Atingido pelas cheias, o Paquistão tenta evitar que o maior lago transborde

Cheias sem precedentes inundaram um terço do país afectando mais de 33 milhões pessoas, com 1325 mortos confirmados incluindo 466 crianças.

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Um marco mostra o nível da água, após chuvas e inundações durante a época das monções no Lago Manchar, Bhan Syedabad, no Paquistão, a 3 de Setembro de 2022 REUTERS/Yasir Rajput

Esta terça-feira, o Paquistão estava a lutar para alargar uma brecha no seu maior lago e evitar que as águas transbordassem no meio de inundações sem precedentes que inundaram um terço da nação do Sul da Ásia. Cerca de 33 milhões de pessoas foram afectadas, com pelo menos 1325 mortos, incluindo 466 crianças, pelas cheias causadas pelas chuvas recordes das monções e pelo derretimento dos glaciares nas montanhas do norte do Paquistão, disseram os responsáveis nacionais pelas catástrofes.

Esperando-se ainda mais chuva no próximo mês, a situação poderá agravar-se ainda mais, avisou um responsável da agência das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR). “Receamos que a situação possa deteriorar-se”, disse Indrika Ratwatte, director da agência para a Ásia e o Pacífico, acrescentando que os meteorologistas no Paquistão prevêem mais chuvas para o próximo mês.

“Isto irá aumentar os desafios para os sobreviventes das cheias, e provavelmente piorará as condições para quase meio milhão de pessoas deslocadas, forçando mais pessoas a abandonar as suas casas”. Uma preocupação fundamental é o lago de água doce de Manchar, na província de Sindh, no sul do país, que está perigosamente perto de rebentar com as suas margens.

“Alargámos a ruptura anterior em Manchar para reduzir a subida do nível da água”, disse o ministro Jam Khan Shoro à Reuters na segunda-feira. Já 100.000 pessoas foram deslocadas das suas casas no esforço para minimizar os danos caso o lago transborde, um resultado que as autoridades receiam que possa afectar centenas de milhares de outras.

O ACNUR está a trabalhar com as autoridades paquistanesas para aumentar os fornecimentos humanitários se mais pessoas forem deslocadas na área, acrescentou Ratwatte, enquanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que mais três voos de ajuda humanitária da ONU chegaram na terça-feira.

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Em Maio registaram-se temperaturas de 51 graus Celsius na cidade de Jacobabad, no Paquistão, que foi nomeada a cidade mais quente do mundo. Agora recebe milhares de deslocados das cheias em que já morreram mais de 1000 pessoas. 
 

Reuters,Vera Moutinho

“Até ontem houve uma enorme pressão sobre os diques das cidades de Johi e Mehar, mas as pessoas estão a combatê-la através do reforço dos diques”, disse na terça-feira a oficial distrital Murtaza Shah, acrescentando que 80% a 90% dos habitantes da cidade já tinham fugido. Os que permanecem estão a tentar reforçar os diques existentes com maquinaria fornecida pelos funcionários distritais.

As águas transformaram a cidade vizinha de Johi numa ilha virtual, uma vez que um dique construído pelos habitantes locais retém a água. “Após a ruptura em Manchar, a água começou a correr, mas antes disso estava estagnada”, disse um residente, Akbar Lashari, por telefone, após a ruptura inicial do lago de água doce, no domingo.

As cheias invadiram também o aeroporto vizinho de Sehwan, disseram as autoridades da aviação civil. As inundações seguiram-se a um calor de Verão recorde, tendo o governo e as Nações Unidas defendido que estes fenómenos estão claramente associados às alterações climáticas pelo clima extremo e pela devastação resultante.

As autoridades paquistanesas restabeleceram na terça-feira a electricidade nas cidades e vilas ao longo da fronteira afegã, onde centenas de milhares de pessoas lutaram sem electricidade durante semanas.

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