Sistema financeiro português será “menos afectado” pela guerra na Ucrânia

O impacto da guerra na Ucrânia sobre o sistema financeiro português poderá fazer-se sentir por via das alterações na política monetária, admite o presidente do BCP.

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Miguel Maya, presidente-executivo do BCP LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Num sistema financeiro “interligado”, nenhuma guerra terá um impacto “neutro”, mas os efeitos serão sentidos em escalas diferentes de país para país. E Portugal, acredita o presidente executivo do BCP, será “menos afectado” do que outros por este evento. Ainda assim, os possíveis impactos sobre a economia mundial e consequentes alterações na política monetária não são ignorados pelo banco, que, para já, adopta uma postura de “muita prudência”.

A análise foi feita por Miguel Maya, presidente-executivo do BCP, durante a apresentação de resultados anuais do banco, em conferência de imprensa que decorreu esta segunda-feira. Questionado sobre eventuais impactos directos para o banco que lidera, o responsável esclareceu que “o BCP não tem qualquer exposição, nem através da actividade em Portugal, nem através do banco na Polónia, a dívida soberana russa ou ucraniana”. Mesmo no que diz respeito a dívida empresarial, “a exposição é imaterial” e, portanto, “em termos de risco de crédito, não há qualquer motivo para preocupação”.

Quanto aos efeitos negativos que a invasão da Ucrânia poderá ter para as empresas que mantêm relações comerciais com este país ou com a Rússia, Miguel Maya também não espera um impacto significativo. “O comércio externo entre Portugal e a Rússia e a Ucrânia é muito reduzido. Não é um tema que nos cause uma grande apreensão. Poderá haver uma ou outra empresa que nos preocupe mais, mas não existe um problema para a economia portuguesa como um todo”, afirmou.

Questão diferente é o impacto indirecto que a guerra poderá vir a ter, sobretudo no que diz respeito à política monetária seguida pelo Banco Central Europeu (BCE), essa sim, com um efeito claro sobre a actividade do sistema financeiro. “O aumento dos custos da energia a nível mundial e o agravamento das tensões geopolíticas vão afectar a economia mundial e poderão afectar a política monetária. Aí, haverá impacto para o BCP”, admite Miguel Maya.

Ao mesmo tempo, tendo em conta que “o sistema financeiro está todo interligado, nada é neutro”. E o cenário actual já começa a ter efeito sobre o sistema financeiro russo. Esta segunda-feira, o BCE avisou que o Sberbank Europeu, unidade do grupo Sberbank.MM da Rússia, e duas outras subsidiárias sob a sua supervisão “estão falidos ou na iminência de falir”. Entretanto, o banco central russo decidiu subir a taxa de juro de referência de 9,5% para 20%, com o objectivo de compensar a forte desvalorização do rublo. Isto, numa altura em que o Ocidente vai agravando as sanções à economia russa, com o Tesouro norte-americano a decretar a proibição de todas as transacções com o banco central e o fundo soberano russos.

Todos estes são acontecimentos que poderão reflectir-se sobre a estabilidade do sector financeiro como um todo, mas, para já, Miguel Maya afasta motivos para preocupação, sobretudo em Portugal. “Seremos menos afectados do que a generalidade do sector financeiro, mas seremos afectados porque o sector está todo interligado”, resume.

Seja como for, considera Miguel Maya, “é cedo para conseguir ter uma perspectiva do ponto de vista macro-económico”. Assim, diz, o banco está a “ter muita prudência, procurando incorporar estes riscos nas suas decisões”.

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