Presidente da Guatemala toma posse após meses de incerteza

Apesar da demora (de quase dez horas), Bernardo Arévalo é já o novo Presidente da Guatemala. Demora deveu-se ao debate sobre a legitimidade do partido com o qual Arévalo venceu as eleições de 2023.

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Arévalo foi eleito em Agosto com o compromisso de combater a corrupção endémica na Guatemala David Toro/EPA
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O novo Presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo, tomou posse nesta segunda-feira após meses de incerteza e com quase dez horas de atraso, devido a tentativas de suspensão do partido que o apoia, por alegadas irregularidades.

O chefe de Estado do país centro-americano, de 65 anos, acabou por tomar posse pouco depois da meia-noite (7h em Portugal continental), sob aplausos do público, no Teatro Nacional da Guatemala, sucedendo ao conservador Alejandro Giammattei, que não esteve presente.

A tomada de posse de Arévalo, eleito em Agosto, deveria ter começado às 15h de domingo (21h em Portugal continental), mas a essa hora no hemiciclo ainda se debatia se os deputados do Movimento Semilla, partido com o qual o novo Presidente venceu as eleições, deviam ser inscritos como independentes. O Congresso acabou por revogar a suspensão do partido, com 93 dos 160 deputados a votarem a favor, permitindo aos 23 deputados do Semilla tomarem também posse.

O atraso, que se seguiu a meses de incerteza, levou centenas de apoiantes de Arévalo, que se tinham reunido na emblemática Plaza de la Constitución, na Cidade da Guatemala, a furarem o cordão policial, concentrando-se em torno do edifício do Congresso em protesto. A situação tinha criado receios de um possível “golpe de Estado", como o próprio Presidente eleito tem vindo a denunciar, acusando a procuradora-geral da Guatemala, Consuelo Porras, e “outros actores corruptos” de obstruírem a tomada de posse.

O Ministério Público e a procuradora-geral, incluída numa lista de figuras “corruptas” do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, conseguiram a suspensão provisória do partido do Presidente eleito por alegadas irregularidades no seu processo de criação, em 2017. O Ministério Público também tentou anular as eleições e retirar a imunidade a Arévalo e ao vice-Presidente eleito, manobras muito criticadas pelos Estados Unidos, União Europeia (UE), ONU e Organização dos Estados Americanos (OEA).

Arévalo foi eleito em Agosto com o compromisso de combater a corrupção endémica na Guatemala, classificado em 150.º lugar entre 180 países pela Transparência Internacional.

A tomada de posse contou com a presença dos Presidentes chileno, Gabriel Boric, e colombiano, Gustavo Petro, bem como do chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, do ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, e representantes dos Estados Unidos e do rei de Espanha, entre outros dirigentes estrangeiros.

Filho do reformista Juan José Arévalo, primeiro Presidente democraticamente eleito da Guatemala, em 1945, após décadas de ditadura, Arévalo sucede a Giammatei, criticado pelo apoio à procuradora-geral, e sob cujo mandato foram detidos ou forçados ao exílio vários procuradores que lutavam contra a corrupção.

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