Greve Climática Estudantil retoma onda de acções dentro e fora das escolas

Segunda-feira marca o início de novas acções da Greve Climática Estudantil, movimento responsável pelos incidentes com tinta atirada contra os ministros do Ambiente e das Finanças.

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Os estudantes prometem “parar escolas e instituições” Daniel Rocha
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Esta segunda-feira, 13 de Novembro, começa uma “onda de acções” em escolas secundárias e universidades pelo “fim ao fóssil”, protagonizada pelo movimento Greve Climática Estudantil. Em comunicado, os estudantes prometem “parar escolas e instituições” e avisam que “as instituições e o sistema fóssil não vão ter paz até haver um compromisso com o nosso futuro”.

A onda de acções arranca na segunda-feira nas faculdades de Letras, Psicologia e Belas-Artes da Universidade de Lisboa, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e na Escola Secundária Filipa de Lencastre, em Lisboa, e ainda na Universidade de Coimbra, onde está a ser preparada na República dos Inkas.

O protesto acontece sobretudo em Lisboa estando ainda na lista do movimento: ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), Escolas Superior de Teatro e Cinema, Secundária de Camões. Durante a tarde o movimento cresce para lá de Lisboa, os estudantes estarão na Faculdade de letras, Secundária Filipa de Lencastre e Universidade de Coimbra. Mais escolas poderão juntar-se noutros dias, em acções dentro e fora dos estabelecimentos de ensino.

As reivindicações “são as mesmas” das ocupações de Abril deste ano, descreve Catarina Bio, uma das porta-vozes da GCE: acabar com o recurso a combustíveis fósseis até 2030 e ter electricidade 100% renovável e acessível a todas as pessoas até 2025. A actual crise política, contudo, trouxe mais um incentivo às reivindicações: “a transição justa não pode ser feita numa lógica de mercado e compactuando com estas empresas”, denuncia Catarina Bio.

Ao contrário da “Primavera das Ocupas” de Abril deste ano, em que os estudantes procuraram acampar nas escolas e faculdades, as acções deverão acontecer ao longo dos dias. Apesar de não haver, para já, uma agenda sobre as acções planeadas, os estudantes prometem - como habitualmente - “disrupção”.

Os estudantes apontam também as fichas numa manifestação, a 24 de Novembro, que começará no Largo Camões, no Chiado, e seguirá até ao Ministério do Ambiente. O objectivo, descreve Catarina Bio, é “ocupar o ministério”.

Na ausência do ministro, tinta na porta do ministério

Na sexta-feira, em jeito de prenúncio do que se poderá esperar para as próximas semanas, alguns estudantes da Greve Climática Estudantil atiraram tinta contra as portas do Ministério do Ambiente e da Acção Climática (MAAC).

Uma das estudantes à porta do MAAC era Matilde Ventura, uma das jovens que, ao lado de Catarina Bio, atirou tinta ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, no final de Setembro. Tratava-se de um evento organizado com o apoio da EDP e da Galp, duas das empresas cujo nome surge na investigação do Ministério Público sobre suspeitas de favorecimento no negócio de uma central de hidrogénio verde em Sines.

Uma “verdadeira transição energética justa”, repetem as activistas, só pode acontecer com “um sistema onde os governos e as instituições não sejam comandados por empresas e interesses virados para o lucro”.

Catarina Bio explica ainda que o que os estudantes querem “deixar bem claro” é que “a transição justa só pode ser conseguida com um serviço público de energias renováveis”.

E como, afinal, propõem atingir estas metas? A resposta ficou colada na porta de entrada do MAAC: um plano para um serviço público de energias renováveis. “Deixamos à porta do ministério um plano, uma proposta de como pode ser feito isso, elaborada pela campanha Empregos para o Clima”.

Activismo longe demais?

A Greve Climática Estudantil é o grupo que está por detrás das duas acções em que ministros foram atingidos com tinta: primeiro Duarte Cordeiro, depois Fernando Medina, ministro das Finanças.

Estas acções foram muito polémicas, gerando críticas de vários actores, incluindo o Presidente da República. “A narrativa polarizou”, resume Catarina Bio, sobre o feedback que têm recebido a propósito dessas acções. “Toda a gente tem uma opinião sobre o assunto. Há mais pessoas explicitamente a favor, e também mais pessoas explicitamente contra”, relata.

Contudo, isto não incomoda o grupo. “Nenhuma luta social verdadeiramente importante foi consensual”, considera a estudante de Direito. “Estamos a lutar contra um dos sistemas mais poderosos do mundo”, afirma, referindo-se à exploração de combustíveis fósseis. “Sabemos que estamos do lado certo da história. Vamos continuar a desobedecer para conseguirmos evitar o colapso climático.”

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