Crise com a Bielorrússia “foi o início” da actual situação, diz embaixadora polaca

A diplomata explicou, em Lisboa, a diferença entre o tratamento dado aos refugiados ucranianos actualmente e aos vindos do Médio Oriente no final de 2021.

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Joanna Pilecka, embaixadora da Polónia em Portugal DR

A crise de refugiados do final de 2021 na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia “foi o início de toda esta operação” que conduziu à “agressão sem precedentes” da Rússia à Ucrânia e à “maior crise humanitária pós-II Guerra Mundial”, disse terça-feira a embaixadora da Polónia em Portugal, Joanna Pilecka, aos jornalistas, à margem de uma apresentação do Turismo da Polónia, em Lisboa.

Questionada sobre a diferença de tratamento dada pela Polónia aos refugiados ucranianos e aos refugiados vindos de países do Médio Oriente, sobretudo sírios e iraquianos, a embaixadora foi muito clara sobre as motivações de Minsk: “Temos de perceber, e isso é agora ainda mais evidente, que [a situação na fronteira com a Bielorrússia] fez parte de toda esta operação, foi o início. A Polónia está há muito envolvida nos processos democráticos e na ajuda à sociedade bielorrussa, sobretudo depois das eleições [de 2020]. Vários cônsules nossos foram considerados persona non grata porque, a seguir às eleições, passaram muitos vistos, humanitários e outros. A oposição democrática da Bielorrússia está na Polónia também. Isto é um factor.”

Tratou-se de uma “crise artificialmente criada”, disse, sublinhando que “todos os que entraram com pedido de asilo na Polónia foram recebidos e os processos estão a decorrer”. Impedidas de entrar foram as pessoas que “queriam passar nas zonas onde não há vedação” — e destas, assegura, 66% eram iraquianos e muitos queriam seguir para a Alemanha ou os Países Baixos. “A União Europeia tem uma resposta para estas situações, que é um pedido de asilo formal.”

Muito diferente é o drama que se está a viver neste momento na fronteira entre a Polónia e a Ucrânia, explica Joanna Pilecka, em relação ao qual “a Polónia tem respondido, não apenas ao nível governamental e das ONG, mas das próprias pessoas, que abrem as portas das suas casas aos ucranianos”. Foi a “enorme solidariedade” por parte de um povo, o polaco, que “lutou pela liberdade tantas vezes ao longo da sua história”, que permitiu que, até agora, cerca de 1,8 milhões de ucranianos tenham cruzado a fronteira. Estima-se que 300 mil tenham seguido já para outros países, o que significa que um milhão e meio estão, para já, na Polónia, onde recebem à chegada, e por pessoa, o equivalente a 250 euros.

Estes refugiados juntam-se a outros ucranianos — “entre um milhão e meio e dois milhões”, segundo a diplomata — que viviam já na Polónia (muitos deles saíram da Ucrânia depois da anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014). Muitos destes têm estado a ajudar a receber os seus compatriotas na fronteira, servindo de tradutores e trabalhando com as ONG.

Quanto à eventualidade de a Polónia poder estar perto do limite da sua capacidade para receber refugiados, Joanna Pilecka diz apenas que “ninguém calculou a capacidade” e que, sendo certo que o fluxo de pessoas não vai parar para já (são cerca de 100 mil a chegar à fronteira diariamente), “vamos precisar da ajuda dos nossos parceiros europeus”.

A uma pergunta sobre a aproximação dos ataques militares russos às fronteiras da Polónia e os riscos que isso representa, a embaixadora escusou-se a responder.

A acção do Turismo da Polónia foi organizada para coincidir com a BTL, a Bolsa de Turismo de Lisboa, e realizou-se no Palácio Verride, que foi sede da Legação da República da Polónia em Portugal após o estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, em 1922 — uma data cujo centenário se celebra este ano e que a embaixadora quis assinalar.

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