Christian Petzold e Hong Sang-soo, Irão e Ucrânia: assim se desenha a Berlinale 2023

O programa completo da 73.ª edição do Festival de Berlim reitera o curioso slalom entre o inesperado e o evidente que vem sendo imagem de marca da competição.

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Afire, o novo filme de Christian Petzold, terá estreia na Berlinale DR

Não é nada má a companhia em que João Canijo vai encontrar-se na Berlinale 2023, que decorre de 16 a 26 de Fevereiro. A seu lado no concurso principal do festival, onde o cineasta português verá estrear-se Mal Viver, vai ter o "quem é quem" da “escola de Berlim”, com novos filmes de Christian Petzold, Angela Schanelec e Christoph Hochhäusler, e ainda Philippe Garrel, Margarethe von Trotta ou Nicolas Philibert; na secção paralela Encounters, que acolhe a outra metade do díptico de João Canijo, Viver Mal, vai haver Hong Sang-soo, Vitaly Manskiy, Lois Patiño e o filósofo trans Paul B. Preciado, entre outros.

O mesmo é dizer: a 73.ª Berlinale — a primeira em condições “normais” desde 2020, pelo meio da pandemia de covid-19 — reitera o slalom curioso, entre o inesperado e o evidente, que vem sendo a sua imagem de marca. Este ano, oscila por exemplo entre a apresentação (fora de concurso) de Superpower, o projecto que Sean Penn estava a rodar com Volodymyr Zelensky quando a guerra na Ucrânia deflagrou, e o filme-ensaio de Paul B. Preciado Orlando: My Polítical Biography, descrito em conferência de imprensa pelo director artístico do festival, Carlo Chatrian, como uma “carta a Virginia Woolf”.

O festival anunciou também, na conferência de imprensa desta manhã, que irá prestar especial atenção aos acontecimentos no Irão e na Ucrânia, quer através da selecção de filmes a exibir nas suas múltiplas secções, quer através de outras actividades a anunciar até ao arranque do certame. A atenção ao conflito em curso no Leste da Europa reflecte-se de resto também na selecção, para a secção paralela Encounters, do filme Eastern Front, assinado a meias pelo activista ucraniano Yevhen Titarenko e pelo documentarista russo exilado Vitaly Mansky (As Testemunhas de Putin).

Dos 18 títulos anunciados para a competição principal, cujo júri será presidido pela actriz Kristen Stewart, destaca-se desde já uma forte presença da “prata da casa”, com novos filmes de Angela Schanelec (Music), Emily Atef (Someday We’ll Tell Each Other Everything), a veterana do “novo cinema alemão” Margarethe von Trotta (Ingeborg Bachmann Journey into the Desert, com Vicky Krieps no papel daquela poeta e romancista), Christoph Hochhäusler (Till the End of the Night) e, sobretudo, Christian Petzold, que sucede a Undine com Afire.

Outros veteranos escalados para esta edição: o francês Philippe Garrel com Le Grand Chariot, em que conta com os seus filhos Louis e Esther no elenco; o documentarista francês Nicolas Philibert (Ser e Ter) com Sur l’Adamant, e o australiano Rolf de Heer com The Survival of Kindness. Completa-se a selecção com 20 Espécies de Abejas, da espanhola Estibaliz Urresola Solaguren; The Shadowless Tower, do chinês Zhang Lu; BlackBerry, do canadiano Matt Johnson; Disco Boy, do italiano Giacomo Abbruzzese; Limbo, do australiano Ivan Sen; Manodrome, do inglês John Trengove, Past Lives, da coreano-americana Celine Song; a animação Suzume, do japonês Makoto Shinkai; e Tótem, da mexicana Lila Avilés. Todos serão estreias mundiais, à excepção de The Survival of Kindness, Past Lives e Suzume.

Na secção paralela Encounters, é inevitável falarmos do regresso do prolífero Hong Sangsoo, cujo The Novelist’s Tale foi um dos grandes filmes de Berlim 2022, mas também do galego Lois Patiño, com o sucessor de Lua Vermelha. A nova longa de Hong chama-se in water (assim mesmo, em minúsculas), enquanto Patiño propõe Samsara, filme rodado entre o Laos e a Tanzânia.

Por esta secção passarão ainda os documentários El Eco, da mexicana Tatiana Huezo, In the Blind Spot, da turco-alemã Ayse Polat, My Worst Enemy, do iraniano Mehran Tamadon, e Le Mura di Bergamo, do italiano Stefano Savona. E também The Klezmer Project, dos argentinos Leandro Koch e Paloma Schachmann; The Adults, do americano Dustin Guy Defa; Here, do belga Bas Devos; The Cage Is Looking for a Bird, da tchechena exilada Malika Musaeva; Family Time, do finlandês Tia Louvo; Absence, do chinês Wu Lang (com Lee Kang-Sheng, o actor-fetiche de Tsai Ming-Liang); e a animação White Plastic Sky, dos húngaros Tibor Bánóczki e Sarolta Szabó.

Para lá dos dois filmes de João Canijo, Portugal estará este ano representado apenas por Susana Nobre com a sua longa de ficção Cidade Rabat, escalada para o Forum.

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