Fogo em Sever do Vouga obrigou a cortar trânsito na A25

Circulação foi cortada ao quilómetro 41 da A25, na zona de Seixo. Temperaturas altas dificultam trabalho dos bombeiros, com 11 distritos em aviso laranja devido ao calor.

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Incêndio deflagrou às 13h15 de sexta-feira Nelson Garrido/Arquivo

O incêndio que deflagrou na última madrugada em Talhadas, Sever do Vouga, mobiliza agora 311 bombeiros que se viram obrigados a cortar o trânsito ao quilómetro 41 da A25, no sentido Viseu-Aveiro, devido ao fumo e à proximidade das chamas.

Fonte da concessionária Ascendi disse à Lusa que o trânsito também pode ser cortado, a qualquer momento, no outro sentido. De acordo com a mesma fonte, às 16h40 o trânsito na A25 (auto-estrada) entre Viseu e Aveiro estava a ser desviado no nó de Talhadas pela EN333em direcção a Águeda ou Sever do Vouga.

No sentido contrário, entre Aveiro e Viseu, as viaturas estavam a parar ao quilómetro 39 da A25, porque não tinham chegado meios para desviar o trânsito no nó de Carvoeiro

Este incêndio que consome zonas de mato do distrito de Aveiro chegou a reunir mais de 300 bombeiros e tem mobilizado 93 viaturas, e três meios aéreos: um helicóptero bombardeiro Kamov e dois aviões Canadair, sendo que estes últimos foram deslocados para um novo incêndio, que deflagrou entretanto em Pessegueiro do Vouga, mais propriamente em Botica, no mesmo concelho de Sever do Vouga, a quatro quilómetros do anterior

Quanto ao fogo que teve origem em Talhadas, algumas pessoas foram retiradas das suas casas “por cautela”, disse na manhã desta sexta-feira à Lusa o Comando Distrital de Operações de Socorro de Aveiro. Entretanto a situação foi normalizada em Macida e Moita, duas aldeias de onde foram retirados seis habitantes idosos, mais para prevenir situações de pânico entre os próprios e respectivos familiares. Nesta altura existem já condições para que regressem às suas casas, que não chegaram a estar verdadeiramente em perigo, apesar de o fogo ter andado próximo (a cerca de 150 metros) de algumas delas.

Às 10h30, uma das frentes que mais preocupava os bombeiros era a que progredia em direcção a Moita, onde as chamas lavravam com maior intensidade e chegaram perto da A25. Esta frente continua activa, mas os bombeiros conseguiram afastá-la de habitações, que agora se encontram a uma distância considerada segura, de dois quilómetros. Por volta das 16h, contudo, um reacendimento na zona de Seixo obrigou os bombeiros a cortar o trânsito na A25 ao quilómetro 41.

Os meios terrestres e aéreos também conseguiram já dominar, apesar dos reacendimentos constantes, as frentes de Doninhas e de A-dos-Ferreiros, localidade em cujo campo de tiro foi instalado o comando operacional de combate ao incêndio. O incêndio está a ser combatido por corporações dos distritos de Aveiro, Porto, Lisboa, Coimbra e Leiria.

Ao princípio da tarde, o comandante da Protecção Civil Distrital de Aveiro, José Bismark, previa que o vento deixasse de soprar de leste para passar a soprar de noroeste - uma evolução desfavorável, que implicou uma redefinição da táctica de combate às chamas e uma reafectação de meios. Terá sido este vento que reavivou as chamas na zona da A25.

Autarca aponta atraso aos meios aéreos

Gil Nadais, o presidente da Câmara de Águeda, um concelho vizinho de Sever do Vouga, criticou na manhã desta sexta-feira que os meios aéreos envolvidos no combate ao incêndio de Talhadas apenas tenham começado a operar às 8h, quando “havia visibilidade muito mais cedo”. “Sem ser especialista em fogos, acho que não é adequado que os meios aéreos só tenham começado a trabalhar às 8h, porque tivemos condições de visibilidade bastante mais cedo, a partir das 5h30 ou 6h. Foi nessas alturas que o fogo esteve mais perto das povoações e que houve maior sobressalto”, disse à Lusa.

