Embaixador dos EUA em Israel pede “pé no travão” na reforma judicial

Dezenas de milhares de pessoas voltaram a manifestar-se contra as medidas, vistas como uma ameaça à democracia.

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Benjamin Netanyahu na reunião semanal do Governo - as mudanças controversas poderão ser levadas ao Parlamento já esta semana ABIR SULTAN/EPA
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Mulheres vestidas como as personagens de Handmaid's Tale têm sido uma constante nos protestos em Israel AMIR COHEN/Reuters

Os Estados Unidos voltaram a aconselhar Israel – publicamente, e com mais força – a não mudar o seu sistema judicial de modo abrupto e que possa levar a uma cisão no país. Nas ruas, continua a haver grandes manifestações contra as alterações que podem deixar o poder político com muito pouco contrapeso. As medidas devem ir a discussão no Knesset (Parlamento) já esta semana.

Desta vez, foi o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Tom Nides, que falou abertamente sobre ter transmitido uma mensagem da Administração do Presidente Joe Biden a Benjamin Netanyahu. “Estamos a dizer ao primeiro-ministro o que eu digo aos meus filhos: pé no travão. Abrandem, tentem chegar a um consenso, que os partidos concordem. É muito difícil, estão a fazer as coisas demasiado depressa e precisam de puxar o travão, abrandar”, disse Nides a David Axelrod, antigo conselheiro do ex-Presidente Barack Obama, no podcast The Axe Files, citado pelo diário Haaretz.

Antes, já o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, tinha falado da questão numa visita a Jerusalém, ao lado de Netanyahu, também num raro comentário público de crítica velada ao aliado.

Nides foi bastante directo, dizendo que está a repetir uma mensagem “à volta de valores democráticos”, enviada por Biden e Blinken.

E se os EUA “não estão em posição de dizer como é que Israel escolhe os juízes do Supremo”, há que ter em conta que “o que une os nossos países é um sentido de democracia e de instituições democráticas”. E é “assim que defendemos Israel nas Nações Unidas”, onde só excepcionalmente os EUA deixam ser aprovadas resoluções que critiquem Israel (aconteceu no final da Administração Obama quando se abstiveram numa resolução sobre os colonatos judaicos em território ocupado).

Além de trazer este apoio norte-americano para a conversa sobre o respeito da democracia (que a reforma judicial ameaça), Nides foi ainda ao coração das preocupações de Israel – o Irão, cujo programa nuclear está a avançar cada vez mais e onde há já urânio enriquecido para chegar a uma bomba atómica (embora falte o restante que é necessário para o seu fabrico), lembrando que os EUA têm influência por causa do desejo de cooperação na questão iraniana: “Como já disse ao primeiro-ministro centenas de vezes, não podemos passar tempo a trabalhar no que queremos fazer em conjunto se o seu quintal está a arder.”

As declarações foram alvo de rápido repúdio da coligação governamental, com o ministro da Diáspora, Amichai Chikli, a mandar, numa entrevista radiofónica, uma mensagem a Nides: “Mind your own business”, assim mesmo, em inglês, conta o Haaretz.

Netanyahu repetiu o que tem dito a vários actores preocupados (incluindo os bancos de investimento, e há ainda várias empresas israelitas a anunciar a saída do país por temerem instabilidade e falta de garantia para os seus negócios): que as medidas não ameaçam a democracia.

Dezenas de milhares de manifestantes voltaram no sábado às ruas de várias cidades, com cartazes aludindo à falta de democracia, ao processo que o primeiro-ministro enfrenta em tribunal por corrupção, e com grupos de mulheres vestidas com as capas vermelhas e toucas brancas de The Handmaid's Tale, a distopia de Margaret Atwood popularizada numa série do serviço de streaming Hulu em 2017.

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