EUA dizem que aviso feito à Rússia sobre ataque incluía possibilidade de Crocus Hall

Diário The Washington Post cita fontes que contradizem a afirmação russa de que a informação norte-americana sobre o potencial ataque fora vaga.

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O atentado foi considerado o pior a atingir a Rússia nos últimos 20 anos Evgenia Novozhenina/Reuters
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O aviso que os Estados Unidos fizeram à Rússia sobre um potencial ataque terrorista do Daesh em Moscovo incluía a possibilidade de o alvo ser a sala de concertos dos Crocus City Hall, disseram responsáveis ao Washington Post.

O grau de especificidade traduz a confiança dos EUA na preparação do ataque que poderia matar um grande número de civis, diz o Washington Post, acrescentando que é muito pouco habitual que seja indicado o potencial alvo em avisos feitos no âmbito da política de “dever de avisar” (duty to warn) países estrangeiros não aliados sobre planeamento de ataques que possam matar civis, já que há o risco de expor as actividades ou fontes humanas que obtiveram a informação.

Esta nova informação contradiz a afirmação russa de que o alerta tinha sido muito vago e levanta mais questões sobre a falta de medidas não só sobre a prevenção do local onde foram mortas mais de 140 pessoas, como sobre a grande demora de chegada de forças de segurança após o início do ataque de 22 de Março, considerado o pior dos últimos 20 anos na Rússia.

O atentado foi reivindicado pelo Daesh K, um ramo do Daesh, que se auto-intitula Estado Islâmico, que divulgou ainda vídeos dos atacantes no local. O Presidente russo, Vladimir Putin, tentou culpar a Ucrânia pelo ataque, sugerindo que os homens iriam fugir para a Ucrânia, apesar de esta ser, como apontaram muitos analistas na altura, uma fronteira intensamente vigiada.

No início de Março, houve ainda um alerta público da embaixada americana em Moscovo para os seus cidadãos evitarem locais com muita gente em Moscovo, incluindo salas de concertos, dada a possibilidade de um ataque, que é um tipo de aviso diferente do feito às autoridades russas no âmbito da política de “dever de avisar”.

Dias antes do ataque, Vladimir Putin falou desse aviso americano, acusando os Estados Unidos de tentativa de “intimidação e desestabilização” com este alerta.

O Washington Post diz que há indicações de que inicialmente a Rússia levou a sério o aviso, feito a 7 de Março, que incluía também planos do Daesh atacar uma sinagoga: no dia seguinte, o serviço de informação e segurança interna FSB anunciou que tinha impedido um ataque a uma sinagoga na capital e detido vários suspeitos.

Também houve algumas medidas na sala de concertos, diz ainda o Post, citando uma entrevista dada a um jornalista russo no YouTube por Islam Khalilov, 15 anos, que disse ter estado a trabalhar na noite do ataque, diz que os funcionários da sala de concertos foram alertados para a possibilidade de um ataque não muito depois do dia 7 de Março. “Deram-nos instruções sobre o que fazer e para onde levar as pessoas”, contou. Durante uns dias, houve controlos mais rigorosos à entrada, incluindo com cães.

O jornal norte-americano especula que como não houve uma tentativa de ataque nos dias seguintes, as autoridades russas terão pensado que a informação era errada e voltaram à sua actuação normal — que é prestar atenção sobretudo à oposição interna.

Este contraste foi, aliás, notado por pessoas comuns em declarações a media estrangeiros, fazendo comparações por exemplo entre a enorme presença policial no funeral do opositor Alexei Navalny e a falta de polícia, e demora em chegar, no atentado no Crocus City Hall.

Enquanto isso, o Irão, que foi no início de Janeiro alvo de um grande ataque também reivindicado pelo Daesh K, terá igualmente dado informação à Rússia sobre um potencial ataque, diz a agência Reuters.

“Dias antes do atentado na Rússia, Teerão partilhou com Moscovo informação sobre um possível grande atentado terrorista no interior da Rússia, informação obtida durante os interrogatórios dos detidos ligados a atentados bombistas mortais no Irão”, disse uma das três fontes que falaram à Reuters do aviso iraniano.

Os atentados no Irão, que atingiram uma cerimónia que assinalava o aniversário da morte do importante comandante Qassem Soleiman, fizeram mais de cem mortos. O Irão apontou primeiro o dedo a Israel, mas afirmou mais tarde que a responsabilidade era do Daesh, anunciando ainda a detenção de um comandante do grupo terrorista.

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