As ninfas sob Berlim

Quanto mais próximo do final, mais encantado — até que já ninguém possa dizer com certeza em que mundo estão afinal cada uma das personagens. É belíssimo.

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Undine é o mais romântico dos filmes de Petzold Christian Schulz

De Berlim conhecemos mais o céu, nas Asas do Desejo de Wim Wenders e, antes disso, num filme de Konrad Wolf, na RDA dos anos 60, que provavelmente inspirou o de Wenders, O Céu Dividido. Conhecemos menos, porque o cinema não a mostrou tanto, a relação de Berlim com a água. Undine, o filme com que Christian Petzold dá sequência a Transit (conservando o mesmo par protagonista, Franz Rogowski e Paula Beer), é o filme aquático de Berlim, ou o filme duma Berlim aquosa. Nas longas cenas em que Paula Beer, funcionária dum museu municipal, explica aos visitantes a evolução da arquitectura berlinense, das origens aos vários tempos do século XX, se não soubéssemos ficávamos a saber que Berlim era parcialmente uma cidade conquistada à água, erguida sobre os terrenos pantanosos regados pelo Spree e por outros rios e canais nas imediações. Em Undine, como o próprio título indica (talvez mais imediatamente aos latinos do que aos germânicos), tudo vem da água e tudo vai dar à água, a começar pela protagonista, essa espécie de ninfa que se diria saída de um daqueles filmes de Jacques Tourneur em que mito e realidade habitam, sem distinção de monta, o mesmo corpo e a mesma personalidade.

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