, disse que que uma das linhas de um eventual governo de Jair Bolsonaro será “discutir tabus” na Previdência, na legislação do trabalho e no Supremo Tribunal Federal. Segundo Bebianno, um eventual governo Bolsonaro poderá indicar o juiz Sérgio Moro, que lidera a operação anti-corrupção Lava Jato, para juiz do Supremo.

A juiz que preside ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, disse que os juízes "não se deixam abalar". "Eu tive conhecimento do vídeo e também me foi trazido que o vídeo já foi desautorizado pelo candidato [Jair Bolsonaro]. De qualquer sorte, embora não seja a presidente do STF, e sim do TSE, no Brasil as instituições estão funcionando normalmente", disse numa conferência de imprensa sobre o fenómeno das notícias falsas (fake news) nestas eleições.

Sobre o tema das fake news, que está a ser apreciado pelo TSE, após queixa do Partido dos Trabalhadores e denúncia de disparos em massa de notícias falsas no WhatsApp a contra o PT pagos por empresas favoráveis a Jair Bolsonaro, a juíza Rosa Weber não se pronunciou.

"A desinformação deliberada ou involuntária que visa ao descredito há-de ser combatida com informação responsável e objetiva, tudo com a transparência que exige um Estado democrático de direito", disse a juíza. "As acções judiciais exigem observância ao devido processo legal. A resposta da instituição há-de ser responsável após análise das imputações".

O Partido dos Trabalhadores pediu a impugnação da candidatura de Bolsonaro com base em irregularidades ao abrigo do financiamento das campanhas.

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