Blinken pede “com urgência” passos para diminuir a tensão em Israel e na Cisjordânia

Responsável dos Estados Unidos visita a região quando ministro da Segurança Nacional de Israel propõe legislação para instituir pena de morte.

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Antony Blinken e Benjamin Netanyahu em Jerusalém Reuters

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reuniu-se esta segunda-feira com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pedindo a israelitas e palestinianos que “dêem, com urgência, passos” para diminuir a tensão e violência – no mesmo dia, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, pediu “cadeira eléctrica” para quem “assassine, faça mal ou massacre civis”.

Blinken repetiu uma série de frases comuns ao discurso americano – o compromisso com o apoio a Israel, com a solução de dois Estados, a “única maneira de avançar”, disse, apesar de a última tentativa de um processo de paz liderado pelos EUA, através do então secretário de Estado John Kerry, ter fracassado em 2014.

O responsável fez um comentário sobre a situação actual, condenando um ataque palestiniano em Jerusalém que matou sete israelitas a sair de uma sinagoga na sexta-feira, e ainda “todos os que celebrem este e quaisquer outros actos de terrorismo que levam vidas inocentes”, acrescentando que “também não são solução pedidos de vingança contra mais inocentes”. Segundo o Haaretz, foram registados 35 casos de “crimes nacionalistas” contra palestinianos na Cisjordânia, vistos como retaliação pelo ataque.

O ataque contra a sinagoga seguiu-se a uma operação militar israelita no campo de refugiados de Jenin, na quinta-feira, em que foram mortos dez palestinianos. Em protesto, a Autoridade Palestiniana declarou que iria parar a cooperação de segurança que tem com Israel.

Entre as palavras de Blinken desta segunda-feira foram ainda notadas referências a características de valores democráticos, incluindo direitos de minorias, Estado de direito, imprensa livre e uma sociedade civil activa – quando vários destes estão sob ameaça pela actual coligação governamental através de medidas como uma reforma judicial que retira ao Supremo o poder de revogar leis inconstitucionais, alteração da lei para impedir “perturbação de acções” do Exército ou forças de segurança, ou ainda por declarações homofóbicas de integrantes da coligação.

Blinken falou ainda do “direito das pessoas a ser ouvidas”, quando em Israel há protestos contra várias destas medidas.

Sublinhando a relação actual entre o poder político e o judicial, o Governo anunciou também esta segunda-feira que poderá alterar uma Lei Básica para permitir que o ministro Arye Deri, afastado por veredicto do Supremo, possa voltar ao Governo. Israel não tem Constituição, mas sim um conjunto de Leis Básicas, que, apesar de servirem na prática como constituição, podem ser alteradas – ou aprovadas – por maioria simples no Parlamento.

A ideia é alterar a Lei Básica que dá ao Supremo o poder de declarar uma nomeação ilegal por não respeitar algum critério. A lei já tinha sido alterada antes da assinatura do acordo de coligação para permitir a tomada de posse de Deri ao excluir dos critérios que alguém condenado por crimes ligados a fraude ou corrupção pudesse ser ministro (passando a estabelecer que seria impedido apenas quem fosse condenado a pena efectiva, quando Deri foi condenado a pena suspensa).

Blinken também referiu o Irão nas palavras ao lado de Netanyahu, quando um ataque com drones, cuja responsabilidade é apontada a Israel, é visto como potencial consequência de uma maior margem dada pelos EUA a Israel para atacar o Irão na sequência do impasse nas conversações sobre o seu programa nuclear, e o apoio militar à guerra da Rússia contra a Ucrânia, como disse Ellie Geranmayeh, analista do European Council on Foreign Relations, ao The Washington Post.

O ataque, nota Aaron David Miller, antigo analista do Departamento de Estado e conselheiro em negociações israelo-árabes, nota que este ataque marca uma nova fase do conflito entre Israel e o Irão, uma fase "mais perigosa" com "mais possibilidade de risco", e também uma posição "talvez mais próxima do que nunca" entre Israel e os EUA em relação ao Irão.

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