EUA, Reino Unido e França testam proposta russa sobre Síria no Conselho de Segurança

As Nações Unidas tornam-se o palco principal para a luta sobre as armas químicas sírias. Aguarda-se que seja marcada para esta terça-feira ou para quarta-feira nova reunião na ONU

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Protesto frente ao Capitólio, em Washington Win McNamee/Getty Images/AFP

França, Reino Unido e Estados Unidos juntaram-se para apresentar uma proposta de resolução sobre a Síria ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, após a proposta russa para que o regime sírio entregasse o seu arsenal de armas químicas.

A reunião esteve convocada para se iniciar às 21h (hora de Lisboa) desta terça-feira, mas foi adiada, a pedido da Rússia, sem que fosse avançada nova hora. Os termos da resolução a apresentar ao Conselho de Segurança estarão ainda a ser discutidos, diz a BBC, nomeadamente quais as armas que serão retiradas da Síria, para onde serão levadas, quem supervisionará essa operação e qual será a calendarização do processo.

A Rússia pretende apresentar uma declaração no Conselho de Segurança, apelando ao secretário-geral das Nações Unidas e à organização que gere a aplicação da Convenção das Armas Químicas para verificar o arsenal deste tipo de armas na Síria, adiantou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. As propostas de Moscovo devem ser entregues aos americanos “terça-feira”, adiantou o secretário de Estado norte-americano John Kerry.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, explicou os objectivos da proposta feita em conjunto com Paris e Washington. “Temos necessidade de um calendário. Na proposta de resolução que redigimos é preciso que isso fique claro”, afirmou, numa comissão parlamentar em Londres. Na proposta francesa, Paris exigia o desmantelamento do arsenal químico sírio e que estas armas fossem postas sob controlo internacional – num texto que a Rússia, aliado de Damasco com direito de voto no Conselho de Segurança, considerou “inaceitável”.

Promessas sírias
O ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Walid Mouallem, afirmou entretanto à televisão Al-Mayadeen TV que o seu país está disposto a mostrar as suas armas à comunidade internacional – e até que a Síria, um dos poucos países que não assinaram a Convenção Internacional sobre as Armas Químicas, juntamente com Angola, Egipto, Sudão do Sul e Coreia do Norte, quer agora assinar este tratado. Mas não é claro até que ponto as palavras do ministro representam a vontade de Bashar Al-Assad.

“Estamos prontos a revelar onde se encontram as armas químicas, a cessar a sua produção e a mostrar as instalações aos representantes da Rússia, de outros países e da ONU”, declarou Mouallem, num comunicado transmitido à agência russa Interfax. “O nosso empenho na iniciativa russa tem por objectivo deixar de possuir armas químicas.”

Para os Estados Unidos, França e Reino Unido, a proposta de resolução a apresentar em breve destina-se a verificar se a proposta russa de desarmamento destas armas proibidas por um tratado internacional que é reconhecido de forma quase universal – a Síria não o assinou, mas apenas outros quatro países a acompanham – será uma distracção, para ganhar tempo, ou se é uma proposta séria.

“Vamos testar esta oferta. É uma proposta que vale a pena explorar. Mas devemos ser cépticos, devemos ser cautelosos. Não queremos cair numa táctica destinada a ganhar tempo para o regime” sírio, afirmou Cameron, citado pelo jornal The Guardian.

Obama quer adiar voto
Nos Estados Unidos, segue-se a mesma linha. Espera-se que o Presidente Barack Obama, que fará um discurso à nação esta noite, pelas 2h (hora de Lisboa) encoraje a via aberta pela proposta russa, mas continue a manter a pressão sobre o Congresso para que autorize uma intervenção militar na Síria. “A resolução do Conselho de Segurança será a única forma de ter confiança no plano da Rússia para as armas químicas russas”, afirmou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que participou num debate público (hangout) no Google Plus ao fim da tarde.

No entanto, o jornal Politico diz que Obama quer agora que o Congresso adie a votação sobre o uso de força na Síria até que este esforço diplomático nas Nações Unidas iniciado nesta terça-feira dê algum resultado, para bem ou para mal.

Uma primeira votação deveria ter lugar na quarta-feira, no Senado, mas foi já adiada pelo líder da maioria democrata, Harry Reid, sem que tenha sido fixada nova data. O líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, por seu lado, anunciou que votaria contra a autorização de ataques contra a Síria, afirmando que a via diplomática merecia ser “explorada”. Nesta terça-feira, Obama, num almoço com os senadores, disse que o Congresso não devia votar “no futuro imediato”, relata por sua vez a AFP.

De Moscovo, vêm sinais de incomodidade com a acção de Washington, Paris e Londres. Vladimir Putin avisou que os EUA devem renunciar ao recurso à força na Síria. “É difícil fazer com que qualquer país – a Síria ou qualquer outro – se desarme unilateralmente – se estiver a ser preparada uma acção com uso de força”, afirmou o Presidente russo.
“A posição da Rússia sobre esta questão é bem conhecida: somos contra a proliferação de armas de destruição maciça, químicas ou nucleares”, frisou Putin.

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