BCE admite “rever” política monetária para estimular a economia

“Não há limite” para a acção do banco central, diz Draghi. BCE conta com inflação baixa durante um longo período de tempo e admite anunciar novos estímulos em Março.

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Draghi disse que as decisões do BCE foram aprovadas por unanimidade na reunião de governadores Kai Pfaffenbach/Reuters

Quando, em Março, o conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) se reunir em Frankfurt, Mario Draghi vai pôr várias cartas em cima da mesa. Com o aumento dos riscos sobre a economia da zona euro, o BCE admite repensar a sua política monetária, para estimular a economia e fazer subir a inflação.

“Será necessário rever e, possivelmente, reconsiderar a nossa orientação da política monetária na nossa próxima reunião no início de Março, quando as novas projecções macroeconómicas estiverem disponíveis”, afirmou o presidente do BCE, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião desta quinta-feira do banco central em Frankfurt.

Draghi não quis especificar o que poderá estar em cima da mesa, mas fez questão de dizer: “Não há limite na nossa acção”. Um sinal de que a autoridade monetária do euro tem “o poder, a vontade e a determinação em agir”, indo mais além nas medidas de estímulo à economia da zona euro.

“Não há limite na utilização dos instrumentos, no quadro do nosso mandato”, reforçou Draghi, sublinhando que as decisões tomadas na reunião desta quinta-feira forma tomadas por unanimidade.

As palavras de Draghi tiveram um efeito imediato nos mercados, com uma descida do euro face ao dólar e uma aceleração dos ganhos nas bolsas europeias. Embora admitindo “rever” a política do BCE, Draghi considerou “totalmente apropriada” a decisão, tomada há pouco mais de um mês, de estender o programa de compra de activos financeiros (entre eles dívida pública).

Já não se esperava que na reunião do conselho de governadores desta quinta-feira fossem decididas novas medidas de estímulos, depois de o BCE ter anunciado no mês passado o prolongamento do programa de compra de activos financeiros até, pelo menos, Março de 2017, a um ritmo de 60 mil milhões de euros por mês. Mas ficou claro que o BCE poderá agir já na reunião de 10 de Março.

Impulsionar o crescimento

As perspectivas sobre a inflação deterioraram-se e é preciso dar um empurrão ao crescimento das economias do euro, disse Draghi. O BCE está já a contar que as taxas de juro do BCE “permaneçam aos níveis actuais ou mais baixas por um longo período de tempo”.

Num ambiente negativo nos mercados mundiais, em que o banco central vê alguns riscos a aumentarem sobre a economia da zona euro, Draghi procurou serenar os investidores e analistas sobre o compromisso do BCE: “Ninguém deve o colocar em dúvida”.

Quando questionado se a autoridade monetária pode vir a estender as compras de dívida a outras categorias de activos que hoje não fazem parte do programa de estímulos ou se poderá vir, mais uma vez, a baixar as taxas de juro de referência para combater a baixa inflação, Draghi limitou-se a repetir que a actuação do banco não tem limites.

Em relação à trajectória dos preços, as perspectivas pioraram. “A dinâmica da inflação na zona euro continua a ser mais fraca do que o previsto”, reforçou Mario Draghi, reconhecendo assim que a meta de fazer acelerar os preços na zona euro continua longe de ser alcançada (em Dezembro, a taxa de inflação manteve-se nos 0,2%, quando o objectivo de médio prazo é que regresse a um nível próximo, mas baixo, de 2%).

Para já, o BCE decidiu manter inalteradas as taxas de juro de referência em mínimos históricos, com a taxa dos depósitos nos -0,3%, a taxa aplicável às operações principais de refinanciamento nos 0,05% e a taxa relativa à cedência de liquidez nos 0,3%.

As palavras de Draghi apontam para um menor optimismo sobre a evolução da economia europeia. “Os riscos descendentes [sobre a actividade económica] aumentaram novamente, no meio de uma elevada incerteza sobre as perspectivas de crescimento das economias emergentes, a volatilidade financeira nos mercados financeiros e de commodities [matérias-primas], e os riscos geopolíticos”.

A taxa de crescimento da zona prevista pela Comissão Europeia para este ano é de 1,8%. Mas perante os riscos que se intensificaram no início de 2016, a palavra de ordem deixada pelo BCE aos governos da zona euro passa por pôr as economias a acelerar. “Todos os países devem pôr em prática políticas orçamentais propícias ao crescimento”, pediu Draghi.

Para que não restassem dúvidas, Draghi afirmou que para além das acções do BCE, é preciso que haja um contributo decisivo de outras medidas, aquilo a que chamou de “reformas estruturais” para melhorar o ambiente económico, o investimento produtivo, a criação de emprego e a produtividade das economias. Estimular a recuperação das economias através das politicas orçamentais, sim, mas com uma condição diz Draghi: cumprindo as regras orçamentais da União Europeia.

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