Telescópio espacial James Webb “apanha” 19 galáxias em espiral

Quase duas dezenas de galáxias semelhantes à Via Láctea foram captadas pelo telescópio James Webb. As imagens permitem espreitar para lá das poeiras que limitavam o olhar do telescópio Hubble.

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A galáxia NGC 1512, a 30 milhões de anos-luz da Terra, é uma das 19 galáxias que o James Webb espreitou NASA/ESA
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Uma das galáxias mais longínquas é a NGC 2835, a 35 milhões de anos-luz da Terra NASA/ESA
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O telescópio James Webb consegue ver para lá das poeiras ao contrário do “velhinho” telescópio Hubble NASA/ESA
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A NGC 1300 é a imagem mais longe que o telescópio James Webb fotografou, a 69 milhões de anos-luz NASA/ESA
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Uma série de novas imagens capturadas pelo telescópio espacial James Webb mostra ao detalhe 19 galáxias em espiral que moram perto da nossa Via Láctea – algo que também oferece novas pistas sobre a formação das estrelas e a estrutura e evolução das galáxias.

As imagens foram divulgadas esta segunda-feira por uma equipa de cientistas envolvidos no projecto Physics at High Angular Resolution in Nearby Galaxies (Phangs, no acrónimo em inglês), sediado em vários observatórios astronómicos em todo o mundo.

Entre as 19 galáxias observadas, a mais próxima é a NGC5068, a cerca de 15 milhões de anos-luz da Terra, e a mais distante de todas é a NGC1365, a cerca de 60 milhões de anos-luz. Um ano-luz é a distância que a luz atravessa ao longo de um ano, ou seja 9,5 biliões de quilómetros.

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A colecção completa das galáxias observadas pelo telescópio espacial James Webb NASA/ESA

O telescópio espacial James Webb foi lançado no Natal de 2021, pela NASA e pela Agência Espacial Europeia (ESA), e começou a recolher dados no ano seguinte, alterando a nossa compreensão do Universo primitivo enquanto tira fotografias fabulosas do cosmos. O telescópio em órbita capta o Universo sobretudo em infravermelho. O telescópio espacial Hubble, lançado em 1990 e ainda operacional, analisou o Universo sobretudo em comprimentos de onda ópticos e ultravioleta.

As galáxias em espiral, que fazem lembrar enormes cata-ventos, são um tipo comum de galáxia. Por exemplo, a nossa Via Láctea é um dos casos.

As novas observações resultam da câmara de infravermelhos próximos e do instrumento de infravermelhos médios do telescópio James Webb. Nestas imagens podem ser vistos cerca de 100.000 conjuntos de estrelas e milhões (ou mesmo milhares de milhões) de estrelas individuais. “Estes dados são importantes porque nos dão uma nova visão sobre a fase inicial da formação das estrelas”, explica Thomas Williams, astrónomo da Universidade de Oxford (Reino Unido), que liderou o trabalho de processamento de dados destas imagens.

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A galáxia NGC 628 é um dos exemplos que ajudam a desvendar a fase inicial da formação das estrelas NASA/ESA

Desvendar a estrutura de poeira e gás

“As estrelas nascem nas profundezas de nuvens de poeira que bloqueiam completamente a luz nos comprimentos de onda visíveis – e aos quais o telescópio Hubble é sensível. Mas nestas nuvens [esses detalhes] iluminam-se com os comprimentos de onda observados pelo telescópio James Webb”, acrescenta Thomas Williams.

Cerca de metade das galáxias em espiral têm uma estrutura recta, apelidada de barra, que se destaca no centro da galáxia para onde os braços da espiral convergem.

“O pensamento comum é que as galáxias se formam de dentro para fora e, portanto, ficam cada vez maiores ao longo da sua vida. Os braços da espiral actuam para varrer o gás que dará origem a estrelas e as barras actuam para canalizar esse gás em direcção ao buraco negro no centro da galáxia”, diz Thomas Williams.

Pela primeira vez, com estas imagens, os cientistas desvendaram com um elevado nível de detalhe a estrutura das nuvens de poeira e gás através das quais as estrelas e os planetas se formam.

“As imagens não apenas esteticamente impressionantes, também contam uma história sobre o ciclo de formação das estrelas e o feedback, ou seja, a energia libertada pelas jovens estrelas para o espaço entre estas estrelas”, refere Janice Lee, investigadora do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial, em Baltimore (Estados Unidos), e também envolvida neste estudo.

As observações são baseadas nas primeiras imagens captadas pelo telescópio Hubble. “Ao usar o telescópio Hubble, veríamos a luz das estrelas das galáxias, mas parte dessa luz seria bloqueada pela poeira”, nota Erik Rosolowsky, da Universidade de Alberta (Canadá). “Esta limitação tornou difícil descobrir alguns aspectos de como funciona uma galáxia enquanto sistema. Com a visão infravermelha do Webb, podemos ver para lá dessa poeira e espreitar as estrelas dentro da poeira que as envolve.”

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