Protestos rigorosamente controlados perto da embaixada dos EUA

Há quem celebre e quem critique a abertura da representação dos EUA em Jerusalém. Jacqueline diz que foi Deus que a pôs aqui para viver um momento histórico, Judy fez por trazer um cartaz de protesto.

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Manifestante confronta polícia em Jerusalém ATEF SAFADI/EPA

Há algumas pessoas em júbilo absoluto: agitam bandeiras, cartazes a dizer “obrigado Trump”, tiram selfies junto ao sinal a dizer “embaixada dos EUA”, ou fotos com vários dos militares presentes. Tudo se passa a bastante distância da própria embaixada, e não é assim tanta gente.

Há no entanto alguma tensão no ar: muitas forças de segurança, dois enormes cavalos num atrelado prontos para entrar em acção. A um canto, três militares fumam reclinados nuns degraus, de cada lado há um monte de coletes e bastões da polícia anti-motim.

Quase na hora da inauguração da embaixada (que no fundo foi a transformação do consulado existente em embaixada, a verdadeira embaixada será construída mais tarde), aparece um grupo relativamente pequeno a cantar e cartazes com slogans como “a ocupação não é judaísmo”, ou “Bibi vai para a prisão” (o primeiro-ministro está a ser investigado por vários casos de suspeita de tráfico de influências e corrupção).

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Acitivistas palestinianos aproveitam o título da vencedora da Eurovisão para protestar ATEF SAFADI/EPA

Passado pouco tempo junta-se-lhe outro pequeno grupo com bandeiras palestinianas. A polícia já estava a controlar o primeiro grupo, fazendo-o mover-se. A dada altura, como que por magia, as bandeiras palestinianas desaparecem todas, e alguns dos cartazes também.

Um polícia passa com alguns restos da apreensão, um amarfanhado gigante de vermelho-preto-branco-verde, as cores da bandeira palestiniana. Ignora um jornalista que lhe pergunta o que diziam os cartazes.

Vendo isto tudo com total incredulidade está Jacqueline, que não planeou estar aqui – mas recusa a palavra acaso: “foi vontade de Deus”. Vinda dos EUA, está maravilhada por ver “um dia histórico, a profecia a cumprir-se”. Conta que foi entrevistada por um jornalista árabe e que lhe perguntou se ele estava contente com a mudança da embaixada, ele, previsivelmente, disse que não. “E eu respondi-lhe: mas isto também é para o vosso bem! As coisas estão a avançar. É uma bênção, e será uma bênção também para vocês”, diz. Porque “a terra foi prometida ao povo escolhido” e os muçulmanos também beneficiarão: só têm “de ser humildes”.

Já Judy, americana-australiana e judia, vê as coisas de maneira totalmente oposta: “Senti que era minha responsabilidade vir protestar, porque também os palestinianos têm direito a ter o seu Estado e a sua capital na parte oriental de Jerusalém”. Neste dia está impressionada com “a imensa onda de ódio e ignorância” da parte dos manifestantes, a maioria religiosos, do outro lado. “Estive lá com este cartaz e a polícia estava a fazer círculos à minha volta para me proteger. Todos devíamos poder expressar-nos, desde que com honra e respeito”.

O movimento Peace Now decidiu não marcar a ocasião com um protesto no local, para não promover confronto, mas quis pôr um placard no cimo da colina que dá para a embaixada. Depois de muito negociar com as autoridades, acabou por ficar num local em que dificilmente seria vista de baixo.

O problema do cartaz era, segundo a polícia, ter uma bandeira palestiniana, o que podia ser incitamento. Mas o cartaz, explicou Yariv Shacham, responsável do movimento, muito discreto a uns metros dele, “tem uma mensagem pró-israelita”, por dizer “duas embaixadas em Jerusalém – um interesse de Israel”.

Shacham notou que “neste dia há muitas pessoas que não estão prontas para esta crítica”: que ao assumir que a questão de Jerusalém está resolvida, acaba com a “a única maneira de realizar a visão sionista, que é ter dois estados e Jerusalém Ocidental como a capital de Israel e Oriental como capital de um Estado palestiniano”.

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