O autarca afirmou a convicção de que a intervenção atempada dos meios aéreos “poderia ter ajudado a resolver há mais tempo a ameaça que pairava sobre algumas povoações e contribuído para que o incêndio não se prolongasse”.
Gil Nadais falava à Lusa após ter feito uma viagem de reconhecimento no helicóptero da Protecção Civil, relatando ter visto “uma área bastante extensa queimada, bastantes focos ainda activos, e uma frente com cerca de dois quilómetros, numa zona com poucas acessibilidades que se dirigia a Lombada, no concelho de Águeda”.

O presidente da Câmara de Águeda afirmou que todos os meios da autarquia estão à disposição das operações, “procurando responder a tudo o que é solicitado” e referiu a importância que está a ter o tanque de grande capacidade de armazenamento de água, recentemente construído pelo município em Mutedo, para o reabastecimento do helicóptero. “O problema deste incêndio é que é muito grande e teve várias frentes que se estenderam muito. Conseguiu-se combater aquelas que ameaçavam as casas e que já não estão em perigo, mas há muito trabalho para fazer e uma grande frente ainda a avançar com muita força”, descreveu então. 

 Outros fogos

Ainda de acordo com o site da Autoridade Nacional de Protecção Civil, há mais um incêndio com uma frente activa, que deflagrou às 9h07 numa zona florestal em Monte Famaco, concelho de Vila Velha de Ródão (Castelo Branco). Às 11h05 o incêndio foi dominado mas continuavam no terreno mais de 100 bombeiros, apoiados por 24 veículos e três meios aéreos.

Ao início da manhã, o site da Protecção Civil apresentava outro incêndio de grandes proporcões, que deflagrou às 4h05 também numa zona de mato mas na Serra das Flores, no concelho de Gondomar, distrito do Porto.

Na quinta-feira, no total, foram registadas 166 ocorrências em todo o país, que mobilizaram 4519 bombeiros e 1158 veículos. Foram necessárias quase 70 missões de meios aéreos. Desde a meia-noite até ao início da manhã já foram registadas 43 ocorrências, sendo que só cinco estão activas e apenas as de Talhadas e da Serra das Flores inspiram maiores cuidados.

As chamas que deflagraram na quinta-feira às 22h46 em Alcaria da Serra, concelho da Vidigueira, distrito de Beja, foram entretanto dominadas.

Muito calor nos próximos dias

O combate às chamas está a ser dificultado pelo calor que se faz sentir em vários distritos. As previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) apontam para que os próximos dias continuem a ser de muito calor, com as temperaturas máximas a atingirem valores entre os 38º e os 44º nas regiões do Vale do Tejo e do Interior sul. No litoral oeste e no interior norte e centro os termómetros vão variar entre os 32º e os 40º e no litoral sul entre os 27º e os 32º. A partir de segunda-feira as temperaturas deverão descer de novo.

Nesta sexta-feira o IPMA colocou 31 concelhos de 12 distritos (Viana do Castelo, Vila Real, Braga, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu, Coimbra, Guarda, Santarém, Leiria e Faro) em risco máximo de incêndio. Quase todo o país está sob risco muito e alto. O risco de incêndio determinado pelo IPMA engloba cinco níveis, variando entre reduzido e máximo. O cálculo é feito com base nos valores observados às 13h de cada dia da temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento e quantidade de precipitação ocorrida nas últimas 24 horas, explica a Lusa.

Para esta sexta-feira o IPMA colocou em aviso laranja 11 distritos: Braga, Vila Real, Bragança, Guarda, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal, Évora e Beja. O aviso laranja é o segundo mais grave de uma escala de quatro e que pressupõe uma situação meteorológica de risco moderado a elevado. Com aviso amarelo Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Viseu, Santarém e Portalegre. Só Faro está com aviso verde.

A época mais crítica de incêndios florestais, a fase Charlie, começou no dia 1 de Julho, prolongando-se até 30 de Setembro. Envolve 9337 operacionais, 2172 viaturas, 45 meios aéreos e 237 postos de vigia.

 

Notícia actualizada às 16h22 com informação sobre o corte da A25, ao quilómetro 41, na zona de Seixo, Sever do Vouga
 
 

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