Sondagem: intenções de voto no Partido Conservador caem para o pior nível em mais de 40 anos

Em ano provável de eleições no Reino Unido, inquérito da Ipsos atribui 20% das preferências aos conservadores, no poder. Trabalhistas lideram com mais 27 pontos percentuais que os tories.

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Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido e líder do Partido Conservador Reuters/Belinda Jiao
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A menos de um ano da realização das eleições legislativas no Reino Unido, o Governo britânico continua sem antídoto para reverter a sua impopularidade e para contrariar as sucessivas sondagens negativas para o Partido Conservador. Segundo o último inquérito da Ipsos, publicado esta segunda-feira no Evening Standard, as intenções de voto nos tories atingiram o nível mais baixo desde 1978.

Liderado pelo primeiro-ministro, Rishi Sunak, desde o final de 2022, e no poder há quase 15 anos, o Partido Conservador recolhe apenas 20% das preferências no estudo da Ipsos, estando a 27 pontos de distância do Partido Trabalhista, de Keir Starmer, que soma 47%.

O Labour até cai dois pontos percentuais em comparação com a sondagem da mesma empresa publicada no dia 30 Janeiro, mas a perda de sete pontos por parte dos conservadores – após um mês que viu o Reino Unido entrar em recessão, os tories perderem mais dois deputados no Parlamento em eleições suplementares e o ex-vice-presidente do partido, Lee Anderson, ser suspenso por dizer que o presidente trabalhista da Câmara de Londres, Sadiq Khan, é “controlado” por “islamistas” – criou este fosso tão alargado entre as duas principais forças políticas do país.

A Ipsos informa que as últimas vezes que os conservadores tiveram números próximos destes 20% foram em Dezembro de 1994 e em Maio de 1995 (22%), quando John Major liderava o partido; em Julho de 1997 (23%), sob a chefia de Willam Hague; e em Dezembro de 2022 (23%), poucos meses depois de Sunak ter sucedido a Liz Truss, detentora do recorde da governação britânica mais curta de sempre (49 dias).

A publicação deste inquérito surge dois dias antes de Jeremy Hunt, ministro das Finanças, revelar o orçamento para o próximo ano fiscal, um importante momento do calendário político britânico, que, tendo em conta a proximidade das legislativas, está a ser encarado com uma das últimas oportunidades para Governo ganhar pontos junto do eleitorado.

Nos termos da lei eleitoral, o Reino Unido terá de ir a votos até ao final de Janeiro de 2025. Sunak já afirmou, no entanto, que Downing Street está a apontar a ida às urnas para a “segunda metade” de 2024, provavelmente depois do Verão.

Muitos desafios

Uma sondagem da YouGov, publicada em meados de Janeiro, no Telegraph, já tinha sugerido que o Partido Conservador pode vir a perder quase 200 deputados e apontava para uma maioria trabalhista de 120 representantes na Câmara dos Comuns do Parlamento de Westminster.

“As comparações históricas continuam a ser nefastas para Rishi Sunak e para os conservadores”, assume Gideon Skinner, responsável pelo departamento de Investigação Política da Ipsos, em declarações reproduzidas no site da empresa de sondagens.

“O Ipsos Political Monitor começou no final dos anos 1970 e nunca tinha registado uma percentagem de votos nos conservadores tão reduzida como esta. E as tendências sobre satisfação com o [trabalho do] primeiro-ministro e com o seu governo, desde que tomou posse, também estão a cair”, acrescenta.

Segundo a sondagem, baseada nas respostas de 1004 pessoas, recolhidas entre os dias 21 e 28 de Fevereiro, a insatisfação com o Governo atingiu os 83% (-73%, juntando satisfeitos com insatisfeitos) e a avaliação do trabalho de Sunak como chefe do executivo chegou aos 73% (-54%).

O líder trabalhista, Keir Starmer, não tem uma boa avaliação (-26%, ligeiramente acima dos -29% registados em Maio de 2021, o seu pior resultado), mas o Labour obtém uma ligeira vantagem na comparação entre as propostas dos dois principais partidos que, de acordo com os inquiridos, são vistas como mais adequadas para lidar com a situação económica (31% para os trabalhistas contra 23% para os conservadores).

“Combinando [as más sondagens dos tories] com o facto de os trabalhistas aparecerem à frente em questões de credibilidade económica, a par dos pontos fortes habituais [nas propostas] sobre serviços públicos, isto significa que os conservadores enfrentam grandes desafios em várias frentes se quiserem inverter a situação”, conclui Skinner.

Envolto em escândalos políticos e em disputas internas há pelo menos dois anos, o Partido Conservador carrega ainda o peso do desgaste causado por mais de 14 anos no poder, que incluíram cinco primeiros-ministros (David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak), um referendo à Europa, um referendo à independência da Escócia, a saída do Reino Unido da União Europeia, uma pandemia, duas crises económicas e um conflito em solo europeu.

Na sondagem publicada esta segunda-feira no Standard, destaca-se ainda a subida das intenções de voto nos Liberais-Democratas (sobem de 7% para 9%), no Partido Verde (7% para 8%) e no Reform UK (4% para 8%), os três partidos que aparecem depois do Partido Conservador no inquérito da Ipsos.

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