Ministros do G20 dizem que a solução de dois Estados é a única solução para o conflito israelo-palestiniano

Chefe da diplomacia brasileira diz que houve “unanimidade virtual” sobre o tema durante o encontro de dois dias com os seus homólogos no Rio de Janeiro. Borrell corroborou.

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Mauro Vieira, ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, recebeu os seus homólogos do G20 no Rio de Janeiro Reuters/RICARDO MORAES
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Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G20, reunidos nos últimos dois dias no Rio de Janeiro, foram quase unânimes no seu apoio a uma solução de dois Estados enquanto único caminho para a paz no conflito israelo-palestiniano, afirmou, na quinta-feira, o chefe da diplomacia do Brasil, Mauro Vieira.

“Houve uma unanimidade virtual sobre a solução de dois Estados como a única solução para o conflito”, disse o ministro brasileiro, no encerramento da cimeira.

Vieira sublinhou que todos os membros do grupo composto pelas 20 maiores economias do mundo – Portugal esteve representado como país observador, a convite do Governo brasileiro, por João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros – enfatizaram a sua preocupação com a guerra na Faixa de Gaza e com o risco de o conflito se alastrar pelo Médio Oriente.

Segundo o ministro, houve pedidos de cessar-fogo e de autorização do acesso a Gaza para ajuda humanitária e “muitos” países criticaram a ofensiva militar de Israel em Rafah, a principal via de fuga dos deslocados e refugiados e de entrada de ajuda no enclave, junto à fronteira com o Egipto.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o seu Governo de coligação com partidos de extrema-direita rejeitam, no entanto, e em grande medida, o estabelecimento de um Estado palestiniano.

Não obstante, os Estados Unidos, principais aliados de Israel, continuam a defender que a solução de dois Estados é a forma mais viável de implementar uma paz duradoura na região. Washington tem, ainda assim, rejeitado os apelos de alguns países, como o Brasil, para um cessar-fogo imediato.

Apesar de os EUA terem vetado esta semana, e pela terceira vez, uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o conflito, contribuindo para o crescimento da frustração internacional com o apoio do país a Israel, Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, diz que encontrou “pontos em comum” com vários membros do G20 sobre a situação em Gaza.

Numa conferência de imprensa realizada após a cimeira, Blinken afirmou que o fim do conflito era um objectivo comum a todos, mas defendeu que a melhor maneira para o conseguir é através de um acordo entre Israel e o Hamas sobre a libertação de reféns, que os EUA estão a ajudar a mediar.

“Pode haver diferenças sobre estratégias e pode haver divergências sobre esta resolução do Conselho de Segurança, mas estamos a tentar focar-nos verdadeiramente em obter resultados”, disse o chefe da diplomacia dos EUA.

“Putin quer continuar” a guerra na Ucrânia

O encontro dos ministros do Negócios Estrangeiros no Rio, que também serviu para o G20 definir a sua agenda sob a presidência do Brasil, durante este ano, focou-se essencialmente nos conflitos em Gaza e na Ucrânia.

O alto representante para a Política Externa e Segurança da União Europeia, Josep Borrell, também revelou que houve consenso sobre a necessidade de uma solução de dois Estados por parte de todos os oradores que falaram sobre o conflito.

“Não ouvi ninguém dizer que é contra. Houve um apelo firme à solução de dois Estados”, disse aos jornalistas. “É consensual entre nós.”

“Não haverá paz (…), não haverá uma segurança sustentável para Israel a menos que os palestinianos tenham uma perspectiva política clara de construírem o seu próprio Estado”, defendeu Borrell.

O chefe da diplomacia da UE disse ainda que a crise na Faixa de Gaza estende-se à Cisjordânia ocupada, que, afirmou está “totalmente a ferver” com colonos israelitas a “atacarem civis palestinianos”.

Sobre a Ucrânia, Borrell esclareceu que não viu qualquer sinal da Rússia de que venha a aceitar um cessar-fogo. “Putin quer continuar esta guerra”, lamentou, referindo-se ao Presidente russo.

Na reunião de quarta-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros ocidentais do G20 criticaram a Rússia pela sua invasão da Ucrânia, enquanto o ministro russo, Serguei Lavrov, os ouvia.

Blinken disse: “Se tivessem estado naquela sala, como esteve o ministro dos Negócios Estrangeiros Lavrov, teriam ouvido um coro muito forte (…) sobre o imperativo de acabar com a agressão russa [à Ucrânia].”

Mauro Vieira revelou ainda que todos os países do G20 apoiaram as prioridades que o Brasil definiu para o grupo para 2024: reformar as Nações Unidas e outras organizações multilaterais; combater as alterações climáticas; e reduzir a fome e a pobreza no mundo.

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