Burberry ajusta as previsões financeiras para este ano, antecipando uma crise do luxo

Só no último ano as acções da marca britânica caíram 39%, mesmo depois do novo director criativo Daniel Lee ter acualizado a estética da etiqueta clássica.

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Uma loja da Burberry em Londres Reuters/PETER NICHOLLS
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Pela segunda vez em três meses, a marca britânica Burberry ajustou as suas perspectivas de lucro para o ano inteiro. O anúncio feito nesta sexta-feira surge na sequência de um novo abrandamento da procura global no segmento do luxo.

O aviso desfere um golpe no plano de recuperação anunciado anteriormente pelo CEO Jonathan Akeroyd, que tem tentado subir de gama sob a orientação do director criativo Daniel Lee — este, apresentou a sua primeira colecção na Semana da Moda de Londres, em Setembro do ano passado.

Tendo sofrido uma desaceleração nas vendas durante o principal período comercial de Dezembro, a Burberry espera agora que o lucro operacional ajustado para o ano inteiro se situe entre 410 milhões de libras (477 milhões de euros) e 460 milhões de libras (535 milhões de euros).

Em Novembro, o CEO tinha afirmado que o lucro operacional ajustado se aproximaria do limite inferior das previsões dos analistas na altura, de 552 milhões de libras a 668 milhões de libras (de 642 a 777 milhões de euros).

Os rivais da Burberry, os conglomerados franceses LVMH e Kering, também comunicaram uma menor procura de produtos de luxo nos principais mercados, incluindo os Estados Unidos, a Europa e a China, à medida que a onda pós-pandemia se desvanece.

Os conflitos no Médio Oriente acrescentaram incerteza geopolítica a um panorama da indústria do luxo já assombrado pela inflação, com os compradores nos EUA e na Europa a apertarem os cordões à bolsa, enquanto as expectativas de uma forte recuperação pós-pandemia na China foram anuladas por uma crise imobiliária.

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Burberry Primavera/Verão 2024 Reuters/HOLLIE ADAMS

A Burberry, cujas acções caíram 39% no último ano, informou que as receitas de retalho nas 13 semanas até 30 de Dezembro caíram 7%, para 706 milhões de libras (cerca de 821 milhões de euros), enquanto as vendas comparáveis nas lojas caíram 4%. Já na Ásia-Pacífico subiram 3%, mas desceram 5% na Europa e 15% no continente americano.

No Reino Unido, a marca também se tem queixado dos efeitos do Brexit e, no ano passado, chegou a propor uma solução para incentivar os consumidores estrangeiros. A ideia seria criar uma espécie de vales especiais para os clientes de luxo, de forma a compensar as taxas existentes.

A possível medida surge na sequência, com a saída da União Europeia (UE), o então ministro das Finanças, Rishi Sunak (agora primeiro-ministro), ter abolido a isenção de IVA nas compras dos estrangeiros no Reino Unido. O incentivo fiscal continua a vigorar nos países da UE, fazendo com que os turistas prefiram comprar bens de luxo noutras paragens, como Milão ou Paris.

Fundada em 1856, a Burberry é uma das marcas britânicas mais conhecidas pelo grande público. O seu padrão xadrez, usado em cachecóis ou gabardines, é amplamente reconhecido. Recentemente, Daniel Lee tem tentado descolar-se desse classicismo, para atrair consumidores mais jovens, mas sem perder a identidade. Por exemplo, na última colecção apostou em cores arrojadas como o amarelo ou o azul vibrante em silhuetas mais descontraídas. A próxima proposta é apresentada já no início de Fevereiro na Semana da Moda de Londres.

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