Como envolver os jovens portugueses na luta climática? Há um projecto para isso

Projecto europeu desenvolvido em Portugal pela Associação Zero deseja aproximar-se das comunidades e das escolas em todo o território nacional.

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A maioria dos jovens preocupa-se com as alterações climáticas, mas muitos não estão envolvidos em acções pelo clima Nuno Ferreira Santos

Já está no ar o Ativa Clima, um site sobre alterações climáticas para os jovens portugueses que contém informação variada sobre o tema e oferece ferramentas para o envolvimento na luta pelo clima. Há mesmo um guia que ajuda a que cada um de nós se possa tornar um activista ambiental em prol do planeta.

Desenvolvido em Portugal pela associação Zero, a iniciativa faz parte do projecto europeu Ativa ClimAct - Acção Climática de Cidadãos Europeus para o Desenvolvimento – e quer alcançar as comunidades e as escolas em todo o território português, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores.

O objectivo é “consciencializar as pessoas, nomeadamente os jovens, para os impactos das alterações climáticas nas suas vidas”, segundo um comunicado da Zero, sublinhando que “estamos todos conectados no que toca a este assunto”.

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Jovens australianos marcham pelo clima em Sydney, em Maio de 2022 NIKKI SHORT/EPA

O site é dirigido principalmente para as faixas etárias entre os 15 e os 35 anos. Porquê o foco nos jovens? “Para criar pressão”, responde Islene Façanha, especialista em políticas sobre energia e clima na Zero e responsável pelo projecto em Portugal. “Os jovens passam a informação à família e motivam os adultos a continuar esta luta. Além disso, no futuro vão poder estar no lugar dos actuais políticos” e ter um papel nas decisões do país.

O comunicado chama a atenção para a realidade portuguesa, onde 63% dos jovens estão muito ou extremamente preocupados com as alterações climáticas, mas apenas 17% participou numa manifestação relacionada com o tema e tem dificuldade em passar à acção na luta climática, segundo os resultados de um inquérito em 23 países europeus, entre 29 de Outubro e 19 de Novembro de 2020.

Apesar de estarem apreensivos com a crise climática, “muitas vezes a mensagem sobre as alterações climáticas não chega ao público jovem, é uma linguagem muito científica, que surge num cenário formal e falta proximidade”, explica Islene Façanha, que organizou grupos de foco com jovens portugueses para analisar esta questão antes de o site ser pensado. “Faltam ferramentas, eles sentem-se perdidos”, acrescenta.

Por isso, o Ativa Clima foi vocacionado especificamente para os jovens portugueses e tem uma linguagem fácil, mensagens directas, uma abordagem dinâmica e um aspecto visualmente apelativo, segundo Islene Façanha. “É um projecto idealizado para o público em Portugal”, diz a especialista, que está feliz com o resultado. “Sou uma apaixonada pelo projecto.”

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Milhares de pessoas manifestaram-se em Novembro de 2021, em Glasgow, durante a Conferência do Clima Robert Perry/EPA

Quem visitar o site encontra informação sobre o que são as alterações climáticas, a sua origem, os efeitos que têm tanto a nível mundial como em Portugal, quais as mudanças que estão a acontecer no presente e quais os fenómenos climáticos projectados para as próximas décadas, segundo os cenários desenvolvidos pelos cientistas. Há ainda um quizz para testar o conhecimento que se tem sobre as alterações climáticas.

Construir pontes

Uma outra secção do site oferece informação para cada pessoa poder ser mais activa. Por um lado, faz uma listagem das acções quotidianas necessárias para se reduzir o impacto ambiental. Por outro, disponibiliza um guia escrito pela Zero com a informação geral para se enveredar no activismo climático.

“É uma ferramenta para qualquer jovem que quer formar um grupo ambiental e não sabe como começar”, explica Islene Façanha. No guia, explica-se como formar um grupo activista, como realizar uma manifestação e uma petição, como comunicar com a sociedade, os prós e os contras da desobediência civil, entre outros aspectos do activismo. No documento, há ainda várias declarações de activistas em Portugal sobre o valor do activismo.

Além desta vertente mais informativa, o projecto está aberto a escolas, universidades e grupos na comunidade como associações de moradores, redes de bibliotecas, associações de estudantes, organizações não-governamentais e outros colectivos. Quem quiser pode entrar em diálogo com o Ativa ClimACT, basta enviar um e-mail e pode receber material para montar uma exposição sobre as alterações climáticas ou realizar uma conversa sobre um tema.

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Greta Thunberg tem sido uma voz mediática da juventude a nível mundial na luta pelo clima CLEMENS BILAN/EPA

“Levamos documentários e debates às escolas e nas comunidades vamos falar nos problemas que existem nelas”, diz a especialista. Se numa associação de moradores o frio nas casas durante o Inverno for um tema importante, este pode ser um ponto de partida para uma conversa sobre alterações climáticas com o Ativa ClimACT, exemplifica.

Por outro lado, é do interesse do Ativa ClimACT promover as actividades de outras associações e gerar uma rede de forças. “O Ativa procura muito a construção de pontes”, assume Islene Façanha, que fala do projecto com alegria, mas também com urgência. “Precisamos de manter a esperança viva e fazermos tudo o que pudermos para combater as alterações climáticas. Não temos um planeta B.”

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