Cientistas de Coimbra comprovam êxito de técnicas ópticas no diagnóstico precoce de cancro

Técnica usada no trabalho permite ver e analisar alterações de composição química e já entrou na prática clínica de alguns hospitais dos Países Baixos, Inglaterra ou Canadá através de estudos-piloto.

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Duas das autoras do trabalho (da esquerda para a direita): Ana Batista de Carvalho e Maria Paula Marques DR

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra demonstrou que métodos de espectroscopia vibracional, técnicas não invasivas e altamente sensíveis, são eficazes na detecção precoce de cancro, revelou esta quarta-feira a instituição.

O projecto focou-se no “desenvolvimento de métodos ópticos de diagnóstico que podem usar radiação de laser ou de infravermelho (as chamadas espectroscopias de Raman e de infravermelho), com o objectivo de auxiliar os médicos na detecção precoce de cancro e avaliação de margens cirúrgicas”, informou a Universidade de Coimbra, em comunicado. O estudo foi financiado com 240 mil euros.

As actuais técnicas de diagnóstico baseiam-se em alterações morfológicas, ou seja, na forma das células e no seu ambiente, o que possibilita ao patologista determinar se elas estão normais, displásicas (alteradas) ou neoplásicas (cancerosas). Já as técnicas propostas no estudo, além de “não serem invasivas”, permitem obter “informação química para além da morfológica”, sendo que as alterações a nível químico podem preceder as variações da forma celular e esta informação adicional pode ser “essencial” para o médico poder efectuar um diagnóstico precoce da doença, explicou a Universidade de Coimbra.

“As nossas técnicas não substituem as actuais, nem o pretendem fazer. O que nós queremos é fornecer informação que não é possível obter por outros métodos”, disse, citada na nota de imprensa, Maria Paula Marques, líder do projecto. Esta técnica permite ver e analisar “alterações de composição química, por exemplo, de proteínas ou de lípidos”, e já entrou na clínica de alguns hospitais dos Países Baixos, Inglaterra ou Canadá, em estudos-piloto.

Para avaliar a sua eficácia, a equipa testou várias amostras de tecidos e os resultados foram muito positivos, demonstrando o “elevado potencial destes métodos”. “Conseguimos detectar diferenças de composição química entre o tecido maligno e não maligno. E, dentro dessas diferenças, há alguns constituintes celulares e do tecido que variam mais, os chamados marcadores. Testámos vários tipos de tecido maligno e não maligno, como, por exemplo, de cancro de mama, de língua, de próstata e de colo do útero”, frisou.

Com os biomarcadores, a equipa vai poder apurar as técnicas, de modo que sejam facilmente analisadas por qualquer clínico, mesmo que não seja espectroscopista, e poderem ser usadas no bloco operatório, por exemplo, para avaliar margens cirúrgicas intra-operatoriamente. A cientista explicou que as margens cirúrgicas representam um “grande problema para os cirurgiões”, já que, “quando retiram um tumor, os cirurgiões nunca podem ter a certeza absoluta da margem cirúrgica, sendo passível de erro”. Em suma, este estudo pretende contribuir para o “desenvolvimento de técnicas de espectroscopia vibracional de vanguarda”.

A Universidade de Coimbra deu ainda nota de que os cientistas estão já a desenvolver um protótipo, esperando que estes métodos de diagnóstico mais rigorosos e não invasivos tenham um impacto importante no sucesso da quimioterapia e ajudem no desenvolvimento de tratamentos personalizados com melhores prognósticos.

O projecto, liderado por Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, conta com a colaboração do Instituto Português Oncologia de Coimbra e do Porto e ainda do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil. A equipa inclui ainda Ana Batista de Carvalho, Inês Pereira dos Santos, Adriana Mamede, Mariana Vide Tavares e Paulo Figueiredo.

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