Climáximo protesta em Lisboa: “É catástrofe atrás de catástrofe e fingimos que é algo do futuro”

Manifestação pelo clima contou com cerca de 70 pessoas, que marcharam neste sábado em Lisboa. Na Praça Marquês de Pombal, os activistas sentaram-se no chão e discutiram as prioridades para 2024.

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O protesto do Climáximo que decorreu este sábado em Lisboa tinha como mote "Resistência Climática" Nuno Ferreira Santos
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O protesto do Climáximo que decorreu este sábado em Lisboa tinha como mote "Resistência Climática" Nuno Ferreira Santos
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Carro
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Parque Eduardo VII
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O protesto do Climáximo que decorreu este sábado em Lisboa tinha como mote "Resistência Climática" Nuno Ferreira Santos
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Quando ele nasceu, o desespero bateu. Comecei a perceber que não dava mais. Sofro ainda mais por ele.” As palavras são partilhadas por Vanessa Ferreira, de 39 anos, de mão dada ao seu filho. A psicóloga e o filho são dois entre os manifestantes não associados às organizações do protesto climático que decorreu neste sábado, em Lisboa. No desempenho da sua profissão, Vanessa depara-se com a crescente ansiedade climática. “A maioria ainda não está preocupada, infelizmente, mas as que têm consciência sofrem de ecoansiedade.”

Após a concentração no Saldanha, onde os quase 80 manifestantes permaneceram durante 45 minutos, seguiu-se a marcha — ao som da canção de resistência Bella Ciao — até ao Marquês de Pombal. Chegados à praça, os manifestantes distribuíram-se em uma quinzena de grupos, compostos por quatro a cinco elementos, nos quais puderam discutir e votar as prioridades do próximo ano. As propostas mais votadas foram o fim do investimento público em combustível fóssil e a criação de um serviço de transportes públicos que, além de eléctricos, fossem também gratuitos.​

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Protesto pelo clima da Climáximo este sábado, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

Ao PÚBLICO, Noah Zino frisa que “todas as mudanças estão ligadas ao movimento social”. Segundo a porta-voz do Climáximo, a manifestação deste sábado serve para “expressar descontentamento”. E isso fez-se ouvir. “Os fósseis estão a matar, o governo está a adorar, já não temos tempo para engonhar, fim aos fósseis, é tempo de mudar”, gritavam os protestantes. Também Beatriz Xavier, da Greve Climática Estudantil (GCE), garante que os activistas não vão dar paz ao governo, “a qualquer um que venha”. Segundo a porta-voz do grupo de estudantes, “nenhum deles tem um plano realista”.

Os protestos deste sábado, que pediam o fim aos combustíveis fósseis e justiça climática, coincidem com a COP28, a cimeira do clima das Nações Unidas que terminará na próxima terça-feira, 12 de Dezembro. Durante a reunião no Marquês, Ideal Maia, também do Climáximo, falou de “boicote”, referindo que “não são os políticos nos seus jactos privados que nos vão salvar”. Também Noah se mostra concordante com a visão da colega activista. “A cimeira existe não para resolver problemas, mas para fingir que há um escape democrático”. Para a porta-voz, a COP é nada mais que “uma forma dos estados e empresas lavaram a sua imagem, mas o investimento numa economia que mata é um acto consciente e deliberado”. Afinal, e em referência à primeira cimeira das Nações Unidas pelo clima, em 1995, “sabemos da crise climática desde o século passado.”

Após duas conferências sediadas em petroestados — Egipto, em 2022, e Dubai, neste ano — Noah mostra-se categórica: “Não é destes sítios que a mudança vem”. Em oposição, a activista refere a Earth Social Conference, convenção sediada na Colômbia até o dia de amanhã, 10 de Dezembro. “Lá temos grupos como o Climáximo e a Greve Climática Estudantil representados, mas também movimentos sociais da Alemanha, Nigéria, EUA, Holanda ou Zimbabué”, explica.

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Protesto pelo clima da Climáximo este sábado, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

A manifestação convocada pelo Climáximo contou com várias organizações apoiantes. Além do apoio da GCE, o protesto contou com grupos de combate à crise da habitação, como a Habita ou a Stop Despejos. Para a porta-voz do Climáximo, “quando nós olhamos para os diferentes problemas sociais — habitação, saúde, educação, clima — pensamos do ponto de vista do Estado e vemo-los separados. Mas o clima está na base de tudo. Não pode haver uma casa para viver se não houver um planeta para habitar”. Este já havia sido o mote da manifestação do último 30 de Setembro.

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Protesto pelo clima da Climáximo este sábado, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

Também António Gori, da Habita, esclarece que “esta é uma manifestação que reivindica o direito de habitar o planeta”, corroborando as razões de apoio ao Climáximo, com quem partilham o local de organização. “A luta é contra a acumulação de lucros e contra a cegueira do que isso implica para o planeta e para as populações.”

“Nenhuma acção policial já surpreende”

Tanto Noah como Beatriz pensaram que pudesse haver alguma intervenção policial durante a manifestação deste sábado, tal como tem acontecido noutros protestos climáticos nas últimas semanas. Mesmo diante de uma manifestação que Noah descreve como “pacífica, convocada e legal”, na visão de Beatriz, “nenhuma acção policial já surpreende”. Estes protestos decorreram sem incidentes, mas o número de polícias presentes era considerável, quase igualando o número de participantes.

Nestas últimas acções de protestos, que têm gerado “alguma polarização”, o destaque tem recaído sob os mais jovens. Para Beatriz Xavier, esta premência de luta entre as gerações estudantis decorre da consciência de “uma geração que já nasceu em crise e que é a última que a pode travar”.

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Nuno Ferreira Santos

Beatriz fala de um “futuro posto em causa”. Já Noah fala de “presente” e “emergência”. Para a porta-voz do Climáximo, “vemos catástrofe atrás de catástrofe e continuamos a fingir que é algo do futuro”. Mas não. E “se o problema é do presente, todas as pessoas tem responsabilidade.” E mesmo que os jovens tenham sido os mais interventivos, registou-se a participação de uma larga percentagem de adultos.

Nuno Ferreira Santos
Nuno Ferreira Santos
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Nuno Ferreira Santos

Fora do perímetro rodeado pela polícia, muitas foram as pessoas que paravam para observar a assembleia popular. Entre os comentários de descontentamento de alguns transeuntes, as organizações distribuíram panfletos explicativos do movimento e da emergência climática. “Estão em guerra com a tua vida”, lia-se nas faixas. A manifestação acabou por volta das 18h, num total de quatro horas.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva