Sánchez e a via portuguesa

Sánchez pode não conseguir a sua “via portuguesa” e também os portugueses estão longe de atingir a “via espanhola” que, se fosse possível replicar em Portugal, daria esperanças a Rui Rio

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O impasse político em Espanha não está a correr mal ao PSOE. Um barómetro dava ontem 41,5% aos socialistas que em 2015, já com Pedro Sánchez como líder, tiveram uns míseros 22% nas eleições gerais e umas décimas a mais nas eleições do ano seguinte, 2016 – 22,7%. Mais ou menos o que vale neste momento o PSD de Rui Rio. A confirmar-se o barómetro nas urnas que é o mesmo que, já no início do mês, dava 39,5% ao PSOE, Sánchez teria a maioria absoluta.

Não se vê como é possível sair deste beco sem saída sem eleições, com o PSOE a recusar a entrada do Podemos para o governo e o Cidadãos de Albert Rivera inflexível na recusa do apoio parlamentar – mesmo com os apelos lancinantes do Financial Times, Rivera mantém a sua oposição de não viabilizar um governo socialista. Se o Financial Times defendia que novas eleições seriam inúteis porque “seria improvável que dali saísse um resultado diferente”, é verdade que a “mediana” feita pelo El Pais entre todas as sondagens publicadas desde Abril coloca o PSOE com 31,5%. A tendência é de subida, mas se o resultado fosse coincidente com a média continuaria a obrigar a uma aliança. Nas eleições de Abril, Sánchez não teve mais do que 28,7%, apesar de ser o partido mais votado.

Sánchez insiste que quer continuar a tentar a via portuguesa, mas ainda que a presidente do PSOE jure que “a prioridade é evitar novas eleições”, não se vê como é possível sair daqui. Negociar com o Podemos não é a mesma coisa que negociar com o Bloco de Esquerda e o PCP – Espanha é um país muito mais complexo. Empenhado a substituir o Partido Popular, que liderou a direita nos bons velhos tempos do bipartidarismo e agora agoniza, o líder do Cidadãos Albert Rivera teme os custos de popularidade que seriam a consequência inevitável de um apoio a um governo socialista por parte de um partido que começou no “centrismo”, seja isso o que for, e que agora quer conquistar a liderança da direita.

Sánchez pode não conseguir a sua “via portuguesa” e também os portugueses estão longe de atingir a “via espanhola” que, se fosse possível replicar em Portugal, daria esperanças a Rui Rio. Mariano Rajoy,  o anterior líder do Partido Popular, perdeu duas eleições antes de ser primeiro-ministro, em 2004 e 2008, embora com votações expressivas acima dos 35%; Sánchez perdeu outras duas, com votações totalmente inexpressivas. Apesar das convulsões nos respectivos partidos e o desafio à liderança, aguentaram-se e chegaram a primeiro-ministro. Mas se a via portuguesa parece impossível de repetir em Espanha, a via espanhola da oposição também não criou raízes em Portugal no passado recente.

